Levar crianças pequenas à praia pode parecer simples e a solução ideal para esta altura do ano. E é, de facto, uma das melhores atividades que se pode planear com os mais pequenos — desde que com os cuidados necessários. Os bebés e as crianças têm necessidades fisiológicas diferentes das dos adultos e são mais vulneráveis a situações como o calor, a radiação solar ou a desidratação.
Fique a conhecer este guia prático com dez recomendações essenciais para usufruir dos dias quentes em família e na maior tranquilidade possível.
1. Escolha do horário
O horário de exposição solar não é apenas uma preocupação dos profissionais de saúde — está diretamente relacionado com a concentração de radiação ultravioleta (UV) e as temperaturas atingidas nesse período. Por isso, recomenda-se evitar a permanência na praia ou em espaços exteriores entre as 11h e as 17h, mesmo quando há sombra (exposição solar indireta). Idealmente, consultar diariamente o índice UV pode ajudar a tomar decisões mais informadas. Nos bebés com menos de 6 meses, deve evitar-se totalmente qualquer exposição solar direta.
2. Proteção contra a radiação ultravioleta
Falamos muitas vezes do protetor solar — que é, de facto, essencial e deve ser aplicado na dose e frequência corretas. Mas esquecemo-nos frequentemente de que a primeira linha de defesa contra a radiação ultravioleta é a sombra. Por isso, sempre que possível, deve ser privilegiada em primeiro lugar.
Importa lembrar que mesmo à sombra existe exposição solar indireta, devido à reflexão dos raios nas superfícies como a areia ou a água. Assim, há três elementos indispensáveis:
- Chapéu com abas, que bloqueia uma parte significativa da radiação UV
- Roupa leve com proteção ultravioleta
- Óculos de sol com lentes de categoria 2 ou 3, proteção UV 99–100% e certificado CE (conformidade europeia)
Não existe idade mínima para o uso de óculos de sol. Mesmo os bebés mais pequenos podem — e devem — usá-los, sendo que atualmente já existem no mercado modelos que respeitam todas estas recomendações.
3. Protetor solar: qual e quando?
Protetor solar, sempre — mesmo à sombra e com roupa com proteção UV. A exposição solar durante a infância, sobretudo queimaduras solares graves na infância e adolescência, associam-se a um maior risco de melanoma e outras lesões cutâneas graves na idade adulta.
Por isso, em crianças com menos de dois anos, recomenda-se a utilização de protetores solares minerais (também chamados físicos), que atuam como barreira à superfície da pele. Estes devem ter SPF superior a 50, e devem ser reaplicados a cada duas horas, ou após transpiração ou contacto com água. Os filtros minerais oferecem proteção imediata após a aplicação.
A partir dos 2 anos, podem ser utilizados protetores pediátricos com filtros químicos ou mistos, também com SPF 50 ou superior. Nestes casos, é importante aplicar o protetor 20 a 30 minutos antes da exposição solar, dado que a proteção não é imediata.
4. Hidratar com frequência, mesmo sem sede
Bebés e crianças pequenas têm maior risco de desidratação, especialmente em dias de calor. No caso dos lactentes alimentados exclusivamente com leite — materno ou fórmula — deve-se reforçar a frequência das mamadas, oferecendo o leite mais vezes ao longo do dia.
Já nos bebés que iniciaram a ingestão de água, ou em crianças mais velhas, é fundamental oferecer água regularmente, mesmo que não a solicitem espontaneamente.
Os principais sinais de desidratação a que os cuidadores devem estar atentos incluem:
- Alterações no comportamento (sonolência excessiva, apatia ou irritabilidade persistente)
- Diminuição do volume de urina
- Boca e língua secas
Perante estes sinais, é recomendada a avaliação pediátrica.
5. Comer bem e de forma segura
É importante reforçar a atenção à conservação dos alimentos nesta altura do ano. O mau acondicionamento pode favorecer a proliferação de bactérias potencialmente nocivas à saúde, sobretudo em contexto de calor.
Evite consumir — ou oferecer às crianças — alimentos que tenham estado fora de refrigeração. Existem alternativas mais seguras para os dias quentes, como fruta fresca, pão simples e água, desde que transportados numa bolsa térmica devidamente preparada.
6. Onde colocar o bebé?
É um tema menos falado, mas de grande importância. O bebé nunca deve ser pousado diretamente na areia, mesmo que esta esteja coberta por uma toalha, pois a areia pode atingir temperaturas muito elevadas e causar desconforto ou queimaduras.
Sempre que possível, mantenha o bebé ao colo ou utilize colchões respiráveis e sistemas ergonómicos ventilados, adequados ao calor e à posição segura do bebé.
7. Sinais de alerta de sobreaquecimento
É comum haver a tendência para cobrir excessivamente o bebé ou colocá-lo em tendas totalmente fechadas, com o objetivo de o proteger da radiação solar. No entanto, essa prática pode aumentar o risco de sobreaquecimento — uma condição muitas vezes difícil de detetar, sobretudo em bebés mais pequenos.
Mesmo à sombra, os bebés podem sobreaquecer. Por isso, recomenda-se que o bebé e a criança estejam sempre em locais bem ventilados. Se a opção for uma tenda de praia, esta deve ter entrada ampla e ventilação adequada, permitindo a circulação de ar.
Os sinais de alarme que devem motivar observação médica imediata incluem: choro inconsolável; sudação ou rubor facial excessivos; prostração, apatia ou sonolência fora do habitual.
8. Menos brinquedos, mais mobilidade
Relativamente aos brinquedos de praia, atualmente há inúmeras opções no mercado. Se for possível, recomendamos brinquedos de silicone ou com materiais semelhantes que não aquecem tanto como o plástico. Um balde e uma pá podem ser suficientes para algumas horas de brincadeiras.
Fora dos períodos de maior radiação UV, o contacto com a natureza é altamente benéfico: favorece o desenvolvimento sensorial e motor, estimula a curiosidade e reforça a autonomia nas primeiras explorações.
9. Lavar o sal e a areia
Após a praia, recomenda‑se lavar a pele da criança com água doce para remover o sal, areia e minimizar irritações — especialmente nas pregas cutâneas dos bebés. A areia acumulada nas fraldas pode causar abrasões ou agravamento de lesões preexistentes. É mais frequente do que o que pensamos. Há estudos que descrevem abrasões em até 58 % das crianças observadas após brincar à beira-mar.
10. Depois da praia, descanso
Por fim, privilegie o descanso de toda a família e evite a estimulação excessiva da criança ao final do dia. A praia é um ambiente bastante rico para a criança com novos estímulos visuais, auditivos e táteis. Adicionar ao final do dia outras atividade pode levar à sobre-estimulação que pode interferir no sono, sobretudo nos primeiros meses de vida. Vários estudos mostram que ambientes com excesso de estímulos estão associados a diminuição nos períodos contínuos de sono noturno e maior número de despertares em bebés mais pequenos.
Assim, manter uma rotina suave ao fim do dia — com um ambiente mais calmo, atividade reduzida e transição gradual para o descanso — facilita a consolidação do sono infantil e a manutenção da rotina.
Os essenciais para umas férias em tranquilidade são a informação, o planeamento e a atenção aos sinais de alarme. Boas férias!
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990
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