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Cartas ao director | Opinião

A barbárie à solta

Onde moram a decência, o diálogo, a opção diplomática, o sentido da solidariedade, a compaixão para com os outros? Em 1562, Pieter Brueghel também o devia questionar dentro de si ao pintar um quadro famoso, o Triunfo da Morte (Museu do Prado), alegoria a um mundo em que os elementares valores do humanismo desaparecem sem remissão face à brutalidade sem freios.

Quase 500 anos volvidos, a verdade é que nada aprendemos! Vêem-se os mais baixos instintos à solta, sem merecerem a repulsa que se impunha. Bombardear por mero deleite milhares de pessoas em Gaza abandonadas à sua sorte? Levar o inferno a outras paragens, sem esgotar as vias diplomáticas, repetindo o horror (e o erro histórico) que foi a invasão do Iraque? Alimentar uma insana agenda política de expansão? Promover o assassinato selectivo? Impor a fome a povos inteiros? Romper as pontas ténues do diálogo para elevar as guerras aos mais altos cumes? Promover o ódio racial? Apoiar etnocídios e campanhas de extermínio? Travar a inclusão, a solidariedade, a convivência, que são valores cristãos comuns às outras religiões do Livro?

Mas quão baixo descemos! É a indiferença cúmplice que grassa em países ditos civilizados, tanto a nível dos governos, como da opinião pública.

Um advogado portuense defensor dos mais desgraçados, Fernando Mello Sequeira, personagem fictícia do romance de Antonio Tabucci A Cabeça Perdida de Damasceno Monteiro (Quetzal, 1997), sabia reflectir sobre o conceito de Grundnorm, álibi para a maior das ignomínias, espécie de cortina legal para todas as torturas, genocídios e atropelos contra os mais frágeis. Existe porém uma diferença ainda mais terrível: a legitimação que alguns fazem aos algozes de hoje não encontra o grito de indignação geral e, sim, uma desculpabilização cúmplice. Não é connosco? Até quando continuará a não ser?

Vítor Serrão, Santarém

Há rapazes maus

Lamento discordar do padre Américo (Monteiro de Aguiar), famoso por, no princípio dos anos 40 do século passado, ter instituído as Casas do Gaiato, dispersas um pouco pelo país colonial que éramos. Este benemérito, que o foi, à sua maneira, criou estas Casas para salvar da fome e conduzir alguns jovens de uma sociedade paupérrima e degradada para os caminhos do Bem. É-lhe atribuída a frase “Não há rapazes maus”, que deu título a um filme, realizado por Eduardo Garcia Maroto e estreado em 1948.

Ignoro se com a complacência do próprio padre Américo ou se, só após a sua morte, em 1956, a instituição caritativa praticava as teorias pedagógicas da época, não se fazendo rogar em aplicar castigos físicos que, décadas mais tarde, viriam a sobressaltar algumas consciências mais civilizadas e menos punitivas. Ao que parece, mesmo os dirigentes das Casas do Gaiato, de vez em quando, não se coibiam de ser “mauzinhos”, em nome do Bem que pretendiam alcançar.

Hoje, em Portugal (e não só), os “rapazes” fartam-se de contradizer o bondoso fundador da instituição. Com toda a desfaçatez, atropelam continuamente as regras mínimas da convivência humana, exibem de forma desbragada o ódio e a brutalidade, agridem quem não pensa como eles ou tem aparência diferente, e assumem-se “defensores da pátria”. Só nos faltava mesmo um Movimento Armilar Lusitano (MAL), que domina na perfeição as técnicas da impressão a 3D para produzir armas letais. Não sou da mesma “pátria” que eles.

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia

E os tribunais administrativos?

Quem tenha a veleidade de pretender obter uma decisão no âmbito do foro administrativo deve munir-se de uma paciência idêntica à de Job. Seja qual for o destino do pedido que ali dê entrada contra o Estado de decisões nomeadamente do âmbito da responsabilidade civil extra contratual conte, à partida, só ir ver a luz ao fundo do túnel daí a cinco, seis anos ou mais…

Este jornal, pela lúcida pena da jornalista Ana Henriques, descreveu a 11 de Junho existirem já problemas no CSTAF com as promoções de magistrados que não deviam ter ocorrido e com promoções de outros, os quais não reuniam condições para tal, gerando-se daí, e passe o plebeísmo, o nascimento da velha história do “mexilhão”…

O presente desabafo não envolve qualquer propósito de ofensa a quem trabalha e tem de decidir de forma profissional, perante as meritórias funções que lhes cabe em tais tribunais e, embora existam normas disciplinadoras da celeridade das respectivas tramitações e o Estado poder ter de responder civilmente pelos danos resultantes da culpa funcional dos serviços, certo é que é frustrante, ministro/a após ministro/a da Justiça, ninguém lançar um piedoso olhar pelas consequências do retardamento da efectivação da Justiça que dali se pretende seja feita. Quem nos acode?

Sílvio Bairrada, Elvas

#Cartas #director #Opinião

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