Casandra Ventura, de 38 anos, compareceu pelo quarto dia consecutivo ao Tribunal Federal do Distrito Sul de Nova Iorque, no qual Combs, de 55 anos, é réu acusado de tráfico sexual e de liderar uma rede ilegal de prostituição.

Cassie, que reconstruiu a sua vida e está grávida do seu terceiro filho, disse aos jurados que Combs — que está preso desde setembro — a violou, agrediu e obrigou a participar de festas sexuais degradantes e repletas de drogas, chamadas “freak-offs”, ao longo da sua relação, que durou mais de uma década.

Na reta final do seu depoimento, Cassie foi interrogada sobre um acordo de 20 milhões de dólares (quase 18 milhões de euros, na cotação atual) que recebeu de Combs num caso na Justiça civil, antes do início dos procedimentos penais.

Disse que também receberia 10 milhões de dólares (quase 9 milhões de euros) noutro acordo com o Hotel Intercontinental, onde Combs a agrediu num incidente em 2016, que foi captado em câmara e transmitido em audiência pública.

“Eu devolveria esse dinheiro se nunca tivesse tido de participar desses ‘freak-offs'”, disse entre lágrimas, e ressaltou que o tratamento de Combs a fez se sentir-se “inútil”.

A advogada de Combs, Anna Estevao, tentou prejudicar a credibilidade da cantora ao enfatizar a duração da relação e a sua decisão de permanecer com ele apesar dos supostos abusos, e destacando momentos em que ela havia agido de forma violenta.

“Vou matar-te”, diz a cantora numa gravação de áudio para um homem que, segundo ela, possuía um vídeo de um “freak-off”.

A advogada deu ênfase a trocas de mensagens de texto carinhosas e insinuou que a sua dependência de drogas teve papel-chave na ira de Combs.

Cassie insistiu que se sentia constantemente pressionada a participar nesse “freak-offs” com Combs, especialmente porque havia assinado com a sua editora.

“Estava preocupada com a minha segurança, com a minha carreira. Mas também estava apaixonada por ele, preocupava-me que ele não quisesse estar comigo” se eu não cumprisse as suas exigências, argumentou.

“Extremamente difícil”

O advogado de Cassie, Douglas Wigdor, leu uma declaração em nome da sua cliente ao final da audiência, depois de esta ter saído do tribunal visivelmente cansada.

“Esta semana foi extremamente difícil, mas também notavelmente empoderadora e curativa”, disse. Acrescentou que esperava que o seu testemunho ajudasse outros sobreviventes de abuso e pediu privacidade enquanto se prepara para dar à luz. “Fico feliz em deixar para trás este capítulo da minha vida”, frisou.

Numa declaração separada, também lida por Wigdor, o marido de Casandra, Alex Fine, exaltou “a força e a coragem” da sua mulher, com quem já tem duas filhas, e acrescentou que sentiu “uma raiva profunda” quando se sentou no tribunal “diante de uma pessoa que tentou destruí-la”.

Faltam várias semanas

Combs, de 55 anos, acumulou centenas de milhões de dólares na indústria da música, da moda, dos meios de comunicação e do álcool, e é frequentemente creditado por elevar a popularidade do hip hop.

Mas o produtor de rap e estrela mundial, outrora famoso pelas suas festas luxuosas, aparece visivelmente envelhecido depois de meses na prisão. Declarou-se inocente de todas as acusações, mas enfrenta a prisão perpétua se for considerado culpado.

A defesa sustenta que, embora a relação de Casandra com Combs fosse complicada e incluísse abusos, isso não equivale a tráfico sexual.

Os promotores começaram também a interrogar também Dawn Richard, uma cantora que alcançou a fama no reality show da MTV “Making the Band”, produzido por Combs.

Dawn apresentou uma ação civil anteriormente contra Combs, alegando agressão sexual e física. Nesta sexta, disse ao júri que foi testemunha da tentativa de Combs de agredir Cassie na cabeça com uma frigideira.

Os procedimentos do julgamento devem continuar nos próximos meses.