A inteligência artificial (IA) está a assumir papéis do panorama laboral que vão muito além da automação de tarefas. Agora, a sua influência estende-se a decisões críticas no seio das empresas, nomeadamente no despedimento de pessoal.
IA é a nova conselheira dos gestores
A forma como a IA irá transformar o futuro do trabalho começa a revelar os seus primeiros sinais. Longe de se limitar a auxiliar programadores ou a conduzir entrevistas de emprego sob a forma de chatbots, a IA está a assumir um papel central na gestão de equipas, mas de uma maneira que poucos anteciparam.
Um inquérito realizado pela plataforma de serviços de emprego Resume Builder a 1342 gestores nos EUA revelou uma tendência surpreendente: os gestores estão a perguntar à IA quem devem despedir.
Os dados são claros: 60% dos inquiridos afirmam confiar na IA para tomar decisões de recursos humanos. Mais especificamente, 78% delegam na IA a decisão sobre quem recebe aumentos salariais, 77% usam-na para determinar promoções e 66% consultam-na para decidir sobre despedimentos.
Tendo em conta as capacidades atuais dos modelos de linguagem, delegar a gestão de talentos em sistemas genéricos pode ser uma aposta arriscada. Ainda assim:
- 53% dos gestores admitem perguntar ao ChatGPT quem despedir ou promover;
- 29% recorrem ao Copilot;
- 16% deixam o destino dos seus colaboradores nas mãos do Gemini.
Como acontece em muitas outras áreas de implementação tecnológica, a adoção da IA na gestão de pessoas está a ocorrer sem a devida preparação. Cerca de dois terços dos gestores que utilizam IA para uma tarefa tão delicada como a gestão de equipas não receberam qualquer tipo de formação para o seu uso. Apenas 32% afirmam ter recebido a formação necessária sobre a utilização ética da IA neste contexto.
Para agravar a situação, aproximadamente 20% dos gestores confessam permitir que a IA tenha a palavra final nas decisões sobre despedimentos ou promoções, sem qualquer intervenção humana. Contudo, a grande maioria manifesta-se disposta a intervir caso discorde da recomendação fornecida pela tecnologia.
O risco da falta de empatia
Stacie Haller, conselheira profissional da Resume Builder, alerta que é perigoso depositar o peso de decisões tão importantes na IA sem a formação adequada.
Embora a IA possa fornecer informações baseadas em dados, carece de contexto, empatia e discernimento.
Assinalam os autores do estudo. O principal problema de modelos de IA generalistas como o ChatGPT é que estes são, por natureza, concebidos para agradar ao utilizador.
Esta característica significa que, por mais que os gestores procurem objetividade, a IA tenderá a ter em conta as suas preferências pessoais, reforçando o seu viés de confirmação, mesmo que a escolha final não seja a mais benéfica para a empresa. A máquina pode, inadvertidamente, validar preconceitos existentes em vez de os eliminar.
O inquérito revelou também que 46% dos gestores que utilizam IA foram incumbidos de avaliar se esta tecnologia poderia substituir uma função até então desempenhada por um colaborador. Desses, 57% concluíram que a automatização era viável e 43% procederam à substituição.
Apesar de alguns postos de trabalho poderem estar em risco, muitos gestores veem a IA como uma ferramenta de apoio extremamente útil. Quase todos os inquiridos (97%) utilizam modelos de IA para criar materiais de formação, 94% para elaborar planos de desenvolvimento para os colaboradores e 91% para desenhar parâmetros de avaliação de desempenho ou para criar estratégias de melhoria.
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