Para assinalar o Dia Mundial do Ambiente, o banco de informação estatística da Fundação Francisco Manuel dos Santos – a Pordata – coligiu uma série de dados que nos ajudam a esboçar um possível retrato ambiental de Portugal. Os indicadores mostram um país cada vez mais quente e onde se produz cada vez mais energia (e mais lixo também).
Em comparação com o contexto europeu, a nossa indústria é a que mais polui o ar, considerando a riqueza que gera. Portugal emitiu 2,24 gramas de partículas finas por cada euro gerado pelo sector industrial, um valor cem vezes mais elevado do que o registado na Alemanha.
O relatório da Pordata, publicado nesta sexta-feira, concentra-se em quatro áreas: produção, consumo e dependência energética; protecção do ambiente; temperatura do ar e pluviosidade e, por fim, configuração e protecção do território. Eis o que os dados nos têm a contar sobre a realidade ambiental portuguesa. Há várias falhas, mas também algum progresso.
Poluímos muito para a riqueza produzida
Em 2022, Portugal emitiu 2,24 gramas de partículas finas por cada euro gerado pela indústria. Este valor é cem vezes superior ao registado na Alemanha. O desempenho português mostra que a poluição de origem industrial que enviamos para a atmosfera não é nem sequer compensada pela riqueza gerada no país. “As indústrias que mais contribuem para esta disparidade são a indústria química e dos produtos químicos e a do papel”, lê-se no relatório da Pordata.
As partículas finas são pequenos fragmentos sólidos (ou líquidos) suspensos no ar, com diâmetro igual ou inferior a 2,5 micrómetros. Trata-se de uma dimensão tão ínfima que estas partículas podem chegar aos pulmões e até entrar na corrente sanguínea. Estes poluentes estão associados a vários problemas de saúde pública, tais como doenças cardiovasculares e respiratórias.
Menos gases com efeito de estufa
Há boas notícias também. Portugal tem sido um “bom aluno” no que toca à redução de emissões de gases com efeito de estufa (os responsáveis pela crise climática actual). Em 2023, refere o documento, o valor per capita de emissões foi equivalente a cinco toneladas de dióxido de carbono (CO2). Em 1990, as emissões totalizavam 5,9 toneladas, chegando às oito toneladas em 2000, altura em que começaram a decrescer.
Este desempenho coloca Portugal em terceiro lugar entre os países de emissões mais baixas na União Europeia. Esta lista é liderada por Malta e pela Suécia, que apresentam 4,1 e 4,2 toneladas de CO2 por habitante, respectivamente.
Outra notícia positiva vem do domínio da mobilidade. A nova frota automóvel em Portugal liberta quase metade do CO2 que os carros emitiam no início do século: passámos de 169 gramas por quilómetro em 2000 para 90 gramas por quilómetro em 2023. O CO2 é um dos principais gases com efeito de estufa.
“Esta é uma tendência comum aos países da União Europeia, com especial destaque para os seis primeiros lugares, em que Portugal está incluído: não só têm os valores mais baixos como são os que mais reduziram desde o ano 2000”, refere a Pordata.
Resíduos urbanos duplicaram desde 1995
O lixo que a sociedade portuguesa produz não parou de aumentar ao longo das últimas duas décadas. E, actualmente, mais de metade (54%) do total de resíduos gerados vai para aterros sanitários – aterros esses que estão a abarrotar e cuja capacidade tende a esgotar-se brevemente. Desde 2020, Portugal integra a lista dos dez países da União Europeia nos quais esta percentagem é mais alta.
Em 2023, Portugal descartou 5,6 milhões de toneladas de resíduos – o que significa que cada habitante produz uma média diária de 1,4 quilos, “mais do dobro do valor registado em 1995”, segundo o relatório da Pordata.
Energia produzida no país duplicou
Com o grande “empurrão” das energias geradas a partir de fontes renováveis, a produção nacional de energia em Portugal mais do que duplicou desde 1990. Este aumento assinalável, que ocorre num contexto em que a produção energética na maioria dos países da União Europeia decresceu, não é, no entanto, suficiente para suprir as necessidades nacionais. Portugal gera apenas um terço da energia que consome.
Apesar deste excelente desempenho, Portugal continua a apresentar uma dependência energética acima da média europeia – isto mesmo com a redução de 18 pontos percentuais em comparação à dependência portuguesa registada no início deste século.
Liderança na protecção marinha
O relatório da Pordata destaca ainda o facto de Portugal poder “tornar-se o país da União Europeia com maior extensão de áreas marítimas protegidas”, totalizando mais de 300 mil quilómetros quadrados.
Este aumento decorre de novas áreas do Parque Natural Marinho do Recife do Algarve (Pedra do Valado) e da revisão do Parque Marinho dos Açores. O diploma deverá entrar em vigor em Setembro, quando o país terá protegido 19% das águas territoriais.
No que toca à parte terrestre, Portugal tem 22,4% da superfície classificada como área protegida – seja por via da legislação, seja por integração na Rede Natura. Em comparação com o contexto europeu, por exemplo, Portugal é dos países com mais terreno forrado por arbustos e menos área dedicada à agricultura.
Um país muito mais quente
As estações meteorológicas de Bragança, Castelo Branco, Lisboa, Beja e Funchal têm registado temperaturas que, quando agregadas em termos de médias, indicam “um padrão comum de aquecimento a partir do início dos anos 2000 face aos anos anteriores”. Esta observação é válida tanto para as temperaturas máxima e mínima, como para a temperatura média.
“A diferença face à década de 1960 aproxima-se dos três graus Celsius em Bragança para a temperatura máxima e supera os dois graus Celsius no Funchal para a temperatura média”, lê-se no relatório da Pordata.
No que toca à precipitação, o documento indica que não existe “uma tendência clara nos últimos 60 anos, alternando entre períodos mais e menos chuvosos”.
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