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“Antigamente é que era bom”? Estas mulheres alentejanas respondem | 25 de Abril

“Se quisesse beber, se quisesse lavar a casa, tinha que carregar a água à cabecinha.” É um retrato do Portugal antes do 25 de Abril de 1974, contado na primeira pessoa, pelas mulheres que o viveram.

Uma ideia do colectivo Ai Filhas, composto por três “filhas da revolução” — Isabel Coelho, engenheira agrícola, Susana Eugénio, designer de multimédia, e Andreia Sousa, engenheira zootécnica , que se conheceram em diferentes momentos da vida, que se perderam e reencontraram, para finalmente darem vida a histórias esquecidas, ou talvez nunca contadas.

O projecto começou em 2022, com outro propósito: contar as histórias das mulheres que trabalharam nos campos, para dar a conhecer o “ecossistema económico e social” do montado alentejano, ao abrigo da iniciativa Mulheres, saberes práticos e Montado. “Quando decidimos conversar com estas mulheres, conversámos sobre tudo. Perguntámos tudo. Quem eram elas, os pais, o que faziam, se foram à escola, quais foram os primeiros trabalhos que fizeram, perguntámos sobre o período… Tudo. E elas deram-nos o que quiseram dar”, relatam.

O resultado foram seis horas de filmagens, condensadas em oito vídeos de 20 minutos, publicados no YouTube. Mas muito do que nestas horas se falou acabou por ser excluído destes vídeos, já que o tema era o montado – e não a liberdade. As gravações não ficaram, contudo, guardadas por muito tempo.



“Nós ficamos muito surpreendidas com as respostas e as vivências delas. A vivência rural era diferente da vivência da cidade. Se aquelas histórias nos surpreenderam, imaginámos o quanto surpreenderiam as nossas filhas.” E quiseram mostrar-lhes.

Foi assim que nasceu a ideia de dar uma nova vida a essas entrevistas e transformá-las em 50 vídeos curtos, a propósito dos 50 anos do 25 de Abril, que estão a ser partilhados nas redes sociais do colectivo.

Os trechos de alguns segundos, acompanhados de artigos da Constituição, mostram as histórias de diferentes mulheres de oito freguesias de Évora. Contam os “relatos de muita violência, tanto física como psicológica”, descrevem. “Percebemos, por exemplo, que muitas delas nunca tiveram gravidezes porque a fome era tanta que desconfiamos que os ciclos menstruais nem eram normais.” Cruzaram-se com mães que tinham perdido filhos, conversaram sobre o aborto tabu ou sobre o quão difícil era ir à escola.

Impressionaram-nas as histórias de “crianças a tomar conta de crianças”: “Uma senhora contou-nos que não foi à escola porque teve de ficar a criar as irmãs, para os pais irem trabalhar. Tinha oito anos e tomava conta de bebés, fazia lume, aquecia comida.” Outra contou-lhes que não gostava de ir à escola porque a professora lhe batia e a obrigava a ir limpar e fazer o almoço para a sua casa.



O colectivo Ai Filhas
DR

Infâncias roubadas — que há quem ainda tente resgatar. Num dos vídeos, vê-se uma boneca junto das entrevistadas. Um desejo outrora considerado um luxo, difícil para grande parte da população. A boneca, cuidadosamente colocada ao seu lado, é a imagem de uma “criança interior que finalmente consegue viver a infância”.

Era assim o antigamente. Por isso mesmo, Isabel, Susana e Andreia decidiram apresentar os vídeos sob o mote “Antigamente é que era bom!” — um slogan que tem ecoado — e mostrar que “antigamente não era bom”. “Se não fosse o 25 de Abril”, reconhecem as protagonistas destes vídeos, ainda hoje “seriam pobres”. A Revolução dos Cravos trouxe a possibilidade de “ir à escola, votar, ter filhos em segurança, ter planeamento familiar, ter uma habitação condigna”, lembram as criadoras do projecto. E esperam que as filhas e os filhos de todo o país “não se esqueçam”.



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