Viva o Papa mestiço!
Parte do sangue que circula nas veias de Leão XIV foi herdado de negros das Caraíbas francesas emigrados para Nova Orleães. Na sua juventude em Chicago, o rapazinho Bob seguramente sentiu a discriminação imposta por um país em que ter uma gota de sangue africano classifica o cidadão como “black person”. Temos então um Papa que, para além da sua vivência americana e peruana, carrega consigo a experiência do racismo. Por isso, Trump preferia que, a ser americano, o Papa escolhido fosse o cardeal de Nova Iorque. Para todos nós de sangue mestiço, Leão XIV é uma enorme esperança de um mundo melhor em que cada vez mais não se tolere a discriminação racial.
Artur Águas, Porto
Uma entrada de Leão!
“Esta é a paz de Cristo ressuscitado, uma paz desarmada e uma paz desarmante, humilde e perseverante. Ela vem de Deus, Deus que nos ama a todos incondicionalmente.” Assim expôs o novo Papa Leão XIV, de forma clara e singela, o seu pensamento em relação à guerra, sem as ambiguidades quando que em nome da paz se fala por vezes de paz pela força, ou paz armada.
No início do seu discurso, Leão XIV entra em rota de colisão com as baratas tontas de Bruxelas que preparam créditos de 800 mil milhões de euros para aquisição de armamento, contra todos os dados objectivos que demonstram a enorme superioridade da Europa em equipamento bélico. Entra também em frontal contradição contra o secretário da NATO, Mark Rutte, que pretende extorquir-nos nada menos do que de 5% do PIB, todos os anos, ou seja, mais de dez mil milhões de euros por ano, para alimentar as paranóias de uma suposta defesa. E deixa no ar uma pergunta para Nuno Melo, que na AD se apresenta como representante de um partido democrata-cristão: vai seguir a cartilha do novo Papa ou a do secretário da NATO?
Paz desarmada e desarmante; que as garras afiadas do novo Leão não se gastem contra o cinismo da fraca gente que nos governa. Habemos papam!
José Cavalheiro, Matosinhos
Paz. Pontes. Povo de Deus
Entre o fumo branco e a aparição do novo Papa, dei por mim a pensar: oxalá o Papa queira ser ele mesmo, e não assemelhar-se a Francisco ou afastar-se de Bento XVI. Depois de o ouvir, reforço esta vontade. Não há duas primeiras impressões.
Ontem vivemos o início de um pontificado novo que, ao que parece, será da promoção da paz e do diálogo. A emoção com que se dirigiu à multidão e as reacções que se seguiram confirmam que o conclave teve sensibilidade e ouviu o Espírito Santo. Mostrou naquele discurso que fica para a história preparado. Não foi um acaso. Não foi sem querer que ali chegou.
Pessoalmente, vejo esta eleição como uma vitória dos moderados e dos concretizadores. Daqueles que, com e através da palavra, levam o mundo avante. Uma vez mais, os diplomatas e os viajantes, aqueles que fazem do mundo uma aldeia e que têm visão do mundo, prosseguem. A transformação continua. Não como a de Francisco (…), mas como a de Leão XIV.
Pedro Perdigão, Lousada
O genocídio israelita
Israel prossegue imperturbadamente o seu desígnio de liquidar o povo palestiniano, ao mesmo tempo que vai ocupando todo o território da Faixa de Gaza. Respaldado pela “abnegada” protecção de Trump, que teve a luminosa ideia de sugerir para o local a construção de uma outra Riviera com emprego maciço de capitais e indústria americanos, o Exército israelita não só mata e destrói indiscriminadamente tudo o que encontra pela frente, como restringe propositadamente a ajuda humanitária, provocando a morte e a doença naquela população, bandeada de lado para lado, por carência de bens essenciais. Corta o coração ver as imagens transmitidas pela TV com magotes de palestinianos acotovelando-se e crianças estendendo os pratos, gritando e chorando por um pouco de comida.
É assim que a solidariedade entre as próprias vítimas acaba por ceder o lugar à traição, ao egoísmo mais cruel e ao salve-se quem puder, evocando-nos o fundo abismo de uma humanidade degradada descrito por Primo Levi em Se Isto É Um Homem (…). Quem diria que os perversos verdugos de hoje haveriam de seguir os métodos dos algozes que infligiram o mal aos seus antepassados?
António Costa, Porto
Nação valente
O apagão durou só umas horas. Entrámos em parafuso. Em Gaza falta a luz todos os dias. Também falta água, gás, medicamentos e, sobretudo, comida. O que sobeja são as bombas. Nação valente! Por cá, bastaria um apagão por semana para nos “rendermos”.
João Miranda, Paço de Arcos
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