Por Pedro Moura (*)
Escrevo-vos esta carta — a vós, gestores de BI, data scientists, responsáveis de analytics e decisores que trabalham com data lakes, dashboards e pipelines de machine learning. Já estive no vosso lugar. Passei mais de 10 anos no mundo do Business Intelligence, a construir datamarts, cubos OLAP, processos ETL, relatórios e dashboards para equipas executivas e departamentos de negócio.
E ainda me lembro, perfeitamente, do dia em que ligámos uma simples visualização geográfica a uma das nossas ferramentas — o Knosys ProClarity, sobre o motor OLAP do Microsoft SQL Server 7 (bons tempos). O modelo de dados manteve-se igual. Mas a reação do cliente? Foi como se tivéssemos acendido a luz da sala.
Ficaram maravilhados com a capacidade de ver o negócio num mapa: regiões coloridas por performance, a possibilidade de explorar até ao nível da cidade, da loja ou do território. Parecia óbvio. Parecia poderoso. Parecia algo que sempre deveria ter estado lá. Mas não estava.
E, honestamente? Ainda não está.
A dimensão mais subestimada do teu stack de analytics
Imagina que os teus analytics só te mostravam uma imagem estática de um KPI — sem linhas de tendência, sem comparações ao longo do tempo, sem análise de crescimento. Ridículo, certo? O tempo é uma dimensão fundamental em qualquer análise. Contamos sempre com ele.
Agora aqui vai a provocação: porque é que o espaço não é tratado com o mesmo respeito?
O local onde as coisas acontecem — vendas (presenciais e online), incidentes, moradas de clientes, lojas, engagement, churn – é tão importante como o momento em que acontecem. E no entanto, a geografia continua ausente na maioria dos ambientes de analytics e BI.
E não, não me refiro a um mapa estático num dashboard. Falo de geografia como uma verdadeira dimensão analítica, ao nível do tempo, acessível a qualquer utilizador de negócio — não apenas ao especialista em GIS.
O problema com os GIS tradicionais
Há uma razão para a geografia continuar desaparecida: as ferramentas GIS sempre foram difíceis de usar. Pensa em ArcGIS, MapInfo, QGIS — ferramentas incríveis, mas com a complexidade de um Photoshop. Um utilizador de negócio não usa Photoshop para recortar uma imagem; usa algo como o Canva. E com a análise espacial é igual: até agora, não havia um “Canva” para mapas.
Por isso, durante décadas, o GIS viveu num silo técnico. Os utilizadores de negócio tinham de pedir mapas, esperar semanas ou mais, e depois tentar interpretá-los. Se quisessem uma pequena modificação, explorar uma hipótese, tinham de voltar ao ciclo e à espera. Os especialistas em GIS passavam grande parte do tempo a fazer mapas temáticos básicos em vez de se focarem em modelos espaciais de alto valor.
A nova era: a geografia como experiência central de dados
Mas isso mudou. As plataformas de Geospatial Intelligence baseadas na web e na cloud estão a eliminar essas barreiras.
Hoje, qualquer utilizador de negócio pode:
- Explorar e comparar KPIs por região, território ou áreas personalizadas
- Combinar dados internos com dados externos (como demografia, mobilidade, localização de lojas) através da Geografia
- Visualizar campanhas, performance de vendas ou operações no espaço e no tempo
- Tomar decisões com base em padrões espaciais reais — e não apenas em gráficos de barras e tabelas
E a tua equipa de GIS? Agora pode parar de produzir gráficos de setores sobre mapas e começar a capacitar decisões geográficas de verdade, focando-se em análises e modelos de elevado valor acrescentado que serão distribuídos aos utilizadores de negócio através das plataformas de Geospatial Intelligence.
Complementar, não substituir
Isto não é para substituir os teus dashboards ou data warehouses/lakes. É para os complementar.
Tal como construíste fluxos de análise baseados no tempo, podes agora capacitar os utilizadores com insights baseados em localização. Não é um mapa estático e clicável num dashboard, como num PowerBI ou Tableau – é uma interface orientada pela geografia, feita para colocar e responder a perguntas espaciais.
E há mais: a geografia dá vida aos teus dados. Estas ferramentas geográficas pegam nos números e factos que tanto trabalhaste para reunir e processar — e colocam-nos à vista de todos, num mapa. Os utilizadores de negócio vão ficar deslumbrados ao início — e depois vão usá-los todos os dias. Porque o paradigma do mapa é algo intrínseco à mente humana. Isto não é apenas análise de dados. É os dados a ganharem vida e valor.
Um desafio e um convite
Se és um líder de dados ou analytics, pergunta-te:
- O que respondes aos teus “clientes internos” quando te pedem dados ou análises geográficas?
- Quão fácil é disponibilizar um dataset geoespacial ou um ambiente analítico a um utilizador ou equipa?
- Tens uma ideia clara de como seria um sistema de Geospatial Intelligence a nível organizacional e com grau empresarial?
- Os teus utilizadores de negócio conseguem aceder, de forma fácil e autónoma, a dados e análises geográficas? Conseguem facilmente adicionar outros datasets internos ou externos à sua análise?
- O teu stack de analytics consegue mostrar-te onde as coisas acontecem, com a mesma facilidade com que mostra quando acontecem?
- A tua arquitetura de dados está preparada para entregar inteligência espacial como parte dos teus serviços de dados?
Um superpoder do Geospatial Intelligence: a geografia consegue ligar datasets que não têm qualquer outra chave em comum. Nenhuma. Sem IDs, sem timestamps, sem códigos de cliente — apenas localização. Isso é um superpoder, tanto a nível analítico como de ETL. É assim que a geografia se torna no terreno comum — literalmente.
Se o teu stack de analytics ainda não está preparado para isto, está na altura de agir. Porque os teus concorrentes podem já estar a fazê-lo.
Na Mapidea, estamos a ajudar organizações de todos os tamanhos a trazer a geografia para o centro dos seus analytics. A nossa missão é democratizar a Location Intelligence — transformando a geografia numa linguagem comum entre equipas, do marketing e vendas às operações e estratégia.
Guarda bem estas palavras: o mapa já não é uma decoração no teu dashboard. É uma janela para o “onde” do teu negócio, e uma forma incrível de os teus dados brilharem e se transformarem em valor real — por todos, em toda a organização. Está na altura de o abrires.
(*) Executive Partner@Mapidea
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