A HISTÓRIA: O Primeiro-Ministro britânico Sam Clarke (Idris Elba) e o Presidente dos EUA Will Derringer (John Cena) têm uma rivalidade pouco amigável e pública que põe em risco a “relação especial” dos seus países. Mas quando se tornam alvo de um poderoso e implacável adversário estrangeiro, que se revela um adversário acima das forças de segurança dos dois líderes, são forçados a confiar um no outro. Aliando-se à brilhante agente do MI6, Noel Bisset (Priyanka Chopra Jonas), têm de fugir e encontrar uma forma de trabalhar em conjunto para impedir uma conspiração global que ameaça todo o mundo livre.
“Heads of State”: na Amazon Prime Video desde 2 de julho.
Crítica: Manuel São Bento
(Aprovado no Rotten Tomatoes. Membro de associações como OFCS, IFSC, OFTA. Veja mais no portfolio).
Desde que assisti à segunda obra de Ilya Naishuller, “Ninguém” (2021), protagonizada por Bob Odenkirk, que misturava ação visceral com um humor seco e estilizado, o nome do cineasta ficou na memória. Mesmo assim, confesso que a ideia pré-visualização de “Heads of State” era bastante pessimista. A premissa parecia exagerada até para os padrões atuais do cinema de ação, o tom parecia demasiado tonto e o elenco – embora repleto de talento – parecia estar preso num filme descartável, daqueles que se esquecem à saída da sala – neste caso, caseira.
“Heads of State” conta com Josh Appelbaum & André Nemec (“Missão: Impossível – Operação Fantasma”) e Harrison Query no argumento da história de um improvável duo de líderes mundiais: o Presidente dos Estados Unidos, Will Derringer, interpretado por John Cena (“O Esquadrão Suicida”), e o Primeiro-Ministro britânico, Sam Clarke, representado por Idris Elba (“A Besta”). Ambos forçados a colaborar numa missão internacional clandestina para impedir uma ameaça terrorista de proporções globais. Ao seu lado, Noel Blisset, a agente especial interpretada por Priyanka Chopra Jonas (“Citadel”).
Cena e Elba são a alma de um dos filmes mais surpreendentemente agradáveis e genuinamente engraçados do ano, demonstrando uma química explosiva que dá vida até aos diálogos mais banais. Derringer é um ex-ator de ação que chegou à presidência através da popularidade e da promessa de esperança, apesar da sua evidente futilidade e ego desmedido. Cena mergulha nesta ‘persona’ com absoluto empenho, brincando com a própria imagem pública de forma caricatural mas inesperadamente afetuosa. O seu Presidente é ridículo, sim, mas nunca cínico – existe nele um desejo genuíno de ser uma figura inspiradora para o povo, mesmo que o mundo o trate como uma piada ambulante.
Do outro lado da moeda, Clarke é uma figura rígida, honesta, pragmática, com um passado militar que moldou a sua ética de trabalho e a sua visão de mundo. Elba traz profundidade ao papel, mas também sabe adaptar-se ao tom cómico da narrativa, permitindo que o contraste entre os protagonistas funcione tanto a nível dramático como humorístico. Esta dicotomia – espetáculo e substância – é uma das dinâmicas mais interessantes de “Heads of State”. O Presidente procura ser o símbolo de esperança, enquanto o Primeiro-Ministro tenta resolver problemas sérios. Um quer inspirar, o outro quer agir. E, de alguma forma, esta tensão dá origem a uma amizade inesperada.
créditos: Amazon Prime Video
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Chopra é outra surpresa positiva. Noel não é meramente um acessório narrativo, mas sim uma presença ativa e essencial nas sequências de ação. A atriz executa longas coreografias de combate com impressionante destreza, trazendo credibilidade física e um carisma que contrabalança perfeitamente os protagonistas masculinos. Existem cenas em que domina completamente o ecrã e é justo reconhecer o seu esforço num género que tantas vezes subestima as personagens femininas.
Naishuller, como seria de esperar, volta a aplicar a sua assinatura visual com resultados altamente eficazes. As sequências de ação são criativas, dinâmicas e recheadas de humor físico que lembram por vezes a lógica caótica dos desenhos animados – mas com sangue e maior violência, claro. Uma sequência a bordo de um avião em queda é particularmente memorável, com planos de drone que envolvem os espectadores no caos, coreografias de luta entre duplos com enorme fluidez e um jogo de gato e rato com mísseis que faz lembrar “Top Gun: Maverick” (2022) – ainda que com menos rigor ou insanidade.
créditos: Amazon Prime Video
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Outro ponto a favor: a banda sonora de Steven Price (“A Noite Passada em Soho”). As escolhas musicais são inusitadas, mas funcionam lindamente tanto nas cenas de ação como nas de comédia. Há momentos em que a música transforma uma luta comum num espetáculo quase coreográfico e outros em que a própria canção serve de ‘punchline’. Em termos visuais, denota-se um uso inventivo da câmara que revela a vontade do realizador em experimentar: ângulos esquisitos, transições únicas e alguns cortes que quase desafiam as regras convencionais de continuidade. Pode não agradar a todos, mas é esse espírito anárquico que torna “Heads of State” mais envolvente do que seria de esperar para uma produção deste género.
Narrativamente, o filme não se afasta dos lugares-comuns dos ‘thrillers’ de espionagem internacional. O argumento é simples e cada vez que tenta ser sério ou transmitir uma mensagem mais profunda – como num discurso na cimeira da NATO – tropeça na sua própria pretensão. São nesses momentos em que “Heads of State” perde fôlego, pois esquece-se de que a sua força está na leveza, na paródia e no dinamismo, não na seriedade geopolítica. Felizmente, estas passagens são poucas e rapidamente somos trazidos de volta para cenas mais enérgicas e divertidas.
Tematicamente, “Heads of State” brinca ainda com a ideia de liderança moderna. Por um lado, questiona o papel do carisma na política e a forma como a imagem pública pode suplantar a competência. Por outro, reflete sobre a responsabilidade real de quem detém poder e como a ação concreta continua a ser o verdadeiro motor da mudança. Através do contraste entre Cena e Elba, existe a sugestão que, talvez, o ideal esteja num equilíbrio entre esperança simbólica e pragmatismo operacional – uma ideia mais complexa do que o tom ligeiro do filme inicialmente faz crer.
créditos: Amazon Prime Video
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Conclusão
“Heads of State” não reinventa a roda, nem tem qualquer aspiração de o fazer. É um filme de ação e comédia que sabe exatamente o que quer ser e, graças ao (des)empenho do elenco principal, à energia criativa de Ilya Naishuller e a um tom leve e divertido, consegue superar os limites do seu argumento banal. John Cena e Idris Elba formam uma dupla improvável mas absolutamente irresistível, Priyanka Chopra Jonas brilha como estrela de ação e a visão inventiva do cineasta oferece momentos de puro entretenimento. Pode ser esquecível a longo prazo, mas durante as suas quase duas horas, foi bem agradável. E, às vezes, isso é mais do que suficiente.
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