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As plantas também se afogam

As miúdas gostam de jardinar, pés enterrados na lama, sabugo cheio de terra, cara com dedadas de terra. Saem à avó. Estou a ver as três neste momento através da janela da quinta: estão a civilizar um dos talhões do jardim depois da devassa hídrica que foi este inverno, a lezíria é neste momento um universo anfíbio só habitável com galochas nos pés e com um barquinho insuflável às costas, não vá o diabo tecê-las. É incrível a quantidade de detalhes que elas têm pela frente: limpar ervas daninhas e plantas invasoras que canibalizam as originais; e “limpar” é um verbo muito insonso que não descreve bem a luta que dá uma urtiga grande que teve meses para se instalar, é preciso torcer-lhe a raiz da mesma forma que se torce o pescoço da galinha; é preciso dar luta à toupeira que não pára de abrir buracos vulcânicos; é preciso reconhecer que muitas das plantas favoritas não sobreviveram e que não vale a pena estar ali numa respiração boca a boca; é preciso retirar o excesso de água de muitos vasos para salvar as plantas do afogamento. Sim, as plantas também se afogam, embora numa escala temporal diferente. Nós afogamo-nos em segundos ou minutos, elas em meses. Lá ao fundo, à direita, as jovens oliveiras, plantadas há menos de um ano, não vão sobreviver, não têm galochas nas raízes ainda pequenas. Ao fundo, à esquerda, os pessegueiros que eu plantei há dois anos também estão nos cuidados intensivos. E se há árvore sensível, manienta, caprichosa, é o pessegueiro. Está para a horta como o peru está para o galinheiro: qualquer coisinha e já foi à vida. São flores de estufa.

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#plantas #também #afogam

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