Gaza, um campo de extermínio à vista de todos
Já não há palavras para descrever o que se passa em Gaza. Tudo ali foi liquidado: o lar, a família, a escola, o hospital, o templo, a esperança, o futuro. Tendo considerado insuficiente para a liquidação de um povo o seu bombardeamento contínuo, o Governo de Israel pôs em prática um último recurso: a fome.
Para quem conhece Auschwitz, como eu, e as técnicas ali utilizadas pelos nazis, é impossível não lhe ocorrer ao pensamento um dos recursos a que aqueles metiam mãos para exterminarem os judeus (e não só): o “banho”. A fome de hoje é o “banho” de ontem; os criminosos pertencem à mesma estirpe. Só os alvos de extermínio diferem: os de ontem — judeus — execrados por europeus, os de hoje — palestinianos — execrados por sionistas israelitas e por europeus de consciência pesada.
Sei que muitos verão anti-semitismo no que aqui fica escrito e que consideram que Israel está a defender os “nossos valores” e a “nossa civilização”. Nada a fazer. Argumentar o contrário para quê? Também muitos, no passado, viram nos nazis os defensores dos nossos valores e da nossa civilização. O que me perturba é o extermínio de um povo. E, sim, sinto vergonha pelo que Israel está a fazer com a cumplicidade de países europeus, designadamente de Portugal.
Luís Pardal, Lisboa
De coração ou raça
Ser português não significa possuir características “raciais” específicas. Somos fruto de uma miscigenação enorme e não há portugueses “de gema”, fisicamente definidos, como noutras latitudes onde existe um tipo físico tradicional e se faz a distinção face a outros “cidadãos” que não o cumprem. Aliás, geneticamente falando, somos na “maioria” muito mais parecidos com os berberes das montanhas do Norte de África do com que os nórdicos!
Isto não significa que qualquer um dos 8 mil milhões de habitantes do planeta que aterrar por cá possa imediatamente ser considerado português, já que não há filtragem. Ser português haverá de implicar ter um mínimo conhecimento da cultura e história do país e identificar-se com a mesma. Haverá que o sentir e não há muitos países no mundo em que esse sentimento de pertencer a uma nação seja tão antigo como ele é em Portugal.
Ainda sobre a História de Portugal e identidade, no passado 10 de Junho, Ramalho Eanes foi condecorado com o grande colar da Ordem de Avis, uma grande honra e distinção. Na sua génese, esta ordem era militar e religiosa e combateu os muçulmanos na fundação de Portugal. Ainda ninguém se lembrou de pedir para a crismarem com outro nome, mais laico, inclusivo e menos “agressivo” face a outras religiões? E todos os que receberam a Ordem de Santiago sentem-se bem ao ver o seu nome associado ao santo “mata-mouros”?
A riqueza, e histórica temos muita, passa por não banalizar, saber procurá-la e entendê-la. Viva Portugal de coração sem raça.
Carlos J.F. Sampaio, Esposende
Mera propaganda ilusória do Governo
O programa do Governo estabeleceu como objectivo o aumento dos rendimentos de trabalho até ao fim da legislatura. Candidamente, anunciou que o salário mínimo deverá subir até aos 1100 euros em 2029. Mas o que representará o aumento do salário mínimo de 1100 euros no ano de 2029? Estamos no ano de 2025 e os bens de primeira necessidade, bem como outros bens, não param de subir. Quem vai às compras — como eu — sente isso nas suas bolsas. Até 2029 — decorrerão quatro, quatro anos, é bom frisar — quanto não subirão os bens de primeira necessidade e outros bens? Inevitavelmente, continuará a haver inflação, e os rendimentos dos trabalhadores, de uma maneira geral, não acompanharão a carestia de vida.
Assim, como afirmou Benjamin Franklin, “nada é mais certo neste mundo do que a morte e os impostos”, de outra forma direi que “nada é mais certo neste Portugal do que o aumento dos preços no início de todos os anos”, com a agravante de que os preços já não sobem somente no início do ano, mas, no tempo em que vivemos, sobem quase todos os meses. Por consequência, o Governo, provavelmente, julgará que está a ser justo e generoso.
Certo é que a vida está a complicar-se cada vez mais e os salários não acompanham a subida de todo o género de bens. Bem actual está a letra da canção de ritmo intenso do dominicano Juan Luís Guerra, El costo de la vida. É a verdade. Ouçamos música com temas adequados para escaparmos às misérias deste mundo e não nos fiemos demasiado nos políticos.
António Cândido Miguéis, Vila Real
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