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Às margens do Rio Tejo, na região do Ribatejo, o município de Alverca, a 30 quilômetros de Lisboa, se transformou em um recanto para jogadores de futebol, empresários e trabalhadores brasileiros. São cerca de 4 mil cidadãos oriundos do Brasil — 10% da população local — que movimentam a atividade, abraçam o clube da cidade que acaba de subir para a primeira divisão do campeonato português e veem na subsidiária da Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica), a OGMA (Indústria Aeronáutica de Portugal), uma força econômica.
A recente aquisição da SAD (Sociedade Anônima Desportiva) Alverca por investidores brasileiros e espanhóis, entre eles, o jogador Vinícius Júnior, do Real Madrid e da Seleção Brasileira, aumentou ainda mais o interesse da opinião pública por esta região do território português. Se depender do presidente da SAD, José Miguel Albuquerque, Vini Jr. desembarcará em Alverca o mais rapidamente possível e “será muito bem recebido”, pois está vibrando pela conquista do clube.
O presidente da Junta de Freguesia de Alverca e Sobralinho, Cláudio Lotra, abre um largo sorriso ao dizer que também aguarda uma visita do craque brasileiro, especialmente no início do campeonato português, “o que será uma atração ainda maior para o clube e para a cidade”. No entender dele, a conquista do time, com 14 jogadores do Brasil, como vice-campeão da Liga 2 e, agora, como integrante da elite do futebol do país, acaba por ser um reforço para o município. Ele acrescenta que a conquista “dará valor à grande comunidade brasileira que já reside no município”, totalmente integrada à vida cotidiana local.
Pedro Bicalho, capitão do time do Alverca, quer, agora, ver a família no Brasil e descansar
Carlos Vasconcelos
A entrada em cena do Vinícius Júnior na SAD do Alverca, para o presidente da Freguesia, é um detalhe a mais que contribui com a realidade da cidade. “A participação do Vinícius acaba por ser uma evolução natural, porque Alverca já possui uma grande quantidade de brasileiros, que estão perfeitamente integrados na nossa vivência local e será uma motivação a mais para todos”, frisa.
Jogadores na elite
O jogador e capitão da equipe do Alverca, Pedro Bicalho, 24 anos, natural de São José dos Campos, São Paulo, saiu do Palmeiras há dois anos para embarcar na difícil tarefa de garantir o clube na segunda liga e, em seguida, levá-lo à elite do futebol português, a Liga 1. “Saí do Brasil e vim para o Alverca e começou dando tudo certo, tem sido maravilhoso”, diz.
Bicalho ressalta que o melhor teria sido levantar a taça de campeão da segunda divisão, mas a subida para o grupo principal do futebol português foi uma grande conquista. Ele garante que a alegria dos jogadores no campo é a mesma fora dele, pois são parceiros de longa data. “A gente se ajuda dentro e fora do campo”, assegura.
Ao lado de Bicalho, também despontam no time o goleiro João Bravim (ex-Santos e ex-Cruzeiro), os defensores Brener Lucas (ex-Cruzeiro), Cesinha (ex-Bragantino) e Alysson (ex-Botafogo), além de Vitinho (ex-Palmeiras) e Eduardo Argeu (ex-Cruzeiro), entre outros. Neste momento, porém, com o campeonato encerrado, o capitão da equipe só pensa em rever a família em São José dos Campos e descansar para, então, retornar com força à primeira liga.
Depois de jogar por dois anos no time do Alverca, Vinícius Caldeira Trica, 32, de Suzano, São Paulo, há quatro anos desempenha as funções de gerente do time (team manager). Para ele, “a legião de brasileiros que veio reforçar o clube do Ribatejo o colocou no lugar que deveria estar”.
Presidente do Alverca, Fernando Orge faz questão de ressaltar o papel dos jogadores na disputa que resultou em uma vaga na elite do futebol do país. Ele frisa que a conquista repercutiu em Portugal e até internacionalmente. “O trabalho e o esforço compensaram, pois é um orgulho para a cidade”, afirma.
Controlada pela brasileira Embraer, a OGMA, que faz manutenção de aviões, se tornou a maior empregadora e a principal pagadora de impostos de Alverca.
Rui Gaudêncio
“Para nós, é muito importante ter um clube da nossa terra na primeira liga, porque influencia na economia e na divulgação do nosso território”, observa Orge. Segundo ele, a ordem é continuar trabalhando para que os resultados futuros sejam ainda melhores.
Brasileiros na cidade
Ao falar sobre a história do município de 40 mil habitantes, Cláudio Lotra, presidente da Junta da Freguesia, relembra a chegada de brasileiros na cidade. “Muitos vieram para trabalhar no comércio e nos serviços e acabaram por se integrar à dinâmica do lugar”. Na visão dele, os jogadores brasileiros e alguns membros da comissão técnica do Alverca acabaram por aprofundar o intercâmbio entre o clube e a população.
O pouso da Embraer na região, em 2021, quando da aquisição de 65% do capital da OGMA, trouxe, segundo Lontra, um grupo de trabalhadores muito qualificados do Brasil, que se fixaram no município. A empresa, com cerca de 2 mil funcionários, “é a maior empregadora” da região, que abrange, inclusive, Vila Franca de Xira, e a maior pagadora de impostos.
A previsão é de que, até 2027, a empresa triplique o faturamento, hoje próximo de 230 milhões de euros por ano. A informação é do presidente da Indústria Aeronáutica de Portugal, Paulo Moginho, que atribuiu tal estimativa ao projeto de manutenção dos motores dos aviões Airbus 320neo e dos jatos E2, da Embraer. “Uma evolução extraordinária para a empresa e para a indústria portuguesa.”
Há menos de seis meses, o grupo francês ADO inaugurou, na região de Castanheira, o Centro Nacional de Distribuição da Leroy Merlin, com aproximadamente 600 trabalhadores, boa parte deles, brasileiros. A informação é do ministro da Economia, Pedro Reis, que ressalta a capacidade de atração de investimentos por Portugal e, em particular, pela região do Ribatejo. “Estamos no caminho certo”, afirma Lontra.
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