A proporção de pessoas afectadas por incêndios florestais aumentou 16 vezes no interior e ao redor de áreas protegidas em vários pontos do mundo, do Sudoeste da Europa (onde se situa Portugal) até à Austrália, conclui um estudo publicado na revista científica Journal of Environmental Management, em que participaram investigadores da Universidade de Trás-os-Montes de Alto Douro (UTAD).
“Uma conclusão óbvia do estudo é que o alargamento das zonas florestais estritamente protegidas, onde a intervenção humana é muito limitada, pode ter consequências dramáticas nos incêndios, somando-se aos efeitos do abandono rural em curso”, afirma Paulo Fernandes, do Centro para Investigação e Tecnologia das Ciências Agro-ambientais e Biológicas (CITAB), citado pela agência Lusa.
“Estes resultados não põem em causa ou questionam o valor das áreas protegidas para conservar a biodiversidade, que tem sido o tema de vários estudos”, escreve a equipa, que inclui investigadores da Universidade de Lérida (Espanha) e do Centro de Investigação Conjunto da União Europeia. Mas fazem soar um alerta de que os actuais planos para proteger, a nível internacional, 30% da superfície terrestre e do meio aquático até 2030, bem como a Lei do Restauro da Natureza, da UE, têm de pôr o controlo de incêndios no centro das suas preocupações, salientam os cientistas.
Risco pode ser mitigado
A nível internacional, nas últimas duas décadas, analisadas pelo estudo (2001-2021), ouve um aumento considerável das áreas protegidas e, nomeadamente, das áreas onde a actividade humana foi severamente limitada. A equipa analisou 76.621 incêndios florestais com mais de 500 hectares que, durante este período, afectaram 14.892.174 hectares, incluindo 10.999 áreas protegidas em zonas de florestas temperadas e de tipo mediterrânico, em ecossistemas semelhantes na Califórnia, Chile, Austrália e União Europeia.
Os biomas de florestas temperadas estão a ser afectados por fogo de forma desproporcional, comparando com o crescimento das áreas protegidas, e a gravidade do incêndio aumentou 20%, nestes 20 anos de análises.
A população afectada aumentou 16 vezes neste período – mas, salientam os cientistas, a proporção total de pessoas que todos os anos são expostas a incêndios é de menos de 0,5%. “Como é esperado, uma vez que a densidade populacional é sempre reduzida perto destas zonas florestais protegidas, e os incêndios normalmente afectam apenas uma parte pequena do território”, escreve.
Diferenças em factores que se podem gerir, como a carga de combustível nas florestas, ou a densidade de estradas de acesso, são os principais factores. “O risco pode ser mitigado reduzindo a biomassa que resulta em combustível florestal”, sugerem os investigadores.
Repensar regras
Segundo as regras da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), as únicas actividades permitidas em áreas altamente protegidas são estudos científicos, extracção de espécies invasoras e, sob algumas circunstâncias, comunidades indígenas podem recolhem os recursos naturais para usos espirituais ou culturais, salienta o artigo. “Actividades que reduzem o risco de incêndio não são permitidas.”
O que a equipa coordenada por Paulo Fernandes recomenda é que o controlo dos riscos de incêndio deve ser um aspecto a considerar na criação e gestão de áreas protegidas, sobretudo em áreas sob protecção estrita.
“Uma gestão completamente passiva pode conduzir a consequências não intencionais de aumento de incêndios, o que pode levar a um resultado perverso da Lei do Restauro da UE”, lê-se no artigo.
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