Escolher ser médico é escolher um compromisso com o outro. É aceitar o peso da responsabilidade quando todos procuram respostas. É trabalhar quando o mundo dorme. É continuar a acreditar na ciência, na ética, na razão e, sobretudo, nas pessoas.
Ser médico não é um privilégio. É um serviço. E é por isso que entendo que a Ordem dos Médicos não é um luxo corporativo, nem uma estrutura fechada em si mesma. A Ordem existe porque a sociedade precisa dela. Porque cada cidadão tem o direito de confiar que, ao procurar cuidados médicos, será atendido por profissionais qualificados, responsáveis e eticamente comprometidos.
Nos últimos anos, a profissão tem enfrentado pressões crescentes: falta de condições, burocracia absurda, desvalorização sistemática do conhecimento e da experiência. E, pior do que tudo, uma tentativa recorrente de normalizar a ideia de que o médico é apenas mais um técnico no sistema. Recuso-me a aceitar isso.
A medicina é ciência, mas também é humanidade. É técnica, mas também é escuta. E só pode cumprir a sua missão se os médicos forem respeitados — na sua formação, nas suas decisões clínicas, no seu tempo, na sua dignidade, na sua autoridade.
É aqui que a Ordem tem de estar: a Ordem deve ser um espaço de exigência e de proteção; um farol ético e uma voz firme nos debates públicos. Tem de defender o ato médico, o reconhecimento do mérito, e as condições que o tornam possível. Tem de estar ao lado dos médicos — não por corporativismo, por ideologia ou por crítica pura, mas porque isso é estar ao lado da saúde de todos.
Acredito numa Ordem que não se refugia na nostalgia do que foi, mas se compromete com o que pode e deve ser. Uma Ordem com coragem política e sensibilidade social para construir pontes de entendimento, mas atenta e incómoda quando for preciso. Uma Ordem que participa, que propõe, que assume posições claras. Que seja ouvida não porque grita mais alto, mas porque fala com conhecimento, verdade e sentido de responsabilidade.
Nos últimos dois anos, tive o privilégio de integrar um projeto que procurou precisamente isso: dar voz aos médicos, reforçar a ligação com a sociedade, modernizar a visão institucional e colocar a Ordem no centro dos debates que realmente importam. Fizemo-lo com abertura, diálogo e espírito de serviço.
Mas há ainda tanto por fazer. E, neste tempo em que tantas vozes disputam a atenção pública com ruído e simplificações perigosas, mais do que nunca precisamos de uma Ordem com visão, com pensamento estruturado, com capacidade de influência. Não podemos deixar que a saúde se reduza a slogans ou a gestões de crise permanente. Precisamos de liderança. Precisamos de estratégia. Precisamos de compromisso com o longo prazo.
Quero uma Ordem com presença política — sem partidarismos, mas com posição. Uma Ordem com ambição de futuro — sem saudosismo, mas com memória. Uma Ordem que não desista de melhorar o sistema, mesmo quando o sistema parece resistir. Uma Ordem que trate os médicos como aquilo que são: pilares de um serviço essencial e rostos da confiança dos cidadãos.
É esse o caminho que escolho. Porque acredito que valorizar os médicos é valorizar o futuro da medicina. E que afirmar a dignidade da profissão é, no fundo, garantir um serviço de saúde que respeite quem cuida e quem é cuidado.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
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