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Camões aproveita para mandar as alianças. Um beijo de língua, adeus | Opinião

Os artigos da equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.

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Meu caro amigo,
eu compreendo a tua dor.
Não há no mar mais terra à vista
como era outrora
a vida do navegador.
Matar em nome da conquista
pequena terra, tua bandeira é cachecol.
Viver de fado, nesse choro sem o sol,
num dia a morte, noutro dia há futebol.
Mas o que eu quero é lhe dizer
que a coisa aqui tá preta,
vais de lambreta para salvar tua nação,
vende tua couve para comprar uma carcaça.
A gente vai migrando para trabalhar de graça
não há ventura em traição.

Meu caro pá, eu não pretendo provocar,
nem atiçar meias verdades,
mas essa prece não sou eu quem vai rezar,
nem lhe explicar o que é saudade.
Aqui na guerra, não há peixe, só anzol,
num dia há morte, noutro dia há futebol.
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta,
não há sardinha para caber nesse caixão.
A malta que trabalha
sem cama e sem salário,
o povo vai cheirando
as cinzas deste teu cigarro,
quem é que cura essa nação?

Meu caro amigo, eu lhe convido a imigrar,
pois minha terra lhe abraça,
não há cabrito, só jiló para fritar.
Lá, a alegria é de graça.
Aqui na guerra, não há peixe, só anzol,
num dia há morte, noutro dia há futebol.
Mas o que eu quero é lhe dizer
que a coisa aqui tá preta.
Outro imigrante para moer no teu moinho,
a malta vai engolindo
sem bagaço e sem vinho,
sem gerúndio, não se ama,
sem cafuné e sem carinho,
ninguém segura a tua mão.

Meu caro amigo, eu bem queria lhe escrever,
mas nessa rede eu só rabisco.
Se me permites, vou tentar lhe remover
dos teus olhos este cisco.
Aqui na guerra, não há peixe só anzol,
num dia a morte, noutro dia há futebol.
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta,
outro imigrante para moer no teu moinho,
a malta vai engolindo
sem bagaço e sem vinho,
sem gerúndio não se ama,
sem cafuné e sem carinho,
ninguém segura a tua mão.

Dessa caneta mando um beijo aos meus.
Um viva ao Chico, ao Barroso, ao Xandão e às crianças.
Camões aproveita para mandar as alianças.
Um beijo de língua, adeus.

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