No dia do apagão na Península Ibérica, a Red Eléctrica, a entidade responsável pela gestão da rede de transporte de eletricidade em Espanha, tinha reduzido para metade a rede de proteção com que estava a operar

Segundo dados a que o diário espanhol El Mundo teve acesso, no dia do apagão estavam a funcionar menos de metade do número de centrais a gás e nucleares do que no dia anterior – de 20 no dia 27 para 10 no 28 – e ao nível mais baixo do mês.

A partir das 7h35 do dia 28 de abril, assim que o sol nasceu, as centrais começaram a desligar-se para dar lugar ao fotovoltaico.

Uma “ação imprudente” numa altura em que o Ministério da Transição Ecológica e Pedro Sánchez tentam apostar cada vez mais nas energias renováveis, escreve o jornal.

O chefe do governo espanhol teria, inclusive, previsto discursar nesse mesmo dia no evento “Invest in Spain” com 80 multinacionais, que acabou por ser adiado devido ao apagão. O El Mundo coloca a hipótese: “Estaria a preparar-se para anunciar um recorde oportuno em matéria de energias renováveis num evento de investidores tão importante?”

A presidente da Red Elétrica afirmou Beatriz Corredor defendeu que as centrais de ciclo ligado estavam a funcionar “abaixo do que é estabelecido pelas normas de controlo de tensão em vigor”, mas tudo indica que as centrais privadas foram desligadas sem que houvesse razões de tensão que o justificassem. Iberdrola, Endesa, Naturgy e outros operadores do setor já negaram este tipo de irregularidades.

Mil milhões de dados para analisar

Espanha está a analisar mais de mil milhões de dados para tentar determinar o que provocou o apagão que afetou Portugal e Espanha. Os geradores dispõem de dados sobre a atuação da Red Eléctrica e até há gravações das conversas dos técnicos que podem servir de prova.

As energias renováveis têm sido acusadas por vários partidos políticos espanhóis de serem responsáveis por um desequilíbrio entre a oferta e a procura de eletricidade, uma vez que o operador da rede não tem qualquer controlo sobre a quantidade de horas de sol ou a intensidade do vento.

No início do mês, o operador da rede elétrica de alta tensão francesa (RTE) afirmou não dispor de elementos que indiquem que as energias renováveis foram “a causa do apagão”.

A RTE admitiu que a energia eólica e solar, que cobria imediatamente antes do apagão cerca de 70% da produção elétrica espanhola, era “significativa, mas não inédita”, uma vez que “tais configurações” tinham já sido atingidas antes em 2024 e 2025.