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Açores, fantasia e resiliência na estreia literária da norte-americana Sarah J. Mendonça – Showbiz

“An Encantadora’s Guide to Monstros and Magic”, que acaba de sair pela Quill Tree Books, uma chancela da Harper Collins, é uma história de fantasia e aventura protagonizada por Rosa Coelho, uma rapariga de 12 anos, caçadora de monstros.

Rosa vive num bairro pobre, chamado Os Pés, e segue a tradição da família Coelho e da avó Leonor de apanhar toda a espécie de monstros e criaturas. Um dia, o Ministério dos Monstros ameaça retirar a licença de trabalho à avó, por causa de dívidas de dinheiro.

“O livro é sobre uma personagem que luta pelos sonhos dela, que quer deixar de ser pobre, sair dessa situação, e planeia um assalto contra o governo que a oprime. […] A minha protagonista tem muito amor e compaixão por quem passa por situações dessas” de pobreza, contou a escritora em entrevista à agência Lusa a partir dos Estados Unidos.

A narrativa, dentro do universo da fantasia, é dirigida a leitores entre os 9 e os 12 anos e está povoada de palavras em língua portuguesa (cujo significado se vai percebendo na história) e de ambientes que remetem, em particular, para a paisagem e tradições da cultura do Açores.

Sarah J. Mendonça tem 35 anos, vive e trabalha no estado do Wisconsin, próximo do Canadá. A mãe é norte-americana e o pai é português, açoriano de São Miguel, que emigrou com a família, ainda em criança, para o Canadá e, já em adulto, para os Estados Unidos.

A escritora fala pouco português, mas foi mantendo ligação com a família paterna e algum contacto com a cultura açoriana. Nunca esteve em Portugal continental, mas vai regularmente à ilha micaelense.

“O meu pai sempre me quis mostrar tudo da ilha, passávamos muito tempo a conduzir, íamos à praia, lembro-me da areia preta. O meu sítio favorito é nas Furnas. Foi uma inspiração enorme para o livro, adoramos quando fica assim com nevoeiro, é muito místico”, descreveu.

Além das referências a Portugal, a história de Rosa e da avó Leonor inspira-se também na resiliência dos pais e de todos os que passam dificuldades ou tem poucos recursos: “Culpa-se muito quem é pobre, mas eu acho que é uma questão de sorte. Não é culpa da pessoa que luta contra isso se o sistema não permite que se saia dessa ratoeira”.

“An Encantadora’s Guide to Monstros and Magic” é a estreia literária de Sara J. Mendonça, que esteve quase a desistir de publicar, depois de muitas rejeições de editoras.

“Decidi que ia investir tudo nesta história, meter tudo o que eu gosto e a minha dedicação. Enviei o livro para 59 pessoas, estava num ponto em que já tinha mais de trinta rejeições. Senti que foi muito difícil. Passei por muita coisa, sacrifiquei tanto, tive trabalhos temporários, mal pagos, só para ter tempo para escrever” durante mais de 15 anos, contou.

Acabou por conseguir ter uma resposta positiva de um agente literário, assinou contrato com uma editora de um dos maiores grupos editoriais dos Estados Unidos e está já a escrever o segundo volume de “An Encantadora’s Guide to Monstros and Magic”.

Sarah J. Mendonça diz que em criança não sabia que era possível ser-se escritora, mas “era uma grande leitora, durante as aulas, a caminho de casa. Estava sempre a ler”.

“O meu pai não era um leitor, mas sempre me encorajou, levava-me a livrarias, a pechinchas, comprava-me sempre. Todas as noites contava-me histórias. A minha mãe era igual, adorava ir comigo à biblioteca”, lembrou.

Enquanto leitora, os livros ajudaram-na sempre a sentir-se visível.

“As pessoas esquecem-se como é difícil ser um miúdo, as primeiras zangas com o melhor amigo, as mudanças de escola, ter de lidar com muitas emoções, e são precisas histórias que ajudem a ultrapassar essas etapas. Os livros existem para lidar com grandes emoções. A parte boa é a oportunidade de poder ser o autor preferido de alguém”, disse.

O seu público-alvo está entre a infância e a pré-adolescência, num mercado literário competitivo e difícil, porque os leitores se tornam mais autónomos e dispersam a atenção e porque a remuneração dos escritores neste segmento é mais baixa, explicou.

“Os autores têm quase todos empregos para lá da escrita, não me sinto mal com isso”, reconheceu a escritora, que tem um trabalho a tempo inteiro na área administrativa.

Depois do verão, Sarah J. Mendonça prepara-se para trabalhar a conquista de leitores de “An Encantadora’s Guide to Monstros and Magic” em visitas a escolas e bibliotecas: “Nos livros para adultos tens de ser grande nos primeiros dias de vendas. Nesta faixa etária [9-12 anos] é uma coisa mais de longo curso”.

“Estou agora num momento em que posso dizer que não vou parar de escrever. Compreendo que publicar já está fora do meu controlo, entendo que ter ou não sucesso também já está fora do meu controlo. Mas também sei que vou continuar a contar histórias”, disse.

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