Não somos débeis mentais
As recentes declarações de Mark Rutte, secretário-geral da NATO, de que temos de aumentar substancialmente o gasto com a defesa, o que penalizaria fortemente o nosso Estado social, para não termos de aprender russo, não têm ponta por onde se lhe pegue. A ideia de que a Rússia, um país com um PIB semelhante ao da Itália e com as limitações militares que tem mostrado na Ucrânia, possa vir por aí adentro invadir a Europa até ao Terreiro do Paço é, no mínimo, risível. Qualquer político que ceda à exigência do secretário-geral da NATO, na realidade o chefe de vendas da indústria do armamento, das duas, uma, ou é um mentecapto ou é um vendido.
Ronald Silley, Canadá
O que vai fazer Zelensky?
Mais uma vez, os que se acham os donos do mundo vão decidir por cima dos povos. As supostas “negociações de paz” que Trump e Putin se preparam para iniciar são apenas e só negociações para a partilha da Ucrânia, para decidirem o que fica de recursos (minerais, agrícolas, etc.) para Trump e os seus amigos bilionários, e o que fica do lado oriental da Ucrânia para Putin, a saber: as minas do Donbass, que ele ambiciona há muito, como exportador de matérias-primas que é (ou seja, aquilo em que a Rússia se valorizou no mercado mundial, depois de a capacidade industrial do país ter sido entregue aos oligarcas).
Quanto à vontade do povo ucraniano, que desde a primeira hora da invasão, há três anos, se mobilizou para defender o país, e que foi factor essencial duma tenaz resistência de que Putin certamente não esperava, é posta no caixote do lixo dos interesses do negócio das novas (velhas?) superpotências. A soberania da Ucrânia, que não devia ser apenas política, mas essencialmente económica, para que os seus recursos fossem postos ao serviço do povo trabalhador (e não é ele que tem estado a lutar na linha de frente, mesmo nas piores condições?), vai mais uma vez ser sacrificada no altar das multinacionais e das diversas oligarquias, sejam elas do Leste ou do Ocidente. E o Governo de Zelensky, o que vai fazer nesta situação? Onde se vai posicionar – ao lado do seu povo ou da máfia Trump-Putin?
Ana Paula Amaral, Barreiro
Os putinistas, agora, votariam MAGA?
Englobo nos ditos os comunistas ortodoxos (passe a redundância), mas, sobretudo, os “neutrais”, também chamados ambíguos, que têm vindo a escrever – em jornais, blogues e redes sociais – desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia. Os primeiros não admiram, pois, mais do que ideológicos, são “comunistas geográficos”. Os segundos, na sua ambivalência eivada de muita dose “amibiana”, lá foram “descascando” nos EUA e, por arrastamento, em Trump. Mas – surpresa! – para ambos e, valha a verdade, também para nós democratas por inteiro, Trump ganhou a presidência da América. E iniciou imediatamente uma série de tropelias maléficas, sendo a última delas as ideias que expendeu sobre a Ucrânia em que Putin sobressai como vencedor/aliado. E os ortodoxos e os ambivalentes… calaram-se. O “sapo” está entalado no “esófago” de ambos. Mas lá passará em direcção à saída intestinal, pois haverá justificações para o digerirem, como sempre. No meu, o anuro nunca chegou a entrar e, como disse numa rede social e aqui repito, é assim: “Lá porque detesto Trump, não vou passar a gostar de Putin. Já me basta que os dois se amem mutuamente.”
Fernando Cardoso Rodrigues, Porto
A UE perdeu
A táctica e estratégia insistentes dos responsáveis da UE em colocarem a Ucrânia à frente dos 27 países-membros, como seria expectável, falharam totalmente. Todo o dinheiro que durante estes três anos a UE decidiu enviar para a guerra na Ucrânia foi perdido. As mais de oito visitas de Ursula von der Leyen a Kiev, em vez das capitais dos 27, foi uma opção descuidada e sem fundamento. O primeiro acto oficial de António Costa na UE foi um alvo errado e trocado. Não devia ter ido à Ucrânia dar apoio à guerra. Devia ter ido a Espanha apoiar o país face às inundações em Valência, ir a Portugal face aos fogos de finais do Verão, ir à Áustria para demonstrar que, mesmo tendo escolhido um governo de extrema-direita, é um país da UE. Kaja Kallas, a chefe da diplomacia da UE, devia ter defendido os 27 antes de o fazer com a Ucrânia. Numa penada, o Presidente Trump impôs a sua vontade, e Zelensky obedece. A UE perdeu. Esperemos que, a partir de agora, o chefe do Conselho Europeu, a chefe da diplomacia da UE, a chefe do Parlamento Europeu e a chefe da Comissão Europeia pensem na Europa a 27, e, se tiverem de virar as costas à NATO e aos EUA, tenham coragem e frontalidade para o fazer.
Augusto Küttner de Magalhães , Porto
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