Adolescência. Uma fase onde muita coisa nos dói e tantas outras nos encantam. É onde um “sim” pode ser o começo de um sonho e um “não” pode parecer o fim do mundo. É o tempo dos grandes amores e das amizades que prometemos durar para sempre. Mas também é onde podemos sentir mais a solidão, os silêncios pesados e traumas que, muitas vezes, só se revelaram anos depois.
Mas, se antes os medos e inseguranças ficavam guardados em diários fechados a sete chaves, hoje são expostos em stories, tweets e vídeos de poucos segundos. E, se visto por alguém com menos empatia, muito rapidamente é espalhado pelas redes sociais.
A série Adolescência traz essa visão de forma crua e realista. Mostra o que é crescer sob a pressão constante das redes sociais, onde um like define a auto-estima do dia e uma ausência de visualizações a rejeição. Há uma exposição permanente que transforma a adolescência, já naturalmente intensa, em comparações e ansiedades desmedidas. A questão da aceitação torna-se o foco dos adolescentes e, por vezes, adultos, na verdade. Nos dias de hoje, muita coisa é pública e, devido ao digital, muitas vezes eterno.
O bullying ganhou novas formas. Se antes ficava restrito às paredes da escola, agora pode atravessar continentes, invadir madrugadas e deixar cicatrizes invisíveis. O ódio vem disfarçado de comentários anónimos ou não, de memes cruéis que podem doer mais do que qualquer agressão física, tornando-se os mesmos em uma tortura psicológica incessante e, por vezes, acabar numa despedida sem volta.
E onde estão os pais? Muitos acreditam dar a atenção necessária aos filhos, não lhes deixando faltar com nada, outros tentam equilibrar a protecção e a liberdade, na tentativa de não serem invasivos. O que muitos não se apercebem e, que é mais importante, é que os jovens precisam de ser ouvidos, não apenas supervisionados. Precisam de diálogos sem julgamentos, de espaços onde possam procurar ajuda e perceber que, muito provavelmente, aquilo que sentem, não é o fim do mundo e que tudo se vai resolver.
Escutar, amparar, apoiar. Obviamente que muitas vezes é difícil de acompanhar todos os momentos devido ao pouco tempo que passamos com os nossos filhos e, durante o pouco que passamos, estamos cansados. Nós e eles. Mas como isso, infelizmente, não conseguimos alterar (maior parte das horas e dias são passados em trabalhos e escolas), temos de nos educar. Insistir no: ” Correu tudo bem hoje?”, “Estás bem?”, “Precisas de falar sobre alguma coisa connosco?” Permitir que haja abertura ao diálogo com segurança e confiança.
O que a série do momento, Adolescência, nos traz é claro: crescer nunca foi fácil, mas, hoje em dia, crescer exposto ao julgamento público, com expectativas irreais, é um desafio imenso. E é preciso perceber o que se pode fazer para tornar essa fase menos cruel.
A adolescência é um turbilhão de emoções e quando alguém olha para um jovem e diz” vai passar”, devia lembrar-se de que, para quem está a viver esse momento, não há qualquer garantia de que vai mesmo. Daí a importância do apoio, da atenção e presença dos pais. E não a invalidação dos sentimentos.
A série alerta mostra aos pais os perigos das redes sociais em demasia ou sem supervisão. Perigos que os filhos podem sofrer, ou mesmo causar a terceiros. Adolescência grita esse alerta com força. A questão é: quem está a ouvir?
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