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Anitta e a “estreia” da cara nova | Megafone

No espaço de apenas uma semana, Anitta e Emma Stone foram protagonistas de incontáveis artigos de revistas e vídeos no TikTok por estrearam novas caras. Não roupa, não acessórios – caras. Enquanto Anitta, de 32 anos, optou por uma intervenção que adaptou o seu rosto ao seu filtro favorito nas redes sociais (das quais era ávida utilizadora e de onde desapareceu durante dois meses), especula-se que Emma tenha realizado um facelift aos 36.

Estas transformações não são, por si, surpreendentes ou chocantes. Surgem num momento em que realizar procedimentos estéticos e cirurgia cosmética é cada vez mais comum e banal, alimentando uma indústria que a nível global deve alcançar os 185,67 mil milhões de dólares no final deste ano, e os 419,97 mil milhões em 2033, num crescimento previsto de cerca de 7% ao ano, segundo a Straits Research.

Estas mudanças tão-pouco ocorrem do dia para a noite. Antes de alguém recorrer à alteração mais ou menos radical das suas características físicas, já muitos terão sido os anos em que se compraram séruns, tónicos, cremes, e óleos que prometem milagres. Não é por acaso que o mercado mundial da beleza já soma 450 mil milhões de dólares, fruto de um crescimento anual de 7% desde 2022, de acordo com o relatório “The State of Fashion” realizado pela Bussiness of Fashion e pela McKinsey & Company.

Numa sociedade capitalista dominada por ecrãs, o corpo – especialmente o feminino, que continua a ser subjugado a regras díspares após milénios sob estruturas patriarcais – tornou-se mais um produto.

Quando não estamos a fazer scroll nas redes sociais, estamos a ver um filme ou uma série. Os padrões estéticos são, assim, influenciados por celebridades e criadoras de conteúdo que lucram da sua imagem, recebendo produtos, patrocinando marcas e estabelecimentos de estética, e por atrizes cujo sucesso é em grande medida determinado pela sua aparência e jovialidade, numa indústria onde ter 40 anos e parecer ter os 40 é motivo de castigo e exclusão – uma situação que piora quanto mais anos se somam.

Esbatem-se assim as diferenças entre os rostos e os corpos no espaço público, um fenómeno que encontra o seu expoente na “Instagram Face”. Em paralelo, agudiza-se a crise de saúde mental, especialmente dos mais jovens, que passam mais tempo online e procuram um ideal de beleza impossível de alcançar, ora porque está em constante mutação, ora porque se critica tanto quem fez intervenções como quem optou por não tocar no rosto e possui rugas de expressão. A Geração Z é uma das mais fustigadas por esta realidade, pese embora seja composta por indivíduos com, no máximo, 28 anos.

Em certa medida, estamos a aproximar-nos de um cenário comparável às “Reservas de Selvagens” descritas por Aldous Auxley em Admirável Mundo Novo. Numa sociedade futurista organizada em castas e controlada pela ciência e pela tecnologia, o que provoca horror e espanto a quem foi nela condicionado e nela habita são as rugas, as bocas chupadas, as bochechas descaídas e as manchas que espelham a jornada das pessoas que vivem no seu estado natural, “selvagens” fora do domínio do Estado Mundial. Porque este tudo domina, inclusive o processo de envelhecimento dos cidadãos, o qual é manipulado artificialmente por métodos que preservam o corpo de doenças, conservam a juventude e mantêm o metabolismo estimulado permanentemente até ao fim de vida. No papel, este pormenor pode parecer idílico, mas custa a liberdade em nome da “Comunidade, Identidade, Estabilidade”.

“Como se vivêssemos em planetas diferentes, em séculos diferentes” é a realização do protagonista da obra, mas podia também ser a de quem observa as desigualdades do mundo atual. Apesar de cada vez mais comuns, os procedimentos estéticos não são acessíveis a todos, deixando à margem grande parte da população, sobretudo as camadas mais desfavorecidas. Cria-se, assim, mais uma forma de distinção entre estratos sociais e entre países. Quanto faltará até que a distopia se materialize, até que o processo de envelhecimento natural seja a exceção? É este o futuro que queremos?

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