A Europa está numa encruzilhada, onde os ideais de paz e cooperação enfrentam desafios cada vez mais complexos. A União Europeia, uma entidade construída sobre princípios de integração pacífica e prosperidade coletiva, está sob pressão para reavaliar as suas políticas de defesa e segurança. A tensão exacerbada pela agressão Russa à Ucrânia, e a recente “desproteção” dos Estados Unidos ao apoio militar à Ucrânia, veio intensificar a corrida aos armamentos dentro da Europa, como demonstra a recente medida de investimento no valor (inicial?) de 800 mil milhões de euros, anunciado por Von der Leyen. Veio ainda reativar a mentalidade da segurança baseada no poderio militar e do equilíbrio de poder através da dissuasão armada. Historicamente, a Guerra Fria exemplificou como a acumulação de armas, nomeadamente as nucleares, pode criar um estado de tensão permanente, sem garantir uma verdadeira segurança.
Para um europeísta convicto e pacifista, como me considero, esse foco renovado nos armamentos é muito preocupante. A lógica de segurança baseada na dissuasão pode inadvertidamente conduzir a escaladas de tensão, aumentando o risco de confrontos acidentais ou choques diretos. A Europa, rica em história de conflitos destrutivos (I Guerra Mundial: 17 milhões de mortes; II Guerra Mundial: 80 milhões de mortes, para além da devastação física e psicológica dos que sobreviveram), deve ter como imperativo liderar um caminho alternativo, focado na diplomacia, entendimento e construção de pontes de diálogo, e respeito pelo direito internacional.
A ascensão de partidos políticos extremistas, muitos dos quais adotam uma retórica nacionalista e, em alguns casos, belicista, acrescenta um outro nível de complexidade à situação atual. A clivagem social decorrente do apoio a esses grupos políticos pode enfraquecer a resistência europeia contra práticas autoritárias, facilitando um ambiente onde o discurso belicoso e a militarização encontram terreno fértil para se expandir. Esses partidos frequentemente desafiam o consenso em torno da integração europeia e promovem agendas isolacionistas e autoritárias que minam a cooperação internacional e os princípios democráticos. Com poder (político e militar) crescente, tais partidos têm o potencial de redirecionar políticas nacionais e comunitárias para uma postura mais confrontacional, aumentando as fricções internas e externas.
A combinação de militarização e política extremista pode criar um clima de tensão e agressividade na Europa, corroendo os valores centrais de unidade e cooperação que formam a base do projeto europeu. A erosão desses princípios pacifistas pode conduzir a divisões internas significativas, ameaçando a coesão da União Europeia. Esses fatores poderiam conduzir ao ressuscitar de uma Europa imperialista, que caracterizou uma parte significativa de sua história (que deixou legados complexos e, muitas vezes, dolorosos para muitas regiões do mundo) e, num cenário extremo, a um novo conflito em larga escala.
Numa Europa dominada por políticas extremistas, não é, de forma alguma, impossível a tentação de competir como uma terceira potência imperialista, o que trará certamente riscos significativos, tais como a exacerbação de tensões geopolíticas e a possibilidade de enfraquecer a coesão interna da UE. Num mundo já polarizado por disputas entre grandes potências, seguir um caminho imperialista poderia alienar parceiros potenciais e atrair hostilidades prejudiciais, traindo o espírito inicial da UE.
Qualquer pessoa alinhada com os valores europeístas e pacifistas não pode ficar indiferente ao custo humano da manutenção do conflito. O respeito pela vida humana deve ser considerado como uma conquista civilizacional que não pode ser revertida ou ignorada. A guerra entre a Rússia e a Ucrânia, além de redefinir a segurança geopolítica da Europa, representa uma tragédia humanitária de proporções devastadoras. O sacrifício trágico de mais de um milhão de baixas, civis e militares e milhões de incapacitados e deslocados demonstra a desumanidade dos conflitos armados. Cada uma dessas vidas perdidas é uma lembrança dolorosa do custo irrecuperável da guerra, que se manterá durante várias gerações.
Portanto, o compromisso com a paz não é apenas desejável, mas essencial, para evitar mais tragédia e construir uma Europa mais segura e humanitária. Apenas através da determinação coletiva em dar prioridade à diplomacia e ao diálogo sobre o conflito e a divisão, podemos aspirar a um legado de verdadeira paz duradoura. Somente através de um compromisso genuíno com soluções pacíficas, é que a Europa pode aspirar a um futuro de estabilidade e progresso sustentável para todos os seus cidadãos.
Diante desse cenário complexo, em vez da corrida apressada à militarização e armamento, fomente-se a diplomacia como a ferramenta mais poderosa e necessária. Promover o diálogo aberto com todas as partes envolvidas, buscar soluções multilaterais para conflitos e fortalecer instituições que facilitam a cooperação pacífica são passos cruciais. A diplomacia ativa pode ajudar a mitigar tensões, inibir atos de agressão e promover uma compreensão mútua que, por fim, contribuirá para uma Europa mais segura e integrada.
A manutenção da paz através de caminhos diplomáticos é um imperativo moral e inadiável para os europeus que acreditam num futuro sustentado, através da cooperação e entendimento, não por divisão e conflito. À medida que olhamos para o futuro, é imprescindível reforçar essas abordagens pacifistas, garantindo que a União Europeia continue a ser um farol de paz e esperança num mundo cada vez mais complexo e global.
As atuais lideranças europeias arriscam-se a deixar um legado empobrecido e cada vez mais perigoso para as gerações vindouras. Não têm o direito de hipotecar um futuro onde a paz duradoura e o respeito mútuo sejam as maiores forças unificadoras. Foi a sua leviandade e fraca qualidade das suas políticas que conduziram à atual progressiva degenerescência das democracias ocidentais, levando a que uma parte já muito significativa de jovens sejam já de potenciais apoiantes de partidos extremistas.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
#Paz #Segurança #olhar #europeísta #pacifista #sobre #corrida #aos #armamentos #Opinião