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A geoeconomia segundo Trump – ECO

Há, em toda esta versão, um país que deixa de ser o farol do mundo e o bastião da democracia, para ser de forma cínica e transacional, uma espécie de banco de investimento global – o USA Capital.

Fomos habituados a entender durante décadas que o mundo se regia por um paradigma previsível, onde as decisões geopolíticas não rompiam ou afetavam estruturalmente as relações da economia mundial, ou a relação comercial entre os grandes blocos comerciais. Eram de facto as ligações económicas globais que eram uma espécie de garante da estabilidade do status quo internacional.

A diplomacia política era um mundo que andou sempre a par e passo da economia, mas foram sempre fatores distintos da sociedade contemporânea. E claramente longe daquela que já é designada como diplomacia transacional, que faz basicamente terraplanagem de acordos e alianças até há pouco consideradas estratégicas. Estas são novas regras de jogo, onde os limites são poucos visíveis, e ditados primeiro pelo interesse geopolítico de cada momento nacional, e que se funde com interesse comercial ou económico. É a nova geoeconomia segundo Trump, e veio para ficar.

A face mais discutida desta nova forma de ver o mundo é a ofensiva tarifária norte americana, e que tem como narrativa a ambição de nivelar as relações injustas comerciais que prejudicam o tecido industrial norte-americano. Na realidade, são também uma forma de impor um cerco à China – que encontrou formas de contornar o acesso dos produtos chineses ao mercado dos Estados Unidos, criando soluções com países como o México ou Vietname, através dos quais vendia sem sofrer penalizações significativas – e condicionar a agenda comercial ou de segurança de aliados de longo curso , como é o caso da União Europeia – que a administração Trump não quer ver a abrir a porta à China, e quer sobretudo ver a investir muito mais na estrutura de defesa NATO, cujo maior beneficiário em termos de produção de equipamentos é o gigante norte americano.

Existe, no entanto, uma face menos discutida, mas que abre as portas à perspetiva mais assustadora. A intenção dos Estados Unidos em comprarem a Gronelândia à Dinamarca – um aliado militar dos Estados Unidos – eleva a fasquia do que é esta nova abordagem de relações internacionais. E que ultrapassa os limites do que é a razoabilidade de qualquer sistema capitalista ocidental. Da mesma forma, os apoios que a Ucrânia recebeu dos Estados Unidos para o esforço de guerra militar, já se entendeu, são de forma clara dita que são para ser pagos de volta – e com juros. Há, em toda esta versão, um país que deixa de ser o farol do mundo e o bastião da democracia, para ser de forma cínica e transacional, uma espécie de banco de investimento global – o USA Capital, capaz de ombrear com qualquer Goldman Sachs. Onde apenas os retornos contam.

Costumam dizer os economistas experientes que as guerras comerciais geralmente terminam com pouco sucesso. Nos Estados Unidos, nesta nova era de Donald Trump, parece incontornável a expulsão de produtos importados por via de taxas alfandegárias proibitivas e que supostamente serve à produção doméstica. Se por um lado a narrativa suporta uma tese protecionista que à primeira vista parece benigna e afirmativa da economia norte americana, por outro lado e quanto aos resultados do que até agora é possível projetar, a realidade é mais discutível. Os mercados financeiros, frios e cínicos, já antecipam e se ajustam a um mundo em que não conseguem prever estabilidade de crescimento.

Na verdade, por detrás destas novas regras do jogo, é bem provável esteja um mecanismo negocial económico tático para atingir fins estratégicos estruturais de manutenção da supremacia económica e geopolítica a nível global, sobretudo face à ameaça da China. O que parece óbvio, é que já estão a ter custos, que são também, também estruturais sobre a forma como as nações se relacionam, e isolar cada vez mais as nações entre si. O resultado pode bem vir a ser um mundo menos cooperante, que levantará novas cortinas de ferro e competirá de forma mais feroz pelo acesso a tecnologia e recursos. O que deixará uma parte com muito, e outra parte para trás aumentando as já acentuadas desigualdades em termos de desenvolvimento humano, e na cooperação de objetivos comuns, como é por exemplo, o caso do combate às alterações climáticas.


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