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A Europa entre tarifas e ambições imperialistas | Opinião

Nos últimos tempos, o cenário geopolítico e económico internacional tem sido marcado por uma inquietante tendência imperialista, protagonizada, em larga escala, pelos Estados Unidos da América. Sob a bandeira do nacionalismo económico e da reindustrialização forçada, a Administração americana tem reincidido na imposição de tarifas alfandegárias e medidas comerciais unilaterais que rompem com os preceitos do comércio livre e equitativo, pilares fundacionais do sistema multilateral contemporâneo construído através de uma cooperação assente no respeito mútuo.

A retórica americana, sustentada em supostos imperativos de segurança económica e defesa da soberania produtiva, mascara uma realidade bem mais crua: a instrumentalização da política comercial como ferramenta de pressão geopolítica. O recente endurecimento tarifário sobre produtos europeus e asiáticos, em inúmeros setores produtivos, é mais do que uma manobra económica. É uma declaração de hegemonia que ignora os princípios da reciprocidade e da previsibilidade, essenciais à estabilidade das relações internacionais.

Este comportamento disruptivo não se manifesta apenas na esfera comercial. Veja-se, a título ilustrativo, a súbita atenção geoestratégica dada à Gronelândia, envolta em discursos de aquisição territorial e em manobras diplomáticas que figuram um novo neocolonialismo. Tal episódio, embora aparentemente anedótico, ilustra de forma cristalina a disposição de alguns atores globais para instrumentalizar territórios, recursos e populações em função de desígnios hegemónicos, sem diálogo, sem sensibilidade, sem respeito pelas estruturas políticas locais ou pelas alianças históricas. A Europa, aqui, não pode ceder nem à ingenuidade nem à inércia. Deve estar preparada para defender a integridade dos seus espaços de influência, direta ou indiretamente, sob pena de ver minada a sua própria coesão.

Face a esta conjuntura, impõe-se à Europa uma atitude de maturidade estratégica. Não basta lamentar os impulsos isolacionistas de Washington e de Donald Trump. A resposta europeia deve assentar numa tríade de resiliência: autonomia estratégica, coesão interna e diplomacia assertiva que permita aos líderes europeus uma reinterpretação lúcida da globalização.

É urgente uma política comercial europeia que seja simultaneamente prudente e ambiciosa, que promova a diversificação de parcerias diplomáticas e a valorização do conhecimento como vantagem comparativa.

Se os EUA optam por uma lógica de antagonismo económico e expansionismo desenfreado, a Europa deve responder com uma postura de dignidade e maturidade política. Mais do que nunca, é tempo de assumir um papel de liderança global moderadora, alicerçada em ações que demonstrem firmeza diplomática e unidade interna e que saibam conjugar a abertura ao mundo com a defesa intransigente dos seus princípios fundamentais: a justiça, a transparência e a solidariedade entre nações.

O delírio político e económico de Donald Trump constitui uma chamada de atenção, não apenas para os perigos da imprevisibilidade económica, mas para a necessidade urgente de um novo pacto europeu com o mundo — um pacto ancorado em interesses, mas fundado em valores.

A Europa não pode ser refém de um mundo polarizado. A União Europeia deve ser protagonista não apenas da sua história, mas do novo equilíbrio internacional que inevitavelmente se desenha, reafirmando-se como um espaço de integração económica coesa, capaz de defender os seus interesses e valores num mundo crescentemente competitivo e volátil.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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