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Cartas ao director | Opinião

Contra a cultura do ódio, defender a democracia

Reza a história que o general franquista José Millán-Astray gritou ao filósofo Unamuno, em Salamanca, as seguintes palavras: “Muera la inteligencia!” E que Goebbels, um dos psicopatas dirigentes do III Reich, dizia: “Sempre que ouço falar de cultura, puxo logo da pistola!” Que dizer do trumpismo, hoje, na sua feroz sanha contra as universidades e o saber científico?

O ódio às artes e letras, ao livre pensar, à educação e à cultura como pilares da cidadania democrática sempre caracterizou as nossas elites mais reaccionárias, aqueles que se dizem “mais patriotas que os outros”, se não mesmo únicos detentores do estatuto de “portugueses de bem”.

Por isso, a censura contra o pensamento, a repressão contra artistas, a queima pública de livros, a imposição de uma matriz de ódio contra os “outros”, a desfiguração da História sempre estiveram na génese do fascismo.

No nosso caso, vivem dos saudosismos salazaristas, das nostalgias de velhos impérios e, na génese, dos princípios do Estado Novo (“os tais tempos de antes dos 50 anos que agora se vituperam…”). O ódio às conquistas do 25 de Abril exige, para eles, ajuste de contas (a campanha contra a disciplina de Cidadania é apenas a face mais soft desse movimento)…

Explicar hoje a muitos portugueses (os desinformados e iludidos pela propaganda venenosa) que estamos a falar do bolor da História recente está a tornar-se tarefa bem difícil. Mas não pode ser mais uma tarefa adiada: a escalada de violência declaradamente fascista que se tem verificado nos últimos dias em vários palcos, com acções que parecem coordenadas entre si e que visam órgãos de soberania, comemorações nacionais e outros actos públicos, funcionários que prestam serviços sociais (no Porto) e, no limite, artistas e agentes da cultura (o actor Adérito Lopes e A Barraca), é de uma gravidade inaudita.

Nenhum regime pode subsistir se não puser, acima do respeito pela sã pluralidade de opiniões, a defesa da democracia. Porque não se trata de meras “opiniões”. A resposta tem de ser inequívoca, célere e eficaz nas suas respostas: investigar, prender, punir os elementos envolvidos e, mais ainda, erradicar e ilegalizar os movimentos e grupúsculos envolvidos (os quais, aliás, até deixam orgulhosa marca das suas acções).

Sabemos quem são, estão sinalizados e identificados: de que se espera, pois, para fazer cumprir a Constituição da República e começar a desmantelar as fontes que semeiam a “cultura” de ódio na sociedade portuguesa?

Vítor Serrão, Santarém

Neonazis atacam a cultura

A violência da extrema-direita neonazi/fascista há muito que está cá instalada. Relembremos o bárbaro e cobarde assassinato do concidadão Alcindo Monteiro, vítima de ódio racial, cujos autores não foram, na íntegra, exemplarmente punidos judicialmente…

Este desgoverno de direita extremada retirou do Relatório Anual de Segurança Interna tudo o que respeitava a grupos marginais odiosos, violentos, racistas, xenófobos – terroristas com rastos de sangue. Omitiu porquê? Que esperavam? Aconteceu no Teatro A Barraca, com violentas agressões, com a imprensa a referir que um destes agressores é um criminoso condenado pela morte de Alcindo Monteiro e, aqui, a Justiça não pode ser lenta, nem branda, nem piedosa. Máxima solidariedade para com A Barraca!

“Quando me falam em cultura, puxo logo pela pistola!”, disse Goebbels, ministro nazi da Propaganda. O silêncio ensurdecedor de Montenegro sobre esta matéria é elucidativo e faz sentido, pela gravíssima omissão no RASI, acima descrita. (…)

Vítor Colaço Santos, São João das Lampas

A instrumentalização de uma causa justa

Na segunda-feira, participei na manifestação contra a ignóbil, ilegal e desumana ocupação de Gaza por Israel, em Lisboa. Chegados os discursos dos organizadores e outros participantes, percebi que a motivação destes (não contestada pelos demais manifestantes) era bem mais lata do que a denúncia do genocídio dos palestinianos. Além da defesa de uma “Palestina do rio até ao mar” — o que implicaria a opressão de Israel pela Palestina —, as críticas alargaram-se aos EUA, à União Europeia, ao capitalismo, ao racismo… Uma oradora afirmou que “a União Europeia não é mais do que branquitude e dinheiro”, o que resume bem o que estou a tentar explicar.

Se é certo que os governos ocidentais, começando pelo português, devem ser severamente criticados pela inacção face à tragédia em Gaza (comparando, por exemplo, com o justo apoio à Ucrânia), não é menos certo que são as sociedades capitalistas ocidentais as que mais valorizam e protegem os direitos humanos. Misturar o tema da manifestação com agendas laterais apenas denota que não é a causa palestiniana que move estes activistas. Ela é uma arma de arremesso contra o modelo de sociedade que mais prosperidade, justiça e humanismo trouxe até hoje.

Tomás Júdice, Lisboa

#Cartas #director #Opinião

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