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Desde criança meu sonho era estudar no exterior. Viver uma experiência fora de meu país. Conhecer novos povos, novas culturas, enxergar de perto outros cantos do planeta através não apenas dos lugares que a gente vai, mas conhecendo pessoas, seres criados em diferentes ambientes que o meu.
Por isso, sem sombra de dúvidas, um dos momentos mais marcantes da minha vida foi quando recebi o telefonema da Lynette Clementson informando que eu seria um Knight Wallace Fellow na University of Michigan. Apliquei também para Harvard University e Stanford University. Com orgulho, fui aprovado nas três para as entrevistas finais. Michigan me acolheu. E jamais me esquecerei de cada esquina que conheci em Ann Arbor.
E fui lá que fiz amigos e guardo experiências que serão para uma vida inteira. Quando leio as notícias do que está acontecendo nas universidades americanas com alunos estrangeiros, o sentimento é de muita decepção e tristeza. Estudantes estrangeiros historicamente trazem inovação e empreendedorismo ao mundo acadêmico. O estudante que sai do seu país é um empreendedor por natureza. Corre o risco de sair do seu país para estudar e encarar o desconhecido.
Dados do jornal The Washington Post mostram que um quarto das start ups chamadas unicórnio (que valem mais de 1 bilhão de dólares, 6 bilhões de reais) tem pelo menos um estudante internacional como criador. Quem conhece a história sabe que, na semente do Facebook, tinha um brasileiro ali.
A administração Trump, em sua campanha antidiversidade, está deportando estudantes palestinos, banindo estudantes de Harvard. E, agora, a cruzada também é contra os alunos chineses. A China tem quase 300 mil jovens cursando universidades americanas. Só perde em número de alunos estrangeiros para a Índia, que tem a facilidade de já falarem inglês.
Em Ann Arbor, na época da matrícula, eram tantos chineses chegando que o banco local criava um setor só para abrir novas contas para eles. E era a maior fila na agência. Imagino agora o quanto devem estar apreensivos. Nesta guerra comercial entre essas duas nações tão poderosas, muitos perdem. E o jovem que deixou a China para cursar uma universidade americana agora é quem sofre.
Tenho saudades dos amigos que fiz. Através deles conheci mais sobre a China, a Índia, a Coreia, a Nigéria, o Vietnã, os Estados Unidos. Nunca pisei na China, mas o que sei de lá veio de fonte primária. Aquela que viveu e que sabe contar o que é o país. Que esses tempos difíceis passem logo. E que a democracia vença no fim. É isso que importa. Afinal, como já diz o logo do The Washington Post, “A Democracia morre na escuridão”.
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