O Governo anunciou um programa para as cidades nas duas margens do Tejo. Na verdade, embora estejam perto, não há muito em comum entre as cidades de cada margem.
As cidades da margem esquerda partilham de Lisboa uma bela vista, é verdade. Também há centenas de milhares de habitantes da margem esquerda que partilham a circunstância de terem emprego em Lisboa. O que os obriga a uma deslocação diária e penosa, realizada às piores horas, as de mais movimento. O Governo anunciou grandes investimentos em novas infraestruturas para travessia do Tejo. Com que fim? Para acentuar este modelo desumano, criando condições para que mais trabalhadores possam ir morar para locais, mais baratos do que na capital, mas ainda mais longe dos seus locais de trabalho, para benefício dos especuladores, de ambas as margens? Com essa soma gigantesca, da ordem dos milhares de milhões, não se podia antes criar oportunidades de emprego mais cerca das terras de habitação?!
Decerto essa ponte não vai servir para aumentar a cooperação entre as suas indústrias. Porque já não existe indústria em Lisboa, que interaja com as da margem Sul, onde apesar de tudo ainda subsistem muitas. E dentro em breve, com a entrada em funcionamento da nova ligação ferroviária de Sines para a fronteira de Espanha, passando pelo Norte do Alentejo, com ligações à margem Sul e ao porto de Setúbal, toda esta região na margem Sul vai ter condições muito melhoradas para relançar o seu desenvolvimento industrial. E as interações com outras indústrias, de que precisará, não dependem da construção de uma nova ponte, porque essas indústrias, ou estão a sul, nomeadamente em Sines, ou no Centro e Norte do país, a que já acedem pela linha de Vendas Novas, que muda de margem numa ponte, em Setil.
Mesmo para exportar produtos ou importar os seus turistas, até já tem construído um grande aeroporto, largamente subutilizado, que precisa que terminem a autoestrada para Beja e de uma pequena ligação ferroviária, que ligue à linha do Sul e lhe dê escoamento para Norte e para o Algarve. É preciso também repor a ponte do Barreiro, prolongar o Metro até Alcochete e investir no prolongamento da nova linha até à estação do Pragal. Almada pode ser o ponto de partida da primeira linha de alta velocidade, em Portugal, a caminho de Madrid. É preciso também investir em Parques Tecnológicos, que tornem ainda mais atraente a região, para atrair, investimentos produtivos com empregos qualificados.
Mesmo para o desenvolvimento dos serviços avançados de processamento de informação, atualmente concentrados em Lisboa, toda esta região de Além Tejo vai beneficiar da acostagem dos cabos intercontinentais de fibra ótica, na sua costa, em Sines e em Sesimbra.
Mesmo os centros de cálculo estão a ser atraídos para a região, pela abundância da energia solar e pelas condições de arrefecimento dos computadores, pelo acesso à água do mar. A região a sul vai poder tirar partido desta oportunidade para criar estes novos empregos de serviços avançados, porque, entretanto, também criou, depois do 25 de Abril, duas novas universidades e vários politécnicos, de onde saem muitos jovens com a formação adequada. Antes tinham de procurar emprego na margem direita, onde se concentravam as universidades. A situação agora mudou.
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