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“Ninguém 2” não reinventa nada, mas diverte como poucos

A HISTÓRIA: O assassino workaholic Hutch Mansell leva a sua família para umas férias muito necessárias na pequena cidade turística de Plummerville. No entanto, logo se vê na mira de um operador corrupto do parque temático, um xerife suspeito e um chefe do crime sanguinário.

“Ninguém 2”: nos cinemas desde 14 de agosto.


Crítica: Manuel São Bento
(Aprovado no Rotten Tomatoes. Membro de associações como OFCS, IFSC, OFTA. Veja mais no portfolio).

Quando “Ninguém” (2021) se estreou, foi recebido como uma espécie de primo afastado de “John Wick”, mas com uma identidade própria que assentava sobretudo no carisma inesperado de Bob Odenkirk (“Better Call Saul”) e no equilíbrio certeiro entre ação, violência e humor. Quatro anos depois, a sequela chega pelas mãos de Timo Tjahjanto (“The Night Comes for Us”), cineasta indonésio conhecido pelo seu olhar energético e inventivo para a ação, prometendo manter viva a fórmula que conquistou o público-alvo. À entrada para a sala, sabia exatamente o que esperar: mais pancadaria coreografada ao milímetro, mais piadas a quebrar a tensão e, provavelmente, uma narrativa que não fugiria muito ao molde original.

Escrito por Derek Kolstad (“John Wick”) e Aaron Rabin (“Tom Clancy’s Jack Ryan”), “Ninguém 2” volta a acompanhar Hutch Mansell (Odenkirk), o homem aparentemente banal que, afinal, é uma máquina de combate. A história repete a premissa: Hutch tenta viver umas merecidas férias de família, mas o seu “emprego” violento insiste em bater-lhe à porta. Quando uma ameaça decide afetar as memórias que tanto quer criar com a mulher e filhos — desta vez liderada por uma vilã excêntrica e sedenta de poder interpretada por Sharon Stone (“Instinto Fatal”) —, Hutch vê-se novamente forçado a mergulhar no mundo que tentou abandonar temporariamente. A sequela não demora a trazer de volta os elementos reconhecíveis da primeira entrada: a estrutura narrativa circular, a escalada gradual de confrontos e a inevitável explosão de ação no terceiro ato.

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Ninguém 2

Se, por um lado, essa familiaridade torna a experiência previsível, por outro, é também parte do charme. “Ninguém 2” não finge reinventar a roda — pelo contrário, abraça abertamente a sua natureza de sequela que replica a fórmula, apenas ajustando a dinâmica familiar. Tal como acontece em muitas continuações deste género, a família de Hutch tem um papel mais ativo nas sequências de ação, envolvendo-se diretamente nos conflitos e nas armadilhas improvisadas. No entanto, qualquer tentativa de explorar de forma mais profunda as relações ou dilemas familiares acaba rapidamente abafada pela prioridade absoluta: entreter a audiência com violência estilizada e humor negro.

E nesse campo, Tjahjanto mostra-se à altura da tarefa. A coreografia de lutas e tiroteios é criativa, enérgica e, acima de tudo, divertida. Há um sentido de espetáculo constante, com cada confronto pensado para arrancar tanto sorrisos como caretas de dor. O grande clímax no parque de diversões é um exemplo perfeito: Hutch e companhia transformam o espaço inteiro num campo de batalha cheio de armadilhas engenhosas, combinando criatividade e caos de uma forma que faz lembrar certas sequências de Jackie Chan — não pelo estilo acrobático, mas pela imaginação colocada no uso do cenário. A câmara oferece sempre espaço suficiente para que os duplos brilhem, e é particularmente satisfatório ver o próprio Odenkirk a executar várias manobras, transmitindo autenticidade a estas cenas.

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Outro elemento que acrescenta sabor à violência é a seleção musical, que acerta em cheio no tom. As canções escolhidas contrastam de forma hilariante com o banho de sangue no ecrã, reforçando a faceta cómica de “Ninguém 2”. Este tipo de recurso poderia facilmente cair no exagero ou tornar-se repetitivo, mas aqui mantém-se fresco graças ao timing certeiro e à variação inteligente de estilos musicais. É um humor que não vem apenas dos diálogos, mas também da própria encenação da violência, algo que poucos filmes de ação conseguem equilibrar tão bem.

O argumento, por sua vez, não se preocupa em esconder a sua natureza derivativa. A vilã de Stone é um cliché ambulante — motivada apenas por dinheiro e poder, sem qualquer nuance ou profundidade psicológica. E, curiosamente, é precisamente essa ausência de pretensão que torna a sua performance tão divertida. Stone abraça o exagero da personagem, oferecendo uma antagonista cartoonesca que encaixa perfeitamente no tom da saga. É sempre um prazer ver uma atriz com a sua presença transformar um papel genérico em algo memorável, e a sua participação acaba por ser um dos pontos altos da sequela — até peca por escassa.

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Ninguém 2

Ainda assim, é impossível ignorar que “Ninguém 2” é, essencialmente, “mais do mesmo”. Quem procura desenvolvimento temático ou uma abordagem mais madura às questões familiares ficará inevitavelmente desapontado. Certos elementos introduzidos ao longo da narrativa são pura e simplesmente esquecidos, deixando claro que o foco nunca esteve em contar uma história com peso emocional. A repetição de arcos e conflitos do original reforça a sensação de que esta é uma sequela confortável, feita para satisfazer fãs que querem mais tempo na companhia das mesmas personagens, sem grandes surpresas.

No entanto, e talvez aqui resida o segredo do filme, essa previsibilidade não o torna aborrecido. Pelo contrário, a curta duração e o ritmo acelerado fazem com que o entretenimento nunca quebre. Não há “gorduras” narrativas nem pausas demasiado longas; cada cena serve para conduzir à próxima explosão de ação ou momento cómico. O elenco transmite constantemente a sensação de que se está a divertir imenso, e essa energia é contagiante. Como espectador, é difícil não entrar no mesmo espírito, mesmo quando se reconhece cada batida narrativa com minutos de antecedência.

Conclusão

“Ninguém 2” não vai redefinir o género ou figurar nas listas de melhores do ano, mas cumpre exemplarmente a sua função: entreter o público-alvo durante hora e meia com ação inventiva e coreografada, humor certeiro e um protagonista carismático. É um daqueles casos em que a fórmula, mesmo gasta, continua a funcionar graças à execução competente e ao entusiasmo coletivo do elenco e equipa técnica. Se a fórmula é para manter, que assim seja — com um sorriso no rosto. Desde que se mantenha este equilíbrio entre violência e leveza, assim como a continuação da aposta em ação criativa e guiada por stunts, venha daí o terceiro!

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