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E se, para além dos cuidados clínicos convencionais, os médicos prescrevessem aulas de dança e idas a museus? Você já ouviu falar em prescrição cultural? A prescrição cultural tem sido reconhecida como uma forma de promover conexões entre pessoas e estimular o senso de pertencimento e de comunidade. Por ser um tipo de intervenção voltada para a melhoria do bem-estar psicossocial, proporciona benefícios sociais e psicológicos.
Por definição, a prescrição cultural é a prática de recomendação de atividades culturais e artísticas por parte de profissionais de saúde, visando à promoção da saúde social, emocional e mental dos pacientes. Essa prática respalda-se em evidências científicas sobre os benefícios das atividades artísticas para a promoção da saúde e do bem-estar, sejam elas de natureza observacional, como ir a um concerto, museu ou cinema, ou de caráter mais prático, como oficinas e workshops de cerâmica, dança, escrita e outras expressões artísticas.
As intervenções geralmente possuem recorrência semanal e variam entre seis e 12 semanas, a depender do número de sessões por semana, sendo recomendável em torno de 12 sessões para um ciclo completo de intervenções. Apesar disso, compreende-se que a reconexão com a comunidade e a recuperação em saúde precisam e devem ser abordadas com uma visão de longo prazo.
Como esse tipo de intervenção em promoção de saúde aborda os determinantes sociais de saúde (DSS), para além do impacto positivo sobre o indivíduo, ocorre também o impacto positivo na sociedade e na comunidade. Os determinantes sociais de saúde (DSS) estão relacionados às condições em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem.
Nesta abordagem, os problemas de saúde são compreendidos de forma holística e em consonância com a sociedade, a compreender que diversos problemas de saúde mental e preocupações emergem da situação social das pessoas, de desafios que envolvem fatores que estão para além do controle das pessoas, tais como violência urbana, problemas financeiros e discriminação social, por exemplo.
Sendo assim, embora a prescrição cultural não venha, necessariamente, para combater as desigualdades sociais, o seu modelo de promoção da saúde, associado à democratização do acesso à arte e à cultura a partir da saúde pública gera maior inclusão e uma sociedade mais saudável e mais feliz. Ao abordar os determinantes sociais de saúde (DSS), acaba por reduzir o impacto das desigualdades sociais e foca na promoção da saúde para além do combate à doença, podendo, também, ajudar a reduzir o ônus financeiro com cuidados de saúde.
Inclui atividades artísticas e culturais diversas, sempre mobilizando a rede de parceiros locais. Como as sessões são ministradas em grupo, é dada aos participantes a possibilidade de desenvolverem vínculos e relacionamentos entre si em um espaço socialmente seguro, além de entrarem em estado de fluxo ao longo da prática da atividade.
Desta forma, o vínculo social permite benefícios psicológicos subsequentes, que vão ao encontro do modelo PERMA de bem-estar, por exemplo. A título de curiosidade, o modelo PERMA foi desenvolvido em 1998 pelo psicólogo Martin Seligman como parte da psicologia positiva.
Esse modelo descreve cinco elementos essenciais para o bem-estar humano sustentável, sendo eles: emoções positivas (sentir emoções agradáveis), engajamento (estar imerso em atividades a ponto de entrar em estado de fluxo), relacionamentos positivos (ter e manter conexões sociais saudáveis e significativas), significado (ter senso de propósito no que se faz e em quem se é) e realização (desenvolvimento contínuo, sentimento de progresso e alcance de objetivos).
Cabe ressaltar que, diferentemente da arteterapia, de aulas de arte em geral e de outras terapias artísticas, o foco da prescrição social está no envolvimento no processo (estado de fluxo) e na comunidade, e não no desenvolvimento técnico das habilidades trabalhadas. Da mesma forma, a arte não é usada como elemento facilitador psicoterapêutico e os mediadores culturais ou mediadores artísticos não necessariamente são terapeutas ou professores de artes, porém, facilitadores de arte para a saúde.
Motivação e interação social
Essas práticas têm se mostrado benéficas para promover motivação, interação social e a criação de uma rotina para pessoas que estejam passando por situações de isolamento social, solidão, depressão, ansiedade e outros quadros que impactem a sua saúde mental.
Vale destacar que a prescrição cultural, voltada para atividades artísticas e culturais, enquadra-se na estrutura mais ampla da prescrição social, na qual profissionais de saúde encaminham os pacientes para ações comunitárias, que não, obrigatoriamente, precisam ter caráter criativo.
A prescrição social não é novidade em outras partes do mundo, tendo como grande referência o Reino Unido, e estando presente em países como Canadá, Holanda, Japão, Espanha e Nova Zelândia, onde já está incorporada aos serviços de saúde pública.
Em Portugal, a prescrição cultural já está disponível na região do Alentejo Central por meio da rede de saúde pública, sendo acessível aos utentes que já possuam médico de família. Já a prescrição social vem ganhando contornos na Unidade Local de Saúde de Santa Maria (ULS Santa Maria), a partir de um protocolo assinado com a Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP NOVA), para implementação em parceria com o Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência da unidade hospitalar.
Na última sexta-feira, dia 18 de julho, ocorreu o II Encontro Nacional de Prescrição Cultural, na reitoria da Universidade do Porto. Esteve presente o vice-presidente da CCDR-NORTE para as áreas de Cultura e do Patrimônio, Jorge Sobrado, que confirmou o “Consórcio Prescrição Cultural”.
Será formado por Universidade do Porto, UTAD, CCDR-NORTE, DGS, SRNOM, OPP, Centro de Arte Oliva, Fundação Casa de Mateus, Museus do Abade de Baçal, Alberto Sampaio e Soares dos Reis, e os Municípios de Bragança, Guimarães, Porto, S. João da Madeira e Vila Real.
Tudo com vista ao desenvolvimento e à implementação do projeto acadêmico Prescrição Cultural, que será constituído em setembro, provendo Prescrição Cultural para a região Norte de Portugal. Em breve, para além do Alentejo Central, Portugal também contará com prescrição cultural na região Norte, e saúde mental e social estarão mais acessíveis para as suas populações.
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