Daqui a cinco anos deverá voltar a existir uma praia no Furadouro, em Ovar. A garantia é da Agência Portuguesa do Ambiente, apesar da erosão que tem afetado toda a linha de costa do país e que, nas últimas décadas, fez desaparecer várias praias.
A solução, segundo os especialistas, passa por repor milhões de metros cúbicos de areia nas zonas mais vulneráveis.
Maria Fernanda recorda a praia do Furadouro, em Ovar, memórias de infância dos anos 60, quando passava lá todos os verões — numa praia que já não existe.
Perdeu-se todo o areal. As ondas batem agora num pequeno muro, junto à marginal. No inverno, várias vezes, galgam essa barreira e invadem as ruas centrais do Furadouro.
Nove temporais só neste inverno destruíram várias partes da linha costeira.
Essa vulnerabilidade está bem visível no parque de estacionamento da praia de São Pedro, em Maceda, Ovar. O recuo da linha de costa nos últimos 20 anos fica evidente numa viagem temporal pelo Google Earth. Basta fixar o olhar no círculo de terra batida.
Em 2003, o parque era uma lua cheia quase perfeita, a várias dezenas de metros do Atlântico. Ano após ano foi perdendo distância do mar e, em 2025, já pouco resta. Hoje é apenas uma meia-lua, onde as ondas quase chegam.
Em duas décadas, a costa recuou 130 metros.
No bairro de pescadores da Costa Nova, quando se fala no mar, todos têm experiência para partilhar. Homens que trabalharam no alto mar na pesca do bacalhau têm sempre algo a dizer.
Foi em fevereiro que o mar destruiu uma parte do passadiço que liga as praias da Barra e da Costa Nova, em Ílhavo. Já tinha cedido antes e voltou a ceder à força das ondas.
Nos últimos dois anos, em Ílhavo, o mar avançou cerca de 30 metros.
A costa de Lavos e Cova Gala, a sul da Figueira da Foz, também continua a preocupar pelas perdas devido à erosão. Entre 2023 e 2025, o recuo foi de cerca de 40 metros.
Esta é a solução que atualmente defendem as autoridades, especialistas, teóricos e técnicos para o território português. A política de construção de esporões e estruturas em rocha está ultrapassada.
Para além dessas intervenções localizadas, a grande aposta é a alimentação artificial de areia: retirá-la por dragagem do alto mar ou dos canais de acesso aos portos e colocá-la nas praias, como vai acontecer nas próximas semanas na Costa Nova, em Ílhavo.
Está planeado repor milhões de metros cúbicos de areia nas zonas mais fragilizadas da costa portuguesa.
Nos casos mais graves e urgentes — como Moledo, Ílhavo, Fuseta e Vau — as intervenções devem começar antes do início da época balnear.
Mas as maiores intervenções, tanto em volume de areia como em investimento, são:
- Costa Nova: 150 mil m³ (1,5 milhões de euros)
- Figueira da Foz: 3,3 milhões m³ (27 milhões de euros)
- Quarteira: 1,4 milhões m³ (15 milhões de euros)
No Algarve, a linha de costa recuou 10 metros em Quarteira, com cenários semelhantes na Fuseta e no Vau.
A nível nacional, a erosão já afeta um quinto da costa continental portuguesa.
A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) assegura que há financiamento garantido para proteger a orla costeira nacional.
O novo quadro comunitário de apoio, válido até 2029, traz 140 milhões de euros para investir nos próximos anos.
A obra que arrancou em fevereiro na frente marítima do Furadouro é diferente. As máquinas estão, para já, apenas a reabilitar a estrutura de defesa que existia. É um investimento de 3 milhões de euros, um trabalho de engenharia pesada que impressiona quem aprecia a magnitude da intervenção.
A APA já lançou um estudo para complementar esta intervenção e garante que o cenário de voltar a ter praia no Furadouro é realista.
Nos finais dos anos 60, Alexandre Seixas, já falecido, captou imagens da praia do Furadouro. O areal era ocupado por várias barracas de praia, que abrigavam famílias durante dias inteiros.
No final dos anos 80, a vista era esta, na frente de mar do Furadouro.
No início dos anos 2000, ainda era preciso caminhar entre 100 a 130 metros pela areia para conseguir molhar os pés.
A promessa fica aqui feita: dentro de cinco anos, o homem e a maquinaria terão criado um novo areal entre a terra e o mar, e o Furadouro poderá voltar a ser um destino para um dia de praia.
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