Terá sido o mais internacional dos debates que decorreram até agora. Na SIC Notícias, Mariana Mortágua e Rui Tavares trocaram argumentos sobre os investimentos que a Europa precisa ou não em Defesa. Entre um empate e um “massacre” de Mortágua, os comentadores do Expresso acabam por dar uma vitória clara a Tavares. Média: Mariana Mortágua – 5,25; Rui Tavares – 7,5.
David Dinis
Mariana Mortágua 6 – Rui Tavares 7
A surpresa foi ver Rui Tavares a querer vincar diferenças face ao Bloco. No resto, civilizado, elevado, mas mais previsível, até na divergência evidente: Mariana mais cética face à UE e contra o rearmamento, ao passo que Tavares vinca o europeísmo e o alerta de que é preciso não desvalorizar a ameaça que paira sobre a Europa. Diz-me um amigo que Rui Tavares estava mais preparado. Não creio: parece-me que a líder do Bloco quis sim passar menos divergência e mais acordo, esperando que o povo de esquerda valorize isso. Pareceu-me que, sendo a divergência maior na política externa, o candidato do Livre teve terreno mais confortável — e talvez mais alinhado com o ar dos tempos. Ah! E os camaradas não se tratam por você, ou tratam Mariana? 🙂
Pedro Cordeiro
Mariana Mortágua 6 – Rui Tavares 8
Foi bom ver um debate começar pelo panorama internacional e a União Europeia e com Mariana Mortágua a proclamar um europeísmo que nem todos lhe terão alguma vez vislumbrado. O mundo mudou, diria alguém. Rui Tavares não perdeu a ocasião de relembrar muito euroceticismo bloquista, até de velhas glórias regressadas para as legislativas de maio. E se “casa, conforto e clima” recolheram o consenso de ambos, o porta-voz do Livre foi certeiro ao rejeitar “negacionismos” e ao recordar que “Putin não é uma gripezinha”. A coordenadora do BE martelou no armamento; Tavares esteve melhor, fazendo-se valer do seu profundo conhecimento da UE, NATO e mundo mais vasto.
Cá dentro, as diferenças são menores, como atesta a grande coincidência de votações parlamentares que os dois participantes celebraram. Economia e trabalho são pontos de encontro, e tanto um como outro abrem a porta a soluções de Governo à esquerda, Tavares com um caderno de encargos claro para o PS e com maior entusiasmo do que o BE, Mortágua deitando culpas para Pedro Nuno Santos por também admitir (lá está, noutro campeonato) necessários pactos de mínimos com o PSD para assegurar governabilidade depois da ida às urnas. Num debate elevado e sem manhas nem baixezas, o representante do Livre mostrou-se mais desenvolto do que a adversária.
Rita Ferreira
Mariana Mortágua 7 – Rui Tavares 7
Foi talvez o debate em que a política internacional teve mais espaço de discussão. Porque afinal há muito pouco a separar o Bloco de Esquerda do Livre e foi dessa diferença que se fez metade deste frente a frente.
E se Rui Tavares entrou ao ataque invocando o pensamento de dois ‘dinossauros’ bloquistas que agora regressam como candidatos – Fernando Rosas e a lágrima que não derramou pela União Europeia quando o Reino Unido saiu; Francisco Louçã, co-autor do livro “A Solução Novo Escudo” – Mariana Mortágua aguentou o embate e respondeu pegando na expressão que o porta-voz do Livre tinha usado no debate com Paulo Raimundo quando disse que Putin estava armado até aos dentes – “dizer que temos de gastar 800 mil milhões em armamento e com isso nos vamos endividar até aos dentes é um erro”.
Tavares insistiu, deixando no ar a ideia de que o Bloco é contra tudo, mas resolve pouco na Europa. “Temos de passar do contra ao como”, atirou. Mariana Mortágua, que não deixou a referência à lágrima de Rosas sem resposta – “eu própria derramei uma lágrima quando vi a UE a esmagar a Grécia” na altura da troika – argumentou que ser do contra era mostrar como fazer diferente: não usando mais dinheiro para armamento e investindo na ciência, na habitação e não diminuindo o investimento público…
Rui Tavares insistiu na necessidade de a Europa assumir mais despesa para a defesa e acha que há dinheiro disponível para não ter de ser feito um desinvestimento nas políticas sociais europeias.
A partir daqui, os dois líderes “com quem Montenegro não quer debater”, como começou por dizer Rui Tavares, arrancando um sorriso a Mariana Mortágua, falaram daquilo que os une: o combate à desigualdade salarial, ao fortalecimento da saúde pública e a forma de resolver a crise na habitação. Aqui, Mortágua foi mais direta nas medidas que o Bloco de Esquerda defende – como o teto máximo às rendas -, mas não chegou para desempatar o debate entre dois partidos que disputam praticamente o mesmo eleitorado.
Henrique Raposo
Mariana Mortágua 2 – Rui Tavares 8
Foi um massacre, lamento. Vimos um debate entre uma pessoa que pode ter uma cadeira num conselho de ministros, Rui Tavares, e alguém que continua sentada na reunião de alunos da FCSH ao lado da barraquinha do Hamas, Mortágua. E tudo começa com um momento de humor involuntário de Mortágua: “o BE sempre foi europeísta”. É mesmo para rir. O BE é tudo menos europeísta, nunca foi. Pode agora inventar um passado europeísta, porque a UE será ainda mais importante no novo contexto, Rússia agressiva, América imprevisível. Neste momento contexto, o anti europeísmo de PCP, BE e Chega é um enorme problema.
Rui Tavares começou o massacre precisamente porque não deixou passar e disse com todas as letras que a identidade europeísta do BE é risível: lembrou as declarações do BE aquando do Brexit (que não era preciso chorar); lembrou que Louçã sempre defendeu o Escudo; lembrou que a posição do BE sobre a Rússia de Putin faz lembrar um discurso de Miss Mundo. Pois, ninguém na Europa estava com vontade de gastar dinheiro em armas, mas isso tem de ser feito. Não podemos negar a realidade, uma especialidade do BE. Temos de gastar não só na modernização, mas também na interoperacionabilidade, que vai implicar muitos treinos em permanência entre forças dos diferentes países. Continuar a dizer que investir na defesa é “dar dinheiro à indústria da guerra” faz lembrar os negacionistas da covid que diziam que investir nas vacinas é só dar dinheiro às farmacêuticas.
Só falta a Tavares o mesmo que falta ao Rui Rocha: mais carisma, mais instinto matador. Ficou ali a um milímetro de criticar o “nacionalismo económico de certa esquerda” em tudo igual ao de Trump. Essa certa esquerda é o PCP e o BE. Já agora, um detalhe: mais debate e mais uma vez ninguém perguntou ao BE se gosta das políticas antiglobalização de Trump, que sempre foram defendidas por… BE e PCP.
Duas notas finais sobre a esquerda. Rui Tavares percebeu algo que não entra no moralismo do BE: a esquerda perdeu e está a perder porque deixou de falar de liberdade. Sobre a Grécia e a troika, que, segundo Mortágua, fazem parte da alegada identidade eurocética da esquerda: o Syriza tem 17%. A Grécia é hoje governada com sucesso por um governo de centro-direita. As últimas taxas de crescimento do PIB da Grécia: 8,7% em 2021, 5,7% 2em 022, 2,3% em 2023.
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