Vivo Novidades

Blog Post

Vivo Novidades > Política > Nunca mais — cartas de avós aos netos da Revolução | Livro

Nunca mais — cartas de avós aos netos da Revolução | Livro

Queridas Amélia e Olívia

“Tinha 22 anos e estava há dois anos a cumprir o serviço militar obrigatório. Encontrava-me na fragata João Belo, em viagem de Cabo Verde para Angola. Eu e os meus camaradas só soubemos da Revolução através de uma comunicação militar francesa, que foi interceptada pelas comunicações do navio por volta das 19h do 25 de Abril.

(…) Mais tarde, fomos enviados para uma prisão política em Moçâmedes para libertar os presos políticos. Aí apercebi-me de que a ditadura tinha mesmo acabado.”

Beijinhos dos avós António e Rosa, e viva o 25 de Abril



Embarque
Maria Remédio

Meu querido netinho Pedro,

“O 25 de Abril de 1974 foi o primeiro grande acontecimento na vida dos teus avós, que, com apenas 18 e 16 anos de idade, passaram a viver num país livre.

No dia 25 de Abril de 1974, o avô foi trabalhar para a fábrica de vidro às quatro horas da manhã — coisa que fazia desde os 11 anos — e começou a ouvir que havia uma revolução em Lisboa.

A avó, também ao ir trabalhar, começou a ouvir algo na rádio. Ficámos muito atentos às notícias, que nos davam a ideia de que, finalmente, caminhávamos para a liberdade.

Desde então, sempre dissemos: ‘Viva o 25 de Abril, viva a liberdade! Fascismo nunca mais!’.”

Avô Rui e avó Maria Lurdes



Ana Gamito
Ana Gamito

Memória futura para as minhas netas Camila e Carolina,

“Tinha então 13 anos feitos em Janeiro e os dias eram todos iguais.

(…) Morávamos numas águas furtadas, 4.º andar, de um prédio sem elevador. Das janelas, tinha uma vista soberba sobre Lisboa: as Amoreiras, o Hotel Ritz, a Penitenciária e o Hospital Militar. (…) Passei o dia à janela do 4.º andar. Cada vez mais pessoas na rua gritavam palavras de ordem: ‘Vitória’, ‘Fascismo nunca mais’, ‘Abaixo a ditadura’

(…) O sonho tinha começado.”

Avô Vítor



Povo
Helen Gruber

Queridas Olívia e Amélia,

“No dia 25 de Abril de 1974, acordei de manhã em Amesterdão com o telefone a tocar. Era um amigo holandês a dizer-me que estava a acontecer uma revolução em Portugal. Sim, o avô não estava em Portugal nesse grande dia.

Portugal era um país pobre e triste governado por ditadores que faziam uma guerra contra os povos de Angola, Moçambique, Guiné e Cabo Verde.

(…) Ainda fui militar, mas só por três meses. Desertei. Fui-me embora “a salto” para Paris no início de 1972, atravessando a Espanha, que é um país muito grande, onde passei rios com água pela cintura e grandes montanhas como os Pirenéus sempre a pé. (…) Cheguei a Portugal no dia 9 de Junho de 1974 (…)”

Beijinhos, avô António, em Évora



Disparo
Mattia Denisse

Meu muito querido sobrinho Henrique,

“(…) Nesse dia, saí muito cedo de casa. Eram para aí umas sete horas da manhã. Morava eu então em Almada. Apanhei o barco em Cacilhas. Atravessei o rio Tejo e cheguei ao Terreiro do Paço.

Depois de sair do barco, reparei que a praça estava cheia de soldados e não se podia passar. Dei meia volta e regressei a casa para ouvir as notícias na rádio e tentar saber o que se passava.

Ao ouvir as notícias, percebi que havia um golpe de Estado para derrubar a ditadura e dar liberdade aos portugueses.

(…) De novo regressei ao Terreiro do Paço. Desta vez, consegui sair do cais e ir até ao Largo do Carmo, onde sabia que estava escondido o primeiro-ministro. Pelo caminho, vi um pide, que era uma espécie de polícia que perseguia, prendia e torturava quem não gostava do governo, dar um tiro a um jovem que estava perto de mim. Ainda hoje vejo a camisa branca deste rapaz vermelha de sangue.

Toda a gente que estava na rua correu para apanhar o pide, que fugiu para dentro de um prédio, onde acabou por ser preso por marinheiros (…)”

Espero que gostes desta carta. Um beijinho muito grande do tio Zé



Analfabetismo
Maria Freitas

Maria Rita,

“O 25 de Abril comemora 50 anos. Os teus avós maternos esperaram 70 anos, que é mais ou menos a nossa idade, para te enviarem uma carta que esperamos que guardes especialmente no teu coração.

(…) O país era muito diferente nessa altura. E era um país muito pobre. Havia muita gente que não sabia ler nem escrever e havia crianças que não iam à escola e que começavam a trabalhar muito novas. Neste contexto, os teus avós foram privilegiados, porque puderam estudar.

(…) A Revolução abriria portas à liberdade, à democracia, ao fim da guerra, entre muitas outras conquistas, como escolas, iguais a esta, abertas para todos os meninos e meninas, sem distinções de qualquer espécie e respeitando a infância (…)”

Beijos da tua avó Nela e do teu avô Jorge

Querido neto Jaime,

“O avô, no 25 de Abril, estava em plena zona de combate no Norte de Angola, a cumprir o serviço militar obrigatório.

(…) Digo-te: todos temos de ser dignos da liberdade e democracia conquistadas, cumprindo cada um os seus deveres de cidadão, com dedicação e honestidade, sempre com esperança, alegria e solidariedade (…)”

O avô que te ama, Jaime

A associação de pais e encarregados de educação da Escola Básica Sampaio Garrido disponibiliza um email para informações e partilhas à volta do tema do livro: [email protected].

#Nunca #mais #cartas #avós #aos #netos #Revolução #Livro

Leave a comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *