Liberdade de imprensa
Liberdade implica responsabilidade. Na entrevista a Paulo Raimundo no Telejornal da RTP, na segunda-feira, José Rodrigues dos Santos conseguiu passar toda a entrevista a insistir num único tema: a posição do PCP sobre a guerra da Ucrânia. Pelos vistos, para os portugueses, os problemas relacionados com a saúde, a educação e a habitação estarão, na visão do dito jornalista, completamente resolvidos. Sejamos sérios e haja decoro. O direito do jornalista à livre formulação de perguntas implica também deveres. Nomeadamente, perceber que a insistência reiterada nas mesmas questões, por não ficar satisfeito com as respostas, não é mais do que uma provocação. Acrescento, por fim, que a entrevista ocorreu no quadro das próximas eleições legislativas e não no âmbito de um debate ou de um qualquer think tank dedicado exclusivamente a questões internacionais. Entrevistar não é o mesmo que desrespeitar.
Paulo Adelino Gonçalves, Casal de Martingil
A hipocrisia e cinismo do PCP
O vetusto Partido Comunista Português, que já é um minúsculo partido nos lugares que ocupa na Assembleia da República, alegou ter sido alvo de provocação na RTP durante uma entrevista conduzida pelo jornalista José Rodrigues dos Santos (J.R.S.) a Paulo Raimundo (P.R.) no Telejornal da noite. O “fascista” J.R.S., que também é um prolífico escritor com milhares de livros vendidos, não só em Portugal como no estrangeiro, bem tentou saber, nessa entrevista a P.R., qual a posição do PCP perante a bárbara invasão da Ucrânia pela Rússia do czar Putin e a razão por que este partido não aplaudiu uma delegação da Ucrânia que há dias esteve no nosso Parlamento. Perante as respostas, ou melhor, perante as evasivas, matreirice e desconversa do camarada P.R., que é incapaz de condenar a bárbara invasão da Rússia de Putin, o “fascista” J.R.S. “esqueceu-se” de questionar P.R. sobre aspectos das eleições legislativas que aí vêm e que era o objectivo principal da entrevista (não sei se era ou se não era). O “fascista” J.R.S. foi firme e bem tentou que o PCP se retratasse mas a hipocrisia e o cinismo falam mais alto. Uma pergunta inocente: será que o PCP – que não critica minimamente Putin – recebe alguma subvenção da Rússia? Perguntar não ofende quando existem dúvidas.
António Cândido Miguéis, Vila Real
Genocídio
Porque as Democracias, cara Ana Sá Lopes, por regra tolerantes e respeitadores dos direitos do Homem, gastam-se em mil desculpas para evitar conflitos e guerras que pelo seu cortejo de mortes são desnecessárias. Isto podia ser uma explicação vaga para responder à sua pergunta de anteontem neste jornal acerca da dimensão do conceito de genocídio.
Mas há outras razões mais próximas da verdade, enfim, mais preocupantes. É que a Europa, sobretudo a Europa, tem uma prática diplomática medrosa, próxima da cobardia, que dá azo aos prevaricadores e à exibição da sua arrogância, resguardada pela força das armas e pelos interesses dos poderosos. Vivemos um período negro e nauseabundo da nossa história. O abate sistemático, diário e impiedoso da população palestiniana, despida de tudo, envergonha-nos a todos e ficará nos registos da contemporaneidade como o pior e mais reprovável dos crimes até à data praticados.
José Manuel Pavão, Porto
A História e o culto da personalidade
Há dias, neste espaço do PÚBLICO aberto aos leitores, manifestaram-se opiniões diversas com referência à existência de um museu ou casa reportada a Oliveira Salazar. E, a tal respeito, um dos leitores recorreu também, como termo de comparação, ao que ocorreria com uma situação similar relativa a Estaline. Tanto o que se passou em Portugal no longo período em que teve como chefe do governo Salazar, como o que se passou na União Soviética nos tempos em que teve como dirigente máximo Estaline, exige que seja registado na História, e não só registado como estudado com todo o rigor, de acordo com critérios objectivos. Isto sob pena de deixarmos de fora períodos históricos relevantes. Mas é um facto que a História cientificamente analisada e narrada deve privilegiar a realidade dos factos, à luz de perspectivas histórico-económicas, sociológicas, geográficas e outras, e demarcar-se de visões individualistas ou cultuais da personalidade, que, não só inquinam a ciência como demenciam os povos. Dar o nome de Salazar, ou de Estaline, ou de qualquer outra personalidade, democrática ou não a um centro de estudos ou museu gera só por si o receio de que se enverede por uma errada perspectiva histórica, de cariz individualista, absolutamente inadequada.
António Reis, Vila do Conde
#Cartas #director #Opinião