Nos EUA, a administração Trump está a criar, gradualmente, um “Estado dual”, no sentido que Ernst Fraenkel atribuiu ao conceito para descrever o Terceiro Reich: nele coexistem um Estado normativo para a generalidade das pessoas e um Estado discricionário para os alvos políticos do regime. A deportação de alegados membros de gangues para El Salvador sem processo judicial, o congelamento arbitrário de contas de organizações sem fins lucrativos e a perseguição a advogados são as faces mais recentes de um processo acelerado de erosão do Estado de Direito. O aspeto mais problemático é a ausência de uma base factual comum sobre a qual se possa discutir a constitucionalidade de atos controversos. Cada incidente vê-se rapidamente envolto numa névoa de versões contraditórias. O último exemplo é a negação e desvalorização do episódio de fuga de informação militar no Signal. Isto é típico da hiperpolarização política que caracteriza os EUA, a que devemos estar atentos.