Os cartazes foram colocados em Londres: “Viu esta avó?” A acompanhar, uma ilustração de uma senhora com cabelo grisalho e um pin ao peito onde se lê “Oponho-me ao genocídio”. A mensagem: “Estamos a responder ao aumento de avós que se opõem ao genocídio nas nossas ruas. Ainda que não pareçam violentas, algumas delas podem ter cartazes com as pontas cortantes. Por favor, mantenha-se atento.”

São uma crítica satírica às recentes detenções por terrorismo que a polícia inglesa tem vindo a fazer em protestos pacíficos pró-Palestina. Usam o trocadilho “Have you seen this nan?”, semelhante à frase utilizada para pessoas procuradas pela polícia: “Have you seen this man?” (“Viu este homem?”, numa tradução livre).

Este sábado, 466 pessoas foram detidas, segundo números da polícia inglesa, depois de o Governo ter considerado o Palestine Action uma organização terrorista no mês passado.

O Governo liderado por Keir Starmer promoveu a proibição do grupo após um ataque a uma base aérea, no qual vários activistas pintaram graffiti em aviões militares. As autoridades calcularam os prejuízos em sete milhões de libras (8,1 milhões de euros).

Muitos dos detidos têm mais de 80 anos. Deborah Hinton tem 81 anos e é magistrada reformada. Recebeu honras da rainha Isabel II por serviço à comunidade e, segundo o Guardian, passa a reforma a caminhar nas montanhas, a angariar fundos para o coro da catedral e a ajudar associações de caridade locais.

No mês passado, esteve detida numa cela durante sete horas, foram recolhidas as suas impressões digitais e ADN. Pode enfrentar uma pena de prisão de seis meses, ao abrigo da lei antiterrorismo.

À lista, juntam-se outros nomes, identificados pelo mesmo jornal. Jon Farley, antigo director de uma escola, que segurava uma caricatura de uma revista satírica; Marianne Sorrell, 80 anos, também professora reformada, que foi detida durante 27 horas e viu a sua casa ser revistada; ou Sue Parfitt, 83 anos, antiga reverenda, que estava sentada em frente ao Parlamento britânico a segurar um cartaz.

“Sou reformada, por isso não tenho medo de ser presa. Não vou perder o meu emprego por causa disso”, ironizou uma das participantes na manifestação deste sábado, num vídeo publicado pelo Guardian, que entrevistou participantes mais velhos. “Acho que é importante que os mais velhos se imponham e digam algo, porque estamos mais seguros do que os mais novos.”

“Nunca fui detido antes, por isso estou algo nervoso”, brincou outro manifestante de barbas grisalhas.

As imagens mostram manifestantes a serem retirados do protesto, nomeadamente idosos com visíveis dificuldades motoras, enquanto outros gritavam “tenham vergonha” em direcção aos polícias. “Se te dissessem que podias atirar sobre os manifestantes, fazias isso?”, perguntou um participante a um polícia. “Não, não fazia”, respondeu-lhe.

“É um desperdício de recursos policiais. Olha o quão pacíficos eles estão. São senhoras velhinhas, vá lá!”, considerou outro manifestante, enquanto observava o grupo de manifestantes. Sentados no chão, com cartazes, vão sendo retirados um a um pela polícia.

“Já participei em muitos protestos pacíficos e nunca fui detida. Foi um protesto muito assustador, mas senti que em algum momento temos que impor um limite. Para mim, hoje, esse limite foi cruzado, e eu tinha de me impor por aquilo em que acredito”, justifica uma das participantes.

Depois da proibição da Palestine Action, prevista na Lei Antiterrorismo de 2000, o apoio ou militância na organização é considerado crime, com penas máximas até 14 anos de prisão. Os advogados da organização argumentam que a proibição representa “um abuso autoritário” de poder, segundo a rádio BBC. Mas o grupo Defend Our Juries, que pretende levantar a classificação do Palestine Action como grupo terrorista, já anunciou que prevê promover novas manifestações em Setembro.