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“A Tragédia de Aristides Inhassoro” mostra em palco o sangue menos falado do 25 de Abril – Showbiz

Escrita nos últimos quatro anos por Pedro Galiza, a obra conta “a história de um soldado negro ao serviço das forças armadas portuguesas, a favor do colonizador, contra o colonizado”, disse o autor à agência Lusa.

Galiza debruçou-se sobre o que seria para esta pessoa ganhar ou perder aquela guerra. “Seria sempre ganhá-la e perdê-la. Estaria numa espécie de situação impossível”, afirmou.

Apesar de considerar o 25 de Abril a data mais celebrável de todas as datas, o autor faz uma ressalva: “Quando nós dizemos que o 25 de Abril é uma revolução sem sangue, cuidado, houve treze anos de guerra colonial e a guerra colonial, todo o desenrolar da guerra colonial, desemboca no 25 de Abril”.

“Há muito sangue no 25 de Abril, há muitas vítimas do 25 de Abril, das quais nós não falamos. Estas pessoas massacradas em Wiriyamu contribuíram, com a sua morte, para que o 25 de Abril acontecesse. Indiretamente, tudo bem, mas contribuíram”, observou.

A elaboração do texto, que subirá ao palco do São Luiz a 24 de abril, foi também um exercício no sentido de olhar de frente para os crimes de guerra cometidos no Ultramar e aceitar que tal faz parte da história do Portugal e desses países.

“Faz parte da nossa história, ou seja, leva-nos ao sítio em que estamos hoje, estas mortes, estes massacres. O nosso manto de encobrimento traz-nos ao Portugal de hoje e, numa altura em que existe em curso um processo mais ou menos deliberado de amnésia, é bom que se fale destas coisas”, defendeu.

E acrescentou: “De cada vez que nós dizemos que o nosso colonialismo, por exemplo, era um colonialismo mais civilizado do que o de outros países, o colonizador quer operar o seu poder sobre o colonizado, ponto; e usa as ferramentas que tiver de usar”.

Do ponto de vista artístico, Pedro Galiza considera que “existe mérito na sua menção” no teatro. E assim é com “A Tragédia de Aristides Inhassoro”, uma peça que se divide entre “o antes e o depois do massacre” de Wiriamu, ocorrido em 1972 pelas tropas portuguesas e que resultou na morte de 385 pessoas em cinco aldeias, um terço dos seus habitantes.

O antes, explicou o dramaturgo, é ilustrado por “uma certa vivência colonial em Moçambique, com o seu racismo, o seu classicismo, a sua ignorância, o obscurantismo”. Na segunda parte, pós-Wiriamu, uma personagem casada com um inspetor da DGS tenta denunciar os massacres e tem como resposta do marido: “Tu vais ser engolida pelo futuro. Vais ficar a falar sozinha. Ninguém vai saber. Ninguém vai querer saber”.

O espetáculo apresenta uma lista com os nomes das vítimas deste “crime de guerra”, sobre o qual não se fala ou pelo menos não tanto como se devia, na opinião de Pedro Galiza.

“O que é mais interessante, hoje em dia, é nós olharmos para estes crimes de guerra de frente e, primeiro, aceitarmos que isto faz parte da nossa história”, disse o autor, que faz parte do elenco, acrescentando: “É preciso, não só saber que isto aconteceu, como é preciso saber o que é que não aconteceu em relação a isto”.

Com encenação de João Cardoso, esta peça nasceu de uma proposta do diretor artístico da companhia Assédio, para que Pedro Galiza escrevesse um espetáculo no âmbito dos 50 anos do 25 de Abril, que se assinalaram no ano passado, mas que não fosse “demasiado elogiosa”.

Dão vida à Tragédia de Aristides Inhassoro os atores Daniel Silva, Daniel Martinho, Catarina Gomes, Inês Afonso Cardoso, Maria Inês Peixoto, Pedro Galiza, Pedro Mendonça, Pedro Quiroga Cardoso, Susana Madeira, João Cardoso e Gracinda Nave.

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