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Algarvensis, ícone de uma região à espera da decisão da UNESCO | Geologia

A região algarvia poderá vir a ter o sétimo geoparque da UNESCO em Portugal. A equipa de avaliadores vai estar no terreno entre 5 e 10 de Julho, para analisar o trabalho da candidatura, apresentada pelos municípios de Loulé, Albufeira e Silves. O resultado da auditoria, no entanto, só deverá ser conhecido na primeira semana de Setembro, no decorrer da conferência mundial de geoparques, a ter lugar no Chile. Com a criação do geoparque Algarvensis, dizem os promotores, um conjunto de aldeias onde há mais de 250 milhões de anos passeavam dinossauros – vai ganhar nova vida. De futuro, adianta a coordenadora científica, Elizabeth Silva, esses sítios vão constituir rotas turísticas ligadas à interpretação da paisagem, ocupação humana, história e recursos naturais.

Quando, em 2008, uma equipa internacional de paleontólogos encontrou os ossos de uma salamandra gigante a que foi dado o nome Metopossaurus algarvensis –, não imaginaria estar perante a descoberta de uma nova espécie para a ciência. Os restos do anfíbio, com cerca de dois metros de comprimento (cujo esqueleto pode ser visto no museu municipal de Loulé), foram encontrados num antigo lago junto à rocha da Pena. “A aldeia da Penina [situada nas imediações] é a catedral do Geoparque”, diz a coordenadora científica Elizabeth Silva, acrescentando que está previsto criar nesse local “um centro de interpretação”. A aldeia, justifica, já incorporou a identidade dos objectivos que foram traçados valorizar as pessoas e o território onde se inserem.

Ao contrário do que estava inicialmente previsto, esta candidatura a património de interesse universal alargou o espaço de intervenção do território do interior até à praia de Albufeira e ao Parque Natural Marinho Pedra do Valado, no concelho de Silves. Na primeira fase do processo, até Setembro de 2023, a proposta compreendia só a zona da beira-serra. “Recomendámos à UNESCO que este geoparque não ficasse de costas voltadas para o mar, porque toda a região está conectada com a sua história”, diz Elizabeth Silva, acrescentando: “Desde as pegadas ancestrais de [dinossauros] da praia dos Arrifes (Albufeira) até à Penina (interior de Loulé), há uma nova história para contar sobre o Algarve”, sublinha.



Fóssil da salamandra gigante Metoposaurus Algarvensis
Duarte Drago

A primeira jazida de pegadas de dinossauro na praia dos Arrifes está documentada desde 2016, mas só começou a ser estudada no âmbito da candidatura a geoparque mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). De relevante interesse, os paleontólogos referem que a jazida com 12 pegadas, algumas em sequências tridimensionais, revela a presença de saurópodes de grande porte, dos quais fazem parte os brontossauros, os dinossauros de pescoço comprido popularizados pelo cinema.

A descoberta do Metoposaurus algarvensis foi divulgada, em primeira mão, num artigo científico publicado na revista Journal of Vertebrate Paleontology. Na altura, o paleontólogo Octávio Mateus, da Universidade Nova de Lisboa, classificou de “absolutamente extraordinário” o achado da equipa de que fazia parte, constituída por investigadores das universidades de Edimburgo, Birmingham e do Museu da História Natural de Paris. O que se pretende agora, destaca Elizabeth Silva, não é apenas dar a conhecer esse património ao turista, “mas despertar também o interesse da comunidade científica e das populações locais” para a vida de criaturas que viveram em lagos e rios que secaram há milhões de anos.

Octávio Mateus, em 2016, em declarações ao PÚBLICO, afirmou: “Na primeira visita [à rocha da Pena], em 2007, descobrimos logo a jazida principal, e logo aí ficamos com os olhos esbulhados.” O que se veio a concluir, disse, “é absolutamente extraordinário, pois estamos a falar de um dos melhores locais do país em termos de vertebrados fósseis sabíamos que existia, mas não com esta riqueza”. Por seu lado, Artur Sá, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), destaca a importância do projecto Algarvensis, como sendo “um laboratório da ciência cidadã”, não apenas na aldeia da Penina, mas também em Querença, no sítio geológico do Pirinéu, uma “fotografia” da colisão continental que formou uma grande cadeia montanhosa denominada Cadeia Varisca e que levou à formação do supercontinente Pangeia.

Debaixo de um sol abrasador, com os automóveis a circular na estrada de Querença para Salir, o paleontólogo alemão Stefan Rosendahl comenta: “Quando aqui venho com os meus alunos, desafio-os a colocarem as mãos em cima da Pangeia [o supercontinente que unia todos os actuais continentes].” A discordância angular que se observa, a partir dos sedimentos ali depositados na vertical e horizontal, acrescenta Artur Sá, resulta da desagregação do supercontinente Pangeia. “Olhamos para lá e vemos o fecho de um oceano, a formação de um continente e de uma cadeia montanhosa associada à abertura de um novo oceano.” Tudo isto ali, num talude junto à estrada.

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