Cães e gatos podem lamber os humanos para demonstrar empatia ou afecto – ou simplesmente para chamar a atenção. Para adultos saudáveis, o risco de contrair uma doença após ser lambido por um animal que recebe cuidados veterinários regulares é insignificante. No entanto, quando cães e gatos lambem pessoas com sistemas imunitários debilitados, podem ocorrer infecções graves. Eis o que deves saber sobre os motivos deste comportamento e quando deves ficar alerta, segundo a médica veterinária Jane Sykes.
Porque é que os cães e os gatos lambem as pessoas?
Lamber é um comportamento comum entre animais de estimação. Num estudo belga de 2020, 86 por cento dos donos relataram que os cães lhes lambiam as mãos – e 50 por cento afirmaram que também lhes lambiam o rosto. Num estudo realizado no Reino Unido, mais de metade das pessoas disse que os seus cães também lambiam visitantes.
Os animais lambem outros animais por diversas razões. As mães lambem as crias para as limpar e proteger (a saliva tem certas propriedades antibacterianas, o que também pode explicar porque lambem feridas). Os animais também se lambem mutuamente durante a chamada “higiene social”, um comportamento de vinculação particularmente comum nos gatos. Um cão pode lamber uma pessoa para demonstrar empatia. E – se tiverem oportunidade – os animais lambem com todo o cuidado a pele com vestígios de comida ou suor salgado.
Quando esse comportamento é reforçado por interacções sociais positivas (como festas e uma voz suave), lamber também pode ser uma forma de atrair atenção. A genética, outros factores ambientais e a idade também influenciam este comportamento – no estudo britânico, os cães mais jovens tinham maior tendência para lamber pessoas do que os mais velhos.
A saliva do meu animal contém micróbios?
Em resumo: sim. Apesar dos efeitos antibacterianos da saliva, a boca de um animal alberga bactérias prontas a infectar seres humanos sempre que entram em contacto com feridas abertas. Dentro desta “sopa bacteriana” há dois microrganismos de nomes difíceis e com uma capacidade especial para causar doenças graves em humanos: Capnocytophaga canimorsus (cap-no-sai-to-fá-ga cani-mor-sus), um bacilo longo em forma de bastonete; e Pasteurella multocida (pars-teu-rel-la mul-ti-sai-da), um micróbio oval minúsculo. Gostaria que tivessem nomes mais simples, mas não têm – por isso, chamá-los-ei apenas Capnocytophaga e Pasteurella (sabendo que existem outras espécies com estes nomes que não são relevantes para a saúde humana).
Se tens um cão ou um gato, provavelmente convives com estas bactérias – elas estão presentes na maioria dos animais saudáveis. A Capnocytophaga habita a boca de mais de 70 por cento dos cães e 55 por cento dos gatos, enquanto a Pasteurella é encontrada em mais de metade dos cães e mais de 70 por cento dos gatos.
Porque é que os médicos se preocupam com estas duas bactérias?
Embora raras, as infecções por Capnocytophaga são preocupantes, porque evoluem rapidamente e até um terço dos casos pode ser fatal. Em poucos dias após uma lambidela ou mordedura, a bactéria pode multiplicar-se no sangue e provocar falência de órgãos vitais. Estas infecções também são difíceis de diagnosticar, pois a Capnocytophaga cresce lentamente em laboratório. A forma mais grave da infecção – uma condição gangrenosa horrível chamada purpura fulminans – tem uma taxa de mortalidade de 60 por cento. Os sobreviventes enfrentam frequentemente a amputação de dedos, membros ou extremidades.
As infecções por Pasteurella são mais comuns, já que esta bactéria está frequentemente associada a feridas por mordedura (pensa nela como a “bactéria típica das mordidelas de gato”). Com menos frequência, infecções graves por Pasteurella podem seguir-se a lambidelas – especialmente em bebés ou pessoas que permitem que os animais lambam feridas abertas ou dispositivos médicos. Com o aumento do número de animais de estimação e os avanços na medicina humana, têm-se registado mais casos de infecções por Pasteurella em próteses de joelho e anca, sistemas de diálise peritoneal e dispositivos de acesso vascular de longa duração. “Temos observado infecções graves por Pasteurella causadas por gatos – sobretudo gatinhos – que mordem ou contaminam equipamento de diálise”, afirma Natascha Tuznik, médica de doenças infecciosas da Universidade da Califórnia-Davis. “Esses dispositivos devem ser mantidos fora do alcance dos animais.”
Com que frequência é que uma lambidela causa infecções graves?
Embora bactérias como a Pasteurella e a Capnocytophaga sejam muito comuns na saliva dos animais, é extremamente raro que alguém adoeça por ter sido lambido. Todos os anos, ocorrem milhões de infecções sanguíneas na América do Norte e na Europa, mas foram relatados menos de 600 casos de Capnocytophaga e apenas 20 casos de purpura fulminans. As infecções por lambidela tendem a ocorrer mais frequentemente em bebés, grávidas, pessoas com mais de 50 anos, ou em pessoas com condições como SIDA, cancro, alcoolismo, diabetes ou que tenham recebido transplantes de órgãos. Tuznik salienta que “pessoas sem baço funcional são particularmente vulneráveis a infecções por Capnocytophaga e devem evitar ser lambidas por animais.”
Como posso reduzir o risco de infecção ao ser lambido?
Lava a pele com água e sabão após seres lambido. Evita partilhar utensílios ou recipientes com o teu animal (acabaram-se os garfos partilhados!). Impede os animais de lamberem feridas abertas ou dispositivos médicos. E as pessoas de alto risco devem limitar o contacto a mimos – nada de lambidelas. Se tu (ou alguém de quem cuidas) tens o sistema imunitário enfraquecido e surgir algum sintoma, informa o teu médico sobre qualquer contacto com animais. Quando os médicos sabem que bactérias devem procurar, o tratamento é mais rápido, a recuperação é melhor e há menos complicações.
Tenho o sistema imunitário comprometido. Devo dar o meu animal?
Não! Lembra-te que ter um animal pode aliviar o fardo emocional muitas vezes associado a doenças crónicas. Mesmo que o teu animal te lamba, o risco de infecção é mínimo. Fala com o teu médico e com o veterinário sobre formas de reduzir o risco, com base na tua situação clínica ou fase de vida – sempre mantendo os teus cães e gatos por perto.
#Uma #veterinária #responde #porque #meu #cão #lambe #tanto #Saúde