Jerome Powell fez soar os alarmes nos Estados Unidos. Wall Street voltou a mergulhar no vermelho e acentuou as perdas registadas na sessão desta terça-feira, depois de o presidente da Reserva Federal ter discursado esta tarde e ter admitido que as recentes políticas comerciais de Donald Trump poderão ser uma verdadeira barreira ao duplo mandato do banco central – o pleno emprego e a estabilidade da inflação em torno de 2%. 

Assim, a Fed sublinha que não tem pressa para cortar as taxas de juro, o que agravou as perdas que já se registavam nos índices norte-americanos. No Clube Económico de Chicago, o número um da Fed sublinhou que o banco central deve garantir que as tarifas não desencadeiam um aumento mais persistente da inflação, alertando para a probabilidade de uma volatilidade contínua nos mercados financeiros.

Para piorar o sentimento do mercado, a Organização Mundial do Comércio reduziu as previsões para o comércio de mercadorias este ano, uma vez que o aumento dos direitos aduaneiros dos EUA e o aumento da incerteza pressionam o comércio internacional. A entidade prevê uma queda de 0,2% em 2025 e avisa que a contração ser pior (de 1,5%) se os EUA avançarem com tarifas recíprocas mais pesadas.

A procura por ativos de risco continua, assim, em queda: 90% das ações do S&P 500 chegaram a estar no vermelho e o “benchmark” acabou por desvalorizar 2,24% para 5.275,74 pontos, o tecnológico Nasdaq Composite perdeu 3,07% para 16.307,16 pontos e o industrial Dow Jones cedeu 1,73% abaixo dos 40 mil pontos, para 39.669,39 pontos. 

As empresas de semicondutores sofreram a maior queda em bolsa. Os EUA restringiram ainda mais as exportações de “chips” da Nvidia para a China e outros países, o que deve trazer para a empresa encargos de 5,5 mil milhões de dólares só no primeiro trimestre fiscal. A fabricante de semicondutores chegou a mergulhar mais de 9% na sessão desta tarde, mas acabou com perdas de 6,9%. Outras empresas do setor foram “de arrasto”: a Advanced Micro Devices caiu 7,4%, contagiada também pelos lucros da holandesa ASML, que não animaram o mercado.  

A Tesla tombou mais de 6%, depois de ter dito que a quota dos carros elétricos da empresa vendidos na Califórnia desceu para menos de 50%. Já a Lyft caiu 0,5% após ter revelado que comprou a congénere europeia Free Now por 175 milhões de euros, preparando-se assim para entrar no mercado europeu. A Uber tombou 1,3%.

Em contraciclo, a Hertz Global disparou 56% após a Pershing Square Capital Management ter revelado que passou a deter 12,7 milhões de ações da empresa, o equivalente a 4,1% do capital.

“O sentimento em relação aos ativos de risco dos EUA está a mostrar todos os sinais de cicatrizes a longo prazo e, se não forem feitos progressos significativos nas negociações comerciais com os principais parceiros comerciais dos EUA nos próximos 90 dias, poderemos ter um verão difícil para os mercados acionistas”, lamentou Gareth Ryan, da IUR Capital, à Bloomberg.