Com o objectivo de investigar as condições de vida em Marte, uma missão de cientistas espanholas descobriu uma forma inusitada de obter alimentos no espaço. Simulando as condições de vida no “planeta vermelho”, a Hypatia 2 constatou o potencial promissor do sangue menstrual como fertilizante para obter alimento a partir de rebentos verdes.
A Hypatia 2 foi a primeira missão simulada na qual as astronautas utilizaram copos menstruais, numa iniciativa que visa normalizar a ideia de que as mulheres podem viajar para o espaço sem interromper o ciclo menstrual e que, longe de ser um fardo devido à produção de lixo, não gera resíduos e pode ainda trazer benefícios para a produção de alimentos.
A tripulação ficou isolada durante duas semanas no mês de Fevereiro, com restrições de água e comida, na MDRS, localizada nos Estados Unidos. Durante esse período, as astronautas realizaram várias experiências e os resultados das investigações foram publicados nesta segunda-feira, 7 de Maio.
De acordo com a geóloga Marina Martínez, que participou no estudo, durante a missão foi utilizado o sangue de duas tripulantes como fertilizante natural para plantas. O projecto contou com a colaboração de investigadores do Hospital Sant Pau, em Barcelona.
“É surreal, mas até agora nenhum estudo científico se preocupou em provar que o sangue menstrual é de facto um fertilizante natural eficaz”, diz Martínez.
De acordo com os resultados preliminares de experiências conduzidas no canteiro de leguminosas previamente germinadas na estação, o canteiro fertilizado com uma solução de sangue menstrual misturada com água produziu um maior número de raízes e germinou mais rapidamente do que o não fertilizado.
Martínez destaca o quão valioso é ter rebentos verdes como alimento em missões espaciais, nas quais os astronautas se alimentam exclusivamente de comida desidratada.
Os efeitos no corpo feminino
Jennifer García Carrizo, que também integrou a tripulação, afirmou que a visão masculinizada da ciência levou, historicamente, as astronautas a suspenderem a menstruação com métodos hormonais para evitar o desperdício de produtos de higiene internos e externos não recicláveis.
Numa missão de uma semana em que participou a astronauta Sally Ride, por exemplo, a NASA (quase) enviou para o espaço cem tampões — um número astronómico para um período tão curto.
Outra área de investigação da missão – que também estudou o uso de energia fotovoltaica, entre outros temas – foi analisar se existe preconceito de género no impacto sobre o corpo das mulheres nestas condições de simulação de Marte.
Para isso, as integrantes da tripulação realizaram testes antropométricos antes e depois da estadia no Utah, com o objectivo de avaliar os efeitos da missão, que incluía restrições de mobilidade e alimentação – especialmente de proteínas – na composição corporal. Uma das conclusões preliminares é que mantiveram o peso e a força, mas perderam massa muscular.
Esta e outras investigações, disseram as cientistas, continuarão a ser desenvolvidas numa terceira missão Hypatia, planeada para 2027.
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