Antes dos 18 anos, já tinha sido rejeitado por seis clubes diferentes. Aos 26, Eberechi Eze tem uma carreira na Premier League, é internacional inglês e, no último sábado, marcou o golo que valeu ao Crystal Palace a conquista da Taça de Inglaterra numa final frente ao Manchester City. Agora, quem o quiser (e haverá bastantes) terá de pagar 70 milhões de euros. Quem ficar com ele, fique a saber que ele é, segundo escrevia o site The Analyst, um “número 10 gloriosamente talentoso” que está a “atingir o seu auge” e um “jogador para os grandes jogos”. Também joga xadrez – e não é nada mau.
Aquela tarde em Wembley foi histórica para o Palace, um clube que nunca tinha ganho nada ao mais alto nível do futebol inglês – duas finais perdidas na FA Cup em 1989 e 2015, 10.º lugar como melhor classificação de sempre na Premier League, zero historial europeu. Tudo mudou com esta vitória na mais antiga competição de clubes do mundo. Já tem um troféu, ganho às custas da crise prolongada da equipa de Guardiola, já tem garantida estreia europeia por via da Liga Europa em 2025-26 e é uma equipa em crescimento, liderada a partir do banco pelo austríaco Oliver Glasner e, em campo, pelo “gloriosamente talentoso” Eze.
Ele não apareceu agora. Esta já é a quinta época de Eze na Premier League, sempre no Crystal Palace, mas nem sempre em ascensão – já lá iremos. Antes, a história das seis rejeições que este rapaz dos subúrbios de Londres sofreu. Parte da sua formação foi feita a jogar “cage football” (uma espécie de futsal com tabelas), a outra parte foi a saltar de clube em clube e a ouvir não constantemente. Começou no Arsenal e tinha 13 anos quando lhe disseram pela primeira vez que não servia. Depois, mais dois anos e meio no Fulham e mais uma dispensa.
Seguiram-se experiências e rejeições no Reading e no Bristol City, mais dois anos no londrino Milwall e, na transição para sénior, disseram-lhe que não iria ter contrato profissional. Uma semana a treinar à experiência no Sunderland deu o mesmo resultado.
“Por favor, dêem-me um contrato, eu sei que sou capaz”, disse numa entrevista à BBC. “Depois, recebi a notícia, não tinha conseguido. Mas eu era sempre, ‘O que é que vem a seguir?’ Foi aí que apareceu o Queen’s Park Rangers (QPR).”
Eze recebeu a confiança que precisava. Na passagem para a maioridade, em 2016-17, teve direito a estreia na equipa principal, cresceu num empréstimo durante metade da época seguinte, antes de se afirmar em definitivo no QPR e ser chamado às selecções jovens de Inglaterra. A explosão aconteceu em 2019-20. Para o QPR, a época não foi nada de especial (13.º lugar na Championship), mas foi especial para Eze: 14 golos e oito assistências e eleito para o melhor “onze” da divisão. Foi premiado com uma transferência para a Premier League aos 22 anos, recrutado pelo Crystal Palace por 18 milhões de euros.
Depois, foi sempre a subir, com uma lesão grave pelo meio – rotura do tendão de Aquiles que o afastou dos relvados durante vários meses em 2021. Voltou impecável para a época seguinte, e começou a ser aposta regular de Gareth Southgate na selecção inglesa – esteve no Euro 2024 e Thomas Tuchel, o novo treinador, também acredita nele, chamando-o para os jogos da Liga das Nações e de apuramento para o Mundial 2026, tendo-se estreado a marcar num jogo contra a Letónia.
No Palace, esta está a ser a sua melhor época de sempre, 14 golos e 11 assistências, e veremos quem se chega à frente para ficar com ele – fala-se do Chelsea, do United e de um dos clubes que o rejeitou na adolescência, o Arsenal. “Não olho para nenhuma dessas equipas [que me rejeitou] e digo, ‘Oh, não me deviam ter deixado ir embora’. Foi uma decisão que fazia sentido para eles na altura. Agora, claramente que parece que cometeram um erro, mas, na altura, era claro para eles. Para ser honesto, não culpo ninguém. Foi uma viagem que me obrigou a crescer e melhorar”, contou na entrevista à BBC.
E o xadrez, onde é que entra nesta história? Cerca de duas semanas antes de marcar o golo que deu a conquista da FA Cup, Eze participou num torneio online de xadrez, o PogChamps, organizado pelo site chess.com, um torneio para celebridades, sobretudo streamers de Youtube e Twitch, e atletas. Não vamos avaliar as competências do futebolista no xadrez, ele que aprendeu a jogar com um antigo colega de equipa, Michael Olise (actualmente no Bayern), mas podemos dizer que, segundo a análise do The Athletic”, Eze tem um rating Elo que o coloca entre “acima da média entre todos os jogadores do chess.com, no top 15 por cento”. E facilmente despachou a tropa de streamers e desportistas que lhe apareceu pela frente, ganhando o torneio e um prémio de 20 mil libras.
A este troféu, claro, iria ganhar outro a seguir.
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