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Bayrou denuncia tentativa de “derrubar” o seu Governo com a “arma do escândalo” | França

O primeiro-ministro francês, François Bayrou, falou, esta quarta-feira, de uma vontade de “alguns” de “derrubar” o seu Governo com a “arma do escândalo”, durante uma comissão de inquérito da Assembleia Nacional pelas agressões físicas, psicológicas e sexuais que aconteceram no colégio de Notre-Dame-de-Bétharram, entre 1950 e 2010.

Acusado pela esquerda de mentir mesmo antes de proferir as primeiras palavras esta quarta-feira, o primeiro-ministro disse e repetiu que só soube das denúncias de violência através dos jornais. Alegando uma e outra vez que nada sabia sobre aquilo que descreveu como o “MeToo da infância”, disse que nunca “variou a sua versão” e acusa a comissão de inquérito de não ser “totalmente objectiva” ao usar as “informações enviesadas” da Mediapart, jornal de investigação francês, que fez questão de referir que nunca lê.

No centro da comissão de inquérito estão os relatos de violência na instituição católica de Bétharram, conhecida por ser extremamente severa, situada entre Lourdes e Pau (Bayrou, além de primeiro-ministro francês é autarca de Pau), nos Pirenéus Atlânticos. Os casos terão ocorrido entre 1950 e 2010; as primeiras denúncias chegaram nos anos 1990. Bayrou era, nessa época, ministro da Educação, cargo que ocupou entre 1993 e 1997.

Um grupo no Facebook, composto por antigos alunos, levou a que muitas vítimas apresentassem, finalmente, queixa no fim de 2023. No total, contam-se 200 vítimas, o que obrigou à abertura de um inquérito judiciário. Vários relatos chegaram a público depois disso, incluindo o da filha de Bayrou.

Hélène Perlant, actualmente professora, publicou um livro onde assume que foi vítima de violência física quando estudava em Bétharram, nos anos 1980, perpetrada por um padre que já morreu. “Agarrou-me pelos cabelos, arrastou-me pelo chão durante vários metros e deu-me pontapés por todo o corpo, especialmente na barriga”, contou numa entrevista ao Paris Match. Apesar de tudo, disse que não contou nada ao pai.

Formalmente, não há nenhuma acusação contra o primeiro-ministro. Bayrou era, no entanto, próximo da escola: os três filhos frequentaram o estabelecimento, onde a mulher dava aulas de catequese. Os directores eram amigos da família. No entanto, o actual primeiro-ministro diz que nunca tomou conhecimento de violência generalizada: havia “métodos um pouco rudes, claro”, mas não violência, disse à comissão de inquérito.

Bayrou era ministro da Educação quando as primeiras acusações emergiram, e há quem lhe aponte o dedo por não ter tido uma reacção à altura dos acontecimentos. Um caso de um espancamento, denunciado pelo pai de um aluno em 1995, motivou uma inspecção em 1996 (que o primeiro-ministro descreveu esta quarta-feira como “muito séria” ainda que “rápida”), que determinou que o caso era isolado.

Camille Latrubesse, uma das investigadoras, disse à comissão de inquérito que foi chamada numa quinta-feira para ter um relatório pronto na segunda seguinte e que se arrepende da forma como a investigação foi conduzida, por não ter olhado “para o que acontecia nos dormitórios ou nos locais de encontro dos alunos”.

“Fui ministro da Educação, fui deputado por este círculo eleitoral, nunca ouvi falar de actos de violência tão graves”, disse, sob juramento, à comissão de inquérito esta quarta-feira. “Ouvimos falar de bofetadas, houve algumas, mas nunca ouvi falar de violência grave ou sexual, foi apenas através da imprensa, em 1995 e 1997, que ouvi falar disso.”

Uma e outra vez, apresentou-se como vítima de uma campanha de difamação. “Nos últimos quatro meses [desde que assumiu o cargo de primeiro-ministro], tenho sido difamado diariamente”, alega.

Este é um momento sensível para o seu Governo minoritário, dependente de outros partidos para fazer aprovar medidas, refém das ameaças de moção de censura vindas de todos os campos políticos.

Mujtaba Rahman, investigador e director para a Europa do do Eurasia Group, escreve, num artigo no Politico publicado esta quarta-feira, que “uma performance pouco convincente” na comissão de inquérito iria “aumentar a pressão dos meios de comunicação e da oposição para que abandonasse o cargo”.

“De forma realista, é improvável que o escândalo, sozinho, faça Bayrou cair. No entanto, pode encorajar os seus inimigos parlamentares – ou os seus supostos amigos – a pôr em curso a sua queda”, argumenta o investigador. “Ainda que os eleitores franceses não tenham muita vontade de juntar uma crise doméstica às crises internacionais provocadas pela Administração norte-americana, o Governo de Bayrou continua a apenas um passo do colapso no futuro próximo.”

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