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A geração Z desligou o caps lock: porque é que tudo está em minúsculas | Tecnologia

Resumo
Geração Z usa minúsculas para criar um estilo descontraído nas mensagens online;
A ausência de maiúsculas transmite informalidade e suaviza a comunicação, evitando a rigidez e possíveis confrontos;
Plataformas online, como o Instagram, o TikTok e o X são mais favoráveis a textos rápidos e instantâneos.

Ainda que os manuais escolares nos tenham ensinado em que situações é correcto usar letras maiúsculas, o mais recente manual de boas práticas digitais, escrito pela sempre online geração Z, explica quando se deve maiusculizar se quisermos ser (ou parecer) jovens e descontraídos: nunca.

É assim que a geração Z (nascidos entre 1997 e 2012) está a desafiar as normas da gramática portuguesa nas dezenas de mensagens de texto que envia diariamente, sempre iniciadas por letra minúscula.

A maioria dos smartphones tem uma funcionalidade que permite desligar as maiúsculas automáticas, o que facilita a tarefa, mas há quem clique no shift antes de começar cada comentário ou mensagem.

Gonçalo Barros, 18 anos, desactivou as maiúsculas automáticas há mais anos do que se consegue lembrar. Viu toda a gente à sua volta a utilizar este estilo de escrita e, no início, estranhou. Agora, acha que as letras minúsculas são “muito mais estéticas” no ecrã do telemóvel. “É uma forma muito mais desconstruída de escrever”, acrescenta.

Existe uma explicação para isto, atreve-se a dizer Francisco Montargil, co-fundador de uma empresa de comunicação cuja imagem é sempre feita apenas com letras minúsculas.“Quando as letras são todas do mesmo tamanho, a leitura é mais fluida, enquanto as maiúsculas por vezes parecem gritos”, começa por explicar. Esta percepção de que as letras estão todas encaixadas por terem o mesmo tamanho faz com que os nossos olhos presos a ecrãs encarem os textos como mais satisfatórios esteticamente”.

A ausência de maiúsculas também pode ser uma “tentativa de usar uma escrita mais despretensiosa, mais simplificada e de tornar menos complicada a forma de escrever”, explica Maria Clara Barros, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e especialista em linguística, que arrisca outra razão: Também poderá estar relacionado com o medo de confrontos. Pela minha percepção, esta geração não lida bem com afrontas.

Por outro lado, “também se nota em alguns jovens a involuntária falta de distinção entre maiúsculas e minúsculas por não escreverem muito manualmente e usarem mais um teclado”, acrescenta a professora de linguística. No entanto, tal como com outras expressões e referências, a geração Z parece estar ciente do uso de maiúsculas e minúsculas e os contextos em que as deve utilizar.

Gonçalo, por exemplo, usa sempre maiúsculas em emails profissionais e trabalhos académicos. Por outro lado, se a mensagem for enviada pelo WhatsApp, responde apenas com minúsculas, seja quem for o remetente.

“Quando precisava de falar com o meu explicador por mensagem — mesmo num contexto mais formal respondia-lhe normalmente sem maiúsculas nenhumas”, conta o jovem. Mas nem sempre lhe respondem na mesma moeda: “Ainda há gente da geração Z que escreve direitinho. Embora as minúsculas sejam uma coisa da minha geração, acho que é uma tendência que se vive mais entre os jovens que estão ‘cronicamente’ online”, explica o estudante de moda de Lisboa.

Ainda assim, quando recebe mensagens escritas correctamente, Gonçalo desconfia. “É muito rígido e parece até agressivo, às vezes. Nunca perguntei a ninguém, mas penso sempre: ‘Tens 20 anos. Porque estás a usar maiúsculas assim?’”, confessa.

Não é só nas mensagens que a geração Z vive em minúsculas

Quando os jovens decidiram livrar-se das maiúsculas online, o mundo acompanhou-os.

“Há uma tendência em que as pessoas escrevem as legendas das suas publicações com uma letra minúscula no começo. Basicamente para parecerem… Desinteressados… Como se fossem demasiado fixes para se preocuparem. Mas, ironicamente, é mais trabalhoso desactivar o Caps Lock e escrever em minúsculas do que escrever bem simplesmente”, diz um utilizador do Reddit no fórum para Opiniões Impopulares.​

As redes sociais tiveram um grande impacto na difusão deste estilo de escrita. Plataformas online como o Instagram, o TikTok e o X são muito mais favoráveis a textos rápidos e instantâneos, o que faz com que a formalidade não esteja entre as prioridades dos jovens quando estão a escrever.

Com isto, marcas, artistas e escritores adoptaram este estilo de escrita, também para que os jovens se identifiquem mais com as suas mensagens.

“A escrita correcta (com maiúsculas e minúsculas) é associada ao tradicional e ao regular. Enquanto isso, as minúsculas acabam por ser mais modernas e disruptivas”, explica Francisco Montargil, especialista em branding e estratégias de comunicação. “Quando se quer ser diferente foge-se às regras convencionais.

Ainda assim, Francisco considera que no texto corrido se deve sempre utilizar maiúsculas e minúsculas nos devidos lugares. “Acho que isto é uma consequência da vida rápida e automática que levamos enquanto sociedade. Se escrevermos tudo corrido, estamos a escrever mais rapidamente.

O Spotify, plataforma de streaming com mais de 675 milhões de utilizadores, começou a nomear as suas playlists autorais, como “romanticizing life” e “scarf seasons”, apenas com letras em caixa baixa. Dentro das playlists o cenário é muitas vezes o mesmo.



O Spotify criou playlists com nomes em caixa baixa
SPOTIFY

São muitos os artistas que optam por escrever os títulos dos álbuns e músicas corridos a minúsculas: um exemplo é o álbum folklore de Taylor Swift. Além do título do disco, as 16 faixas que o compõem também não estão maiusculizadas.

Valter Hugo Mãe assinava livros com tudo em letras pequenas, uma “liberdade gráfica” já para acelerar a escrita, tal como muitos poetas. “Simplificando, sintáctica e graficamente, chegamos a uma escrita mais próxima do modo como falamos”, justificou-se ao Jornal de Letras, em 2010. “As pessoas não falam com maiúsculas.”

Embora o triunfo das minúsculas fique maioritariamente pelos ecrãs (por agora), já é uma regra suficientemente estabelecida entre os jovens para que seja considerada uma “imagem de marca da gen Z”, diz Gonçalo Barros, acrescentando, tudo em minúsculas: Eu duvido que volte a usar maiúsculas como antes.

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