Uma ilha remota, um bebé humano e um animal que o instrui nos caminhos da vida. Este que é o enredo de tantas obras de ficção ao longo de séculos e que alimentou a fantasia animista de adultos e crianças em filmes e desenhos animados, terá como obra pioneira um livro do século XII.
Como crescerá um menino na natureza, sem qualquer contacto com outros humanos? Como será esta existência sem linguagem e sem conceitos? Seremos humanos sem humanos à nossa volta?
Ibn Tufail (c. 1105 Ð 1185) foi um polímata árabe muçulmano andaluz, escritor, romancista, filósofo islâmico, teólogo islâmico, médico, astrónomo, vizir e oficial da corte. Como filósofo e romancista, é mais famoso por ter escrito o primeiro romance filosófico, Hayy ibn Yaqdhan, também conhecido como Philosophus Autodidactus no mundo ocidental. Como médico, foi um dos primeiros defensores da dissecação e da autópsia, o que foi expresso no seu romance.
Pictures From History/Universal Images Group via Getty Images
Neste episódio Rui Tavares faz-nos íntimos de mais um livro que, não sendo um clássico, é um tesouro– Vivo o filho do Acordado ou, na tradução em latim Philosophus Autodidactus, o Filósofo Autodidacta.
Escrito pelo filósofo Ibn Tufayl que viveu no século XII entre a Península Ibérica e o Norte de África, o Philosophus Autodidactus conta-nos a história de Hay, um bebé que aparecendo numa ilha desabitada de humanos, ali cresce acompanhado por uma gazela.
Através de Hay, Ibn Tufyal reflecte sobre a essência da humanidade, sobre o que nos torna humanos, o que, na natureza, nos distingue pela ascenção da consciência e do pensamento filosófico. Poderá uma criança que cresce na natureza, em comunhão com os animais, ser um sábio? Hay, esta criança nascida talvez por geração espontânea, tem algo para nos revelar.
Rui Tavares mergulha na história deste menino selvagem que, sem linguagem, encontra um propósito filosófico para a existência.
Ao longo da sua vida, Hay desenvolve diferentes estágios de consciência, progredindo do seu estado animal para um estado de reflexividade acerca dos mistérios da vida, do universo, da espiritualidade e do divino. A sua história parece descrever o próprio desenvolvimento da espécie e tem o seu corolário quando Hay acredita que encontrou o mistério da existência. Será no decorrer do encontro com Assal, um humano como ele, que lhe ensina a linguagem e a sabedoria dos livros, que Hay conhece a civilização. O que emerge desse encontro?
Um episódio que nos lembra da nossa natureza animal e da importância de crescermos num ecossistema complexo e sustentável, mas que aponta o que em nós é espiritual, o que, neste ecossistema, distingue a natureza humana.
Fotografia de Tiago Miranda, trabalho gráfico de Vera Tavares e Tiago Pereira Santos
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