Depois de um caminho feito em partes iguais de contestação e de milagres, Portugal ficou neste domingo com a sua segunda Liga das Nações, depois de 2019, ao triunfar em Munique sobre a Espanha nos penáltis, depois de um empate (2-2) em 120 minutos. Por duas vezes a “roja” esteve a ganhar e por duas vezes Nuno Mendes resgatou a selecção nacional, primeiro com um golo, depois com uma assistência para Ronaldo. E, depois de aguentar o embate com aquela que é considerada por muitos a melhor selecção do mundo, todos foram perfeitos na hora dos penáltis, todos os que marcaram e Diogo Costa, que defendeu o tiro de Morata.
Roberto Martínez quer ganhar os jogos pela estratégia, o que é perfeitamente natural para qualquer treinador de futebol. Na antecipação do jogo falou de “pontos fortes e pontos fracos” na selecção espanhola sem os identificar, mas a sugerir que sabia por onde atacar e o que teria de travar. Essa preocupação estratégica voltou a manifestar-se nas suas escolhas para a final: sem discussão as entradas de Vitinha e Francisco Conceição, instrumentais no jogo com a Alemanha, mas a manutenção de João Neves na ala direita? Neves é um tipo de jogador que vai a todas, mas a sua dispersão em múltiplas tarefas por múltiplas posições não o beneficia.
A selecção nacional até teve bons momentos nos primeiros minutos e uma aproximação muito perigosa logo aos 5’, na sequência de um canto em que Bruno Fernandes coloca a bola na área. Bernardo Silva amorteceu para João Neves e o médio rematou de primeira – a bola passou ao lado da baliza de Unai Simón. Mas essas boas sensações eclipsaram-se rapidamente. A Espanha instalou o seu jogo de posse e aceleração e Portugal encolheu-se.
Sem surpresa, as investidas mais perigosas da “roja” aconteceram pelo seu flanco esquerdo, onde Nico Williams deixou bem a descoberto o equívoco que foi ter João Neves para o tentar parar. Duas aproximações com muito perigo do extremo do Athletic Bilbau que quase deram golo – aos 15’ um passe atrasado para Pedri rematar ao lado, aos 17’ com o mais novo dos irmãos Williams a atirar ao lado.
Adivinhava-se o golo da “roja”. Aconteceu aos 21’. Oryazabal tirou Inácio da jogada com um toque de calcanhar, Zubimendi seguiu com a bola e deixou para Yamal. O jovem do “Barça” meteu na área, Rúben Dias tentou o corte, João Neves tentou completar o alívio, mas deixou a bola à mercê de Zubimendi para fazer o primeiro golo do jogo. Justo? Sem dúvida.
E de onde veio a resposta? Daquele que já tinha feito a diferença no jogo com a Alemanha, Nuno Mendes. Aos 26’, o lateral do PSG recebeu a bola de Neto e avançou sem medo para a área. Manobrou como quis entre os defesas espanhóis e, num remate cruzado, fez o empate, naquele que foi o seu primeiro golo pela selecção portuguesa – não só estava a limitar a influência de Yamal, como ainda tinha capacidade para ir ao ataque fazer estragos, e não seria a última vez.
A explosão de Nuno Mendes pareceu uma coisa fortuita no que o jogo estava a mostrar. E a Espanha, mesmo a fechar a primeira parte, encarregou-se de colocar alguma “normalidade” no jogo. Jogada simples a partir do meio-campo defensivo, com Pedri a fazer o último passe para a desmarcação de Oryazabal entre os centrais portugueses – o avançado da Real Sociedad, deu alguns passos e fez o 2-1.
Ao intervalo, Martínez como que concedeu que a experiência estratégica tinha voltado a não resultar – normalizou a equipa com a entrada de Nelson Semedo e Rúben Neves para as saídas de Chico e João Neves, com Bernardo a ocupar uma posição mais à direita.
As novas mudanças não estavam a resultar. A Espanha continuava na mais absoluta tranquilidade. E Nuno Mendes voltou a salvar a selecção portuguesa do pensamento estratégico do seu treinador. Aos 61’, voltou a acelerar pela esquerda, deixando Yamal pelo caminho e, à entrada da área, tentou o cruzamento rasteiro. A bola bateu num defesa espanhol, ganhou altura e, no meio da molhada, Cristiano Ronaldo fez aquilo que sabe fazer melhor do que ninguém, meteu a bola na baliza e o jogo, do nada, ficou empatado – primeiro golo de Ronaldo à quarta final que disputou com a selecção.
E não foi só no marcador que o jogo ficou equilibrado. O receio impôs-se à ousadia entre os vizinhos ibéricos e até ao fim dos 90 minutos aconteceram três coisas dignas de registo: defesa de Diogo Costa a remate de Isco; saída de Ronaldo para a entrada de Ramos; livre directo de Bruno Fernandes e defesa de Simón.
Foi preciso chegar à primeira parte do prolongamento para Portugal ter finalmente o ascendente. Nuno Mendes continuava como se estivesse no primeiro minuto e agora tinha a companhia de Rafael Leão para acelerar. O jogo português iria passar todo por ali e por pouco não deu golo, num remate a dois tempos de Semedo após cruzamento de Mendes – foi o que de mais interessante aconteceu nos 30 minutos do tempo extra. Isso e a saída aos 105’ de Yamal, sem grandes hipóteses para brilhar.
Nos penáltis, Portugal já não tinha o seu grande especialista – Ronaldo nem olhava para o campo no momento dos remates. Nos primeiros sete, ninguém falhou – Ramos, Vitinha, Bruno Fernandes e Nuno Mendes marcaram para Portugal, Merino, Bayena e Isco acertaram pela “roja”. Ao quarto penálti espanhol, avançou Morata para bater, mas Diogo Costa adivinhou o lado e defendeu. Na hora dos heróis, Rúben Neves não destoou: foi perfeito, como todos os outros que marcaram antes dele.
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