A Croácia situa-se na Europa Oriental, onde as suas montanhas escarpadas encontram um mar Adriático cristalino e uma história milenar. É um país de beleza geográfica privilegiada, com mais de mil ilhas paradisíacas, cidades encantadoras e uma costa deslumbrante. Tem no turismo um dos principais motores da sua economia e revela surpresas a cada olhar.

Por falar em revelações, a D8, não sendo propriamente uma típica atracção turística é, sem dúvida, uma preciosidade. Conhecida como a “estrada mágica” ou “cenográfica”, estende-se por cerca de 647 quilómetros, serpenteando ao longo do recortado litoral croata, desde a fronteira da Eslovénia (Pasjak) até ao Montenegro.

Em tempos a principal artéria de ligação costeira, a D8 oferece agora uma alternativa à auto-estrada e uma viagem mais contemplativa. O percurso foi recentemente optimizado com a Ponte Pelješac (2022) e o desvio de Ston (2023), garantindo assim que a rota continue a abraçar o mar Adriático rumo a Dubrovnik.

Estivemos na Croácia já lá vão uns anos, mas não descobrimos a D8 por acaso, percorrê-la foi mesmo intencional. Tinha visto algumas referências num blogue de viagens e, desde o primeiro momento, passou a constar da planificação da viagem. Numa viagem nunca se quer perder o mais bonito. Ainda que as auto-estradas e vias rápidas nos levem de forma mais rápida ao destino, as estradas nacionais oferecem quase sempre um conhecimento diferenciado e uma maior liberdade de movimentos.

Mas o que torna a D8 realmente tão digna de nota? Tudo. Das paisagens, exuberantes, ao acesso facilitado ao património histórico, cultural ou gastronómico.

Entre os imponentes Alpes Dináricos da Dalmácia e o azul vibrante do Adriático, salpicado pelo verde das suas inúmeras ilhas, cada quilómetro percorrido é uma tela em movimento. A estrada vai desvendando, uns atrás de outros, panoramas soberbos, que se superam a cada curva.

A D8 liga cidades históricas como Rijeka, Zadar ou Split, a Dubrovnik, a pérola nacional, a pequenos e charmosos povoados. Ao longo do percurso, os atractivos são muitos e quase todos irresistíveis.

A cerca de 30 km de Split, surge Omiš, num encontro idílico entre o mar e o rio Cetina. Esta “cidade postal”, aninhada entre maciços rochosos e baías azul-turquesa, ostenta um invulgar castelo construído sobre a rocha.

Seguindo para sul, a aproximadamente 40 km, o Porto de Makarska encanta com um centro histórico acolhedor. A sua Riviera estende-se por 60 km e esconde algumas das praias mais bonitas da Europa.

Em Klek, o Adriático exibe-se no seu azul mais exuberante. O passeio marítimo é um deslumbramento, com pequenas “praias privadas” e moradias de charme com acesso direto às águas transparentes e tranquilas.

Já Ston, com apenas cerca de 500 habitantes, impressiona com as suas famosas muralhas, que contam mais de 7 km e são uma “réplica” das da China. No pequeno povoado existe ainda uma das mais antigas fábricas de sal da Europa.

Mas os atractivos não se esgotam a sul. No Norte, a D8 também reserva surpresas.

Quando descemos das montanhas, vindos do indescritível Parque de Plitvice, surge Senj, cidade antiga da costa adriática superior, tranquila e quase esquecida do turismo.

A cerca de 30 km de Senj fica Novi Vinodolski. Conhecida pela sua produção de vinho, tem como principais atractivos alguns monumentos como a Igreja na pequena ilha de San Marino, que oferece uma panorâmica privilegiada da região, o local histórico de Kvadrac, a Igreja de São Filipe e Tiago ou as ruínas do Castelo dos Frankopans.

Mais adiante, Bakar é uma cidade medieval que encanta com o seu porto, as ruelas empedradas e um castelo do século XVI, além dos palácios que são verdadeiras jóias arquitectónicas.

Percorrer a estrada cenográfica é, seguramente, uma das melhores formas de conhecer um pouco da essência desta nação invulgarmente bela. Alugar um carro oferece a liberdade ideal para explorar cada recanto, desfrutar da gastronomia local e ceder aos apelos das águas translúcidas.

A D8 não é apenas uma estrada; é uma experiência, uma imersão na alma croata, onde cada paragem é uma descoberta e cada paisagem, uma memória inesquecível.

Antónia de Matos Serôdio (texto e fotos)