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O Vindima da Passarella já está entre os melhores vinhos portugueses | Vinhos

Nascido na Casa da Passarella, no sopé da serra da Estrela e um paraíso de vinhas velhas muito bem cuidadas — vinhas, solo e envolvência, diga-se de passagem —, o Vindima é um tinto que não aspira só a ser o Barca Velha do Dão. Está, definitivamente, entre os melhores vinhos portugueses.

Pode ainda não ter o nome de outras referências lusas, mas é um grande, grande vinho. Feito pelo tempo, no sentido em que nasce das vinhas velhas, mas sobretudo porque nasce da relação de Paulo Nunes com o lugar. Há mais de 15 anos que Nunes encarna o projecto detido pelo empresário Ricardo Cabral, que, honra lhe seja feita, sempre deu ao enólogo liberdade para criar.

Este tinto maior tira partido do potencial das sete vinhas da Passarella e é feito das melhores uvas que o enólogo consegue levar ao lagar no dia de vindima. É uma decisão tomada no próprio dia, às vezes uma questão de “fé”, diz Paulo Nunes. Este o Casa da Passarella Vindima 2014 em concreto foi a cinco dessas parcelas: diferentes uvas das parcelas das Pedras Altas e Centenária Pai D’Aviz constituem a sua espinha dorsal e como, como “sal e pimenta”, foi buscar a Baga do Quintal, o Jaen da Pedra do Gato e Touriga Nacional das Dualhas.

Produtor e enólogo apresentaram há dias no hotel vínico Yeatman (Vila Nova de Gaia) aquela que é apenas a terceira edição do Vindima (depois de 2009 e 2011) e que, recordou Paulo Nunes, é fruto de “um ano extremamente desafiante”, mas que explica o que encontramos na garrafa. Um tinto fresco, que cheira ao pinhal, à caruma e aos bosquetes do Dão, mas também a cássis — espécie de assinatura aromática da Passarella —; tem um tanino aveludado, elegantíssimo, vivo; memorável.

Elegante e torneado, também é um tinto jovem, apesar de ter onze anos. Até na cor, é jovem. Só lhe notamos a idade nos taninos sedosos, marca indelével do Dão.

2014 teve muita, muita chuva em Fevereiro, temperaturas elevadas como não havia memória em Abril, águas mil em Julho — que fizeram com que houvesse reposição de recursos hídricos — e um Agosto fresquinho, um Setembro chuvoso e um Outubro que trouxe a onda de calor mais significativa observada até então desde 1941. Ou seja, uma verdadeira montanha-russa e muito stress, até chegar a hora de fazer da vinha vinho.

Mas este Vindima 2014 não nasce só do que a natureza deu. Tal e qual se apresenta hoje ao mercado, é fruto também de uma visão à frente do seu tempo (ou do tempo português, vá) e, literalmente, de muito trabalho. Estabilizado em tonel pelo inverno rigoroso da Serra (dois invernos), foi engarrafado pela primeira vez em 2016 e rearrolhado “sete ou oito anos depois”, num processo em que o enólogo provou, reatestou e voltou a arrolhar uma a uma as 4000 garrafas desta edição. “É duro, pior que uma vindima. São duas a três semanas”, partilhou. À excepção dos vinhos fortificados, quase ninguém, se não mesmo ninguém, se dará a tamanha trabalheira. Mas Paulo Nunes não alinha na conversa do “não há vinhos, há garrafas”. Não, um vinho deste nível e posicionamento (o PVP são 285 euros), não pode estar entregue ao acaso.

“É o vinho mais complexo que consegui fazer na Passarella até hoje.” Não provámos tudo, nem nada que se pareça, mas que é um vinho maior, é. Pela sua frescura, elegância e equilíbrio, ao mesmo tempo que oferece densidade e músculo. E pela tal trabalhadeira, no fundo, um compromisso com a excelência. Como dizia alguém à mesa, “é outro campeonato”. É.

P.S. Produtor e enólogo apresentaram na mesma ocasião os novos Villa Oliveira Encruzado 2022 e Villa Oliveira Uva-Cão 2021, brancos belíssimos em que a ideia de perfeição é angulosa e desafiadora (dos sentidos e de ideias feitas também). O primeiro entre o caroço de fruta de polpa branca e um lado vegetal fresco, com uma acidez pungente, volume e secura de boca, a mineralidade do Encruzado mesclada com notas de pastelaria, e secura, do início ao fim. O segundo (Edgardo Pacheco já aqui escreveu sobre este Uva Cão 2021) com uma acidez impossível, contudo possível (8,52 gramas por litro de acidez total; “é o mosto da partida ao estagiário”), com tanino e mais de boca do que de nariz, embora seja interessantíssimo do início ao fim da prova. Ambos muito bons.

Nome Villa Oliveira Encruzado Branco 2022

Produtor Casa da Passarella;

Castas Encruzado

Região Dão

Grau alcoólico 13%

Preço (euros) 51,90

Pontuação 95

Autor Ana Isabel Pereira

Notas de prova Um Encruzado em que o enólogo foi deliberadamente à procura do lado secundário e terciário da casta — que, já agora, não é suposto ter grandes aromas primários —, mas que continua a ter a mineralidade distintiva da variedade. Sentimo-lo ainda assim entre o cítrico e o caroço de fruto de polpa branca, com um lado vegetal marcante, notas de pastelaria amanteigada e o contributo elogioso do carvalho. Na boca, tem uma acidez pungente, corpo, volume de boca, untuosidade e, simultaneamente, uma secura que domina toda a prova. É um blend das melhores parcelas de Encruzado, que fermentou em cuba de cimento (Passarella é cuba de cimento), com a totalidade das borras e, no início, também com as películas; estagiou em barricas usadas de 600 litros; e foi engarrafado passado um ano depois da vindima. Um belo branco, que há-de envelhecer bem.

Nome Villa Oliveira Uva-Cão 2021

Produtor Casa da Passarella;

Castas Uva Cão

Região Dão

Grau alcoólico 13%

Preço (euros) 60

Pontuação 94

Autor Edgardo Pacheco

Notas de prova Quando a Casa da Passarella lançou pela primeira um branco desta casta rara do Dão (Uva Cão), Paulo Nunes optou por colocá-lo na chancela Fugitivo. Agora, a mais recente colheita da casa (2021) subiu a Villa Oliveira, que é a categoria premium da casa. E porquê? Porque, segundo o enólogo, a casta merece subir à primeira liga. A categoria Fugitivo, em seu entender, “é uma espécie de purgatório, onde o vinho está em expiação dos pecados. “Se se portar bem, é premiado, caso contrário ainda vai parar ao inferno”. A nós parece-nos uma boa decisão porque estamos perante um vinho raro, inusitado e — mais importante — tremendamente distinto pelo nível de acidez. Aromaticamente não é nada de espantar (até é contido com as notas cítricas), mas na boca é um caso muito sério (ideal para os maluquinhos pela acidez), razão pela qual será interessante prová-lo ao longo dos anos.

Nome Casa da Passarella Vindima 2014

Produtor Casa da Passarella;

Castas Baga, Touriga Nacional, Alvarelhão, Tinta Pinheira, Jaen, Alfrocheiro, Tinta Carvalha

Região Dão

Grau alcoólico 13,8%

Preço (euros) 285

Pontuação 97

Autor Ana Isabel Pereira

Notas de prova Um tinto fresco, que cheira ao pinhal e ao bosque do Dão, mas também a cássis — como outros tintos do produtor. Tanino aveludado, mas vivo. Nariz e boca de grande complexidade, num vinho memorável. Elegante e torneado, denso e musculado, apesar de ainda ser um jovem. Nasceu das uvas de cinco das sete vinhas da Casa da Passarella, da escolha de um só dia de vindima, e teve depois em adega os cuidados que merece um grande vinho: engarrafado pela primeira vez em 2016, foi rearrolhado pelo próprio enólogo (Paulo Nunes), garrafa a garrafa, “sete ou oito anos depois”.

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