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2024 pode deixar marcas irreversíveis por milhares de anos: eis oito avisos | Clima

O relatório mais recente da Organização Mundial de Meteorologia (OMM), divulgado esta quarta-feira, oferece um alarmante retrato de 2024, com mudanças sem precedentes. Os cientistas destacam oito indicadores-chave – oito sinais vitais do planeta –​ e não há boas notícias. Se esta é uma tendência a longo prazo e sem retorno ou não, é cedo para dizer. Mas é certo que as “alterações climáticas induzidas pela acção humana atingiram novos patamares em 2024, sendo algumas das consequências irreversíveis ao longo de centenas, senão milhares de anos”.

Em 2024, o aumento da temperatura média anual registada da Terra ultrapassou, pela primeira vez, os 1,5 graus Celsius em relação à época pré-industrial. Apesar deste marco, os cientistas da OMM insistem que é cedo para afirmar que devemos desistir dessa meta. O clima na Terra, argumentaram numa conferência de imprensa sobre os dados agora divulgados​, é influenciado por inúmeros factores. Um ano recorde não significa, necessariamente, que o gráfico da temperatura média global vai continuar a subir descontroladamente nos próximos anos. Ou seja, mesmo com a certeza de termos sido confrontados com valores sem precedentes em 2024, os cientistas afirmam que precisam de mais dados para provar que estamos perante uma tendência de crescimento a longo prazo e sem retorno.

E, para já, recusam-se a enterrar a meta de 1,5°C, a primeira linha vermelha do Acordo de Paris. “O relatório afirma que o aquecimento global a longo prazo está actualmente estimado entre 1,34 e 1,41°C em comparação com a linha de base de 1850-1900, com base numa série de métodos – embora tenha assinalado as gamas de incerteza nas estatísticas da temperatura global”, refere a nota de imprensa sobre o relatório.





Mudança a longo prazo?

Tal como foi referido na conferência de imprensa por John Kennedy, cientista britânico que integra a OMM, há actualmente uma equipa de peritos internacionais da OMM que está a analisar esta questão de forma mais aprofundada, a fim de garantir um acompanhamento coerente e fiável das alterações da temperatura global a longo prazo, em consonância com o Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). “Não podemos ainda dizer que estamos perante uma mudança de regime. Ainda não temos esses dados e há muitas variáveis envolvidas”, disse o cientista, admitindo que existem vários possíveis “gatilhos” que estão a ser investigados neste work in progress.

Não há, contudo, qualquer hesitação dos autores do relatório da OMM para afirmar que 2024 foi um ano excepcional. “Este é o ano mais quente do registo observacional de 175 anos”, refere a nota de imprensa.

No que diz respeito à temperatura e ao recorde de calor, os principais contributos vieram das concentrações recorde de gases com efeito de estufa, combinadas com o fenómeno El Niño. Outros factores podem ter contribuído para os saltos de temperatura inesperadamente invulgares, de acordo com o relatório, incluindo alterações no ciclo solar, uma erupção vulcânica maciça e uma diminuição dos aerossóis de arrefecimento.

O relatório da OMM documenta a escalada dos impactos meteorológicos e climáticos nos últimos anos e, entre outras conclusões, constatam que os principais indicadores das alterações climáticas estão a atingir níveis recorde, mas sublinham que o aquecimento a longo prazo (na média de décadas) mantém-se abaixo de 1,5 graus Celsius, a fasquia do cenário ideal do Acordo de Paris.

Sem certezas sobre uma parte do futuro, os autores do relatório não têm dúvidas que alguns dos danos causados ao planeta serão irreversíveis “durante centenas ou mesmo milhares de anos”, como, por exemplo, a subida do nível do mar e o aquecimento dos oceanos.

Fugir à polémica, mas não aos factos

Fugindo à polémica ou deliberadamente focados apenas nos dados do relatório, os cientistas presentes na conferência de imprensa comentaram muito cautelosamente os danos que a política de Donald Trump pode causar na ciência do clima, sublinhando que “a colaboração” entre os cientistas de todo o mundo se mantém activa.

O director dos serviços climáticos da OMM, Chris Hewitt, preferiu valorizar a “importante e constante troca de dados e conhecimentos e o acesso garantido a múltiplas fontes de informação”. Já Omar Baddour, director do departamento de monitorização climática da OMM, também realçou o valor da troca de conhecimento “para benefício de todos”, acrescentando que é importante “trabalhar com todos os cientistas de todo o mundo”, garantindo o acesso a todos os dados de satélite, radares e outras ferramentas.

De resto, os cientistas não fugiram dos factos. A concentração atmosférica de dióxido de carbono, o principal dos gases com efeito de estufa que contribuem para o aquecimento global,​ está a atingir os níveis mais elevados dos últimos 800 mil anos.

Os recordes em terra também se vão acumulando: “globalmente, cada um dos últimos dez anos foi individualmente o mais quente de que há registo”, sublinham. “Os ciclones tropicais, as inundações, as secas e outros riscos em 2024 provocaram o maior número de novas deslocações registado nos últimos 16 anos, contribuíram para o agravamento das crises alimentares e causaram enormes perdas económicas”, refere ainda o relatório.

Mar e gelo

A oceanógrafa Karina von Schuckmann destacou, por seu lado, a preocupação com a evolução negativa nos pólos do planeta que perdem massa a um ritmo assustador elevando o nível das águas e a acidificação o aquecimento dos oceanos.





O relatório especifica que “cada um dos últimos oito anos estabeleceu um novo recorde” para o aquecimento das águas dos oceanos e que a taxa de subida do nível das águas “duplicou desde o início das medições por satélite”.

Sobre o gelo, o relatório nota que “18 extensões de gelo marinho no Árctico mais baixas de que há registo ocorreram todas nos últimos 18 anos” e “as três extensões de gelo antárctico mais baixas registadas ocorreram nos últimos três anos”. Mais: “a maior perda trienal de massa glaciar de que há registo ocorreu nos últimos três anos”.

“O que acontece nos pólos, não fica nos pólos”, constatou John Kennedy, explicando que a actual situação do Árctico e da Antárctica afecta a circulação dos oceanos em todo o mundo.

Não matar a esperança

“O nosso planeta está a emitir mais sinais de perigo – mas este relatório mostra que ainda é possível limitar o aumento da temperatura global a longo prazo a 1,5 graus Celsius. Os líderes têm de tomar medidas para que isso aconteça – aproveitando os benefícios das energias renováveis baratas e limpas para as suas populações e economias – com os novos planos nacionais para o clima que deverão ser apresentados este ano”, afirmou o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, citado na nota de imprensa.

Também determinada em não matar já a esperança sobre um futuro diferente e uma mudança de rumo, a Secretária-Geral da OMM, Celeste Saulo, insiste: “Embora um único ano com um aquecimento superior a 1,5°C não indique que os objectivos de temperatura a longo prazo do Acordo de Paris estejam fora de alcance, é um alerta para o facto de estarmos a aumentar os riscos para as nossas vidas, economias e para o planeta.”

O investimento em serviços meteorológicos, hídricos e climáticos é mais importante do que nunca para enfrentar os desafios e construir comunidades mais seguras e resistentes, sublinha ainda a secretária-geral da OMM, alinhando com os autores do relatório que também reforçam que os alertas precoces e os serviços climáticos “são vitais para proteger as comunidades e as economias”.

Em Novembro do ano passado, a OMM já tinha avançado com uma versão preliminar do relatório – mas já bastante esclarecedora do excepcional ano de 2024 – desta ​avaliação feita com dados vindos de 101 países, 70 especialistas e 42 instituições, que resulta de um conjunto de relatórios científicos da OMM.

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