Enquanto no Parlamento se expõem com ódio nomes de crianças pela sua alegada origem estrangeira, um estudo divulgado a partir de Berlim revela que há menos jovens na Europa a acreditar que a democracia é o melhor sistema de governo, sobretudo entre aqueles que se situam à direita e se consideram economicamente desfavorecidos. “Não se pode achar que a democracia está garantida, precisa de democratas” avisou o investigador Thorsten Faas, responsável pelo estudo.
A viragem à direita é um fenomeno político escrito em maiusculas, integral e totalizante, uma vaga de fundo internacional capaz de virar ao contrário os valores que julgamos maioritários nas sociedades democráticas e de promover popularmente projetos autoritários e ultraconservadores. O potencial deste movimento de deslocação em Portugal é assustador, sobretudo porque arrasta consigo todos os revanchismos contra o que a direita sempre chamou “um país de esquerda” e abre a derradeira oportunidade para derrubar a relação de forças que até hoje protegeu o essencial da Constituição da República Portuguesa: os direitos, liberdades e garantias, a universalidade do acesso aos serviços públicos essenciais e a Segurança Social.
Não há dúvida de que, neste cenário, o desmantelamento dos aspetos democráticos fundamentais da República é uma possibilidade. Mas o campo democrático e progressista não deve olhar para a força centrífuga das direitas sobre a democracia como inevitabilidade, uma guerra perdida. Ainda há tempo para a resistência democrática e para defender a Constituição. Ainda há batalhas por travar e uma delas é a escolha do próximo Presidente da República.
Não perderei muito tempo neste artigo com Gouveia e Melo, embora ache que é o candidato que merece maior escrutínio. Não lhe conheço convicções políticas nem pensamento próprio sobre uma ideia de país, além da necessidade de nos armarmos para a guerra. Concedam-me o direito à desconfiança perante um homem que começou por afirmar-se de “centro-esquerda” e acabou lançado às presidenciais num projeto de direita populista e que, perguntado sobre em quem votou nas últimas décadas, respondeu apenas que acertou sempre em quem ganhou. Só pode ser, de facto, um português com qualidades únicas, nunca conheci outro com tamanha ventura política.
A questão coloca-se, portanto, em saber com que perfil de candidatura presidencial é que a esquerda vai enfrentar este almirante que só sabe ir com as marés. Defendo há muito tempo que a aposta deve ser na convergência ampla em defesa do Estado social e das liberdades constitucionais, sem abdicar de posições corajosas sobre as ameaças ao direito internacional e à paz. Tal candidatura, a surgir, poderia mobilizar também voto ao centro e assumir-se como a alternativa democrática na segunda volta das presidenciais.
É evidente que António José Seguro não representa essa candidatura. Mas no campo da esquerda existem vários nomes viáveis, cuja coerência política nestes tempos conturbados serviria de contrapeso a eventuais divergências menores, funcionando como âncora do campo da resistência democrática e constitucional. Temos o dever de encontrar essa candidatura.
Quanto a António Filipe, tenho estima pelo nome indicado pelo PCP, com quem me cruzei durante vários anos no Parlamento. Não creio, no entanto, que o Partido Comunista Português tenha considerado o critério da ampla convergência à esquerda ao lançar o seu candidato. Todos conseguimos avaliar as limitações desse facto político e é saudável afirmá-lo sem dramatismos, é uma escolha partidária e deve ser respeitada.
Ainda estamos no tempo das decisões individuais. Quando esse tempo passar, espero que em breve, gostaria de apoiar um candidato que seja claramente a favor do reconhecimento da Palestina, onde hoje se traçam limites da humanidade, e que possa levar a resistência democrática e a defesa dos direitos constitucionais à segunda volta das presidenciais. António Sampaio da Nóvoa cumpre estes critérios e, se avançar, terá o meu apoio. Faço das suas palavras manifesto: “não necessitamos de quem ponha o país na ordem. Precisamos de educação, de conhecimento, de ciência, de cultura, de pessoas despertas, curiosas e atentas. Não, não precisamos de guerra, nem de espíritos bélicos, precisamos de diplomacia e de paz, porque procurar a paz não é uma escolha ou uma opção, é um dever, uma responsabilidade coletiva”.
Enquanto no Parlamento se expõem com ódio nomes de crianças pela sua alegada origem estrangeira, um estudo divulgado a partir de Berlim revela que há menos jovens na Europa a acreditar que a democracia é o melhor sistema de governo, sobretudo entre aqueles que se situam à direita e se consideram economicamente desfavorecidos. “Não se pode achar que a democracia está garantida, precisa de democratas” avisou o investigador Thorsten Faas, responsável pelo estudo.
A viragem à direita é um fenomeno político escrito em maiusculas, integral e totalizante, uma vaga de fundo internacional capaz de virar ao contrário os valores que julgamos maioritários nas sociedades democráticas e de promover popularmente projetos autoritários e ultraconservadores. O potencial deste movimento de deslocação em Portugal é assustador, sobretudo porque arrasta consigo todos os revanchismos contra o que a direita sempre chamou “um país de esquerda” e abre a derradeira oportunidade para derrubar a relação de forças que até hoje protegeu o essencial da Constituição da República Portuguesa: os direitos, liberdades e garantias, a universalidade do acesso aos serviços públicos essenciais e a Segurança Social.
Não há dúvida de que, neste cenário, o desmantelamento dos aspetos democráticos fundamentais da República é uma possibilidade. Mas o campo democrático e progressista não deve olhar para a força centrífuga das direitas sobre a democracia como inevitabilidade, uma guerra perdida. Ainda há tempo para a resistência democrática e para defender a Constituição. Ainda há batalhas por travar e uma delas é a escolha do próximo Presidente da República.
Não perderei muito tempo neste artigo com Gouveia e Melo, embora ache que é o candidato que merece maior escrutínio. Não lhe conheço convicções políticas nem pensamento próprio sobre uma ideia de país, além da necessidade de nos armarmos para a guerra. Concedam-me o direito à desconfiança perante um homem que começou por afirmar-se de “centro-esquerda” e acabou lançado às presidenciais num projeto de direita populista e que, perguntado sobre em quem votou nas últimas décadas, respondeu apenas que acertou sempre em quem ganhou. Só pode ser, de facto, um português com qualidades únicas, nunca conheci outro com tamanha ventura política.
A questão coloca-se, portanto, em saber com que perfil de candidatura presidencial é que a esquerda vai enfrentar este almirante que só sabe ir com as marés. Defendo há muito tempo que a aposta deve ser na convergência ampla em defesa do Estado social e das liberdades constitucionais, sem abdicar de posições corajosas sobre as ameaças ao direito internacional e à paz. Tal candidatura, a surgir, poderia mobilizar também voto ao centro e assumir-se como a alternativa democrática na segunda volta das presidenciais.
É evidente que António José Seguro não representa essa candidatura. Mas no campo da esquerda existem vários nomes viáveis, cuja coerência política nestes tempos conturbados serviria de contrapeso a eventuais divergências menores, funcionando como âncora do campo da resistência democrática e constitucional. Temos o dever de encontrar essa candidatura.
Quanto a António Filipe, tenho estima pelo nome indicado pelo PCP, com quem me cruzei durante vários anos no Parlamento. Não creio, no entanto, que o Partido Comunista Português tenha considerado o critério da ampla convergência à esquerda ao lançar o seu candidato. Todos conseguimos avaliar as limitações desse facto político e é saudável afirmá-lo sem dramatismos, é uma escolha partidária e deve ser respeitada.
Ainda estamos no tempo das decisões individuais. Quando esse tempo passar, espero que em breve, gostaria de apoiar um candidato que seja claramente a favor do reconhecimento da Palestina, onde hoje se traçam limites da humanidade, e que possa levar a resistência democrática e a defesa dos direitos constitucionais à segunda volta das presidenciais. António Sampaio da Nóvoa cumpre estes critérios e, se avançar, terá o meu apoio. Faço das suas palavras manifesto: “não necessitamos de quem ponha o país na ordem. Precisamos de educação, de conhecimento, de ciência, de cultura, de pessoas despertas, curiosas e atentas. Não, não precisamos de guerra, nem de espíritos bélicos, precisamos de diplomacia e de paz, porque procurar a paz não é uma escolha ou uma opção, é um dever, uma responsabilidade coletiva”.
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