A logística do extermínio
O extermínio da população civil de Gaza tem sido levado a cabo de forma exemplar por Israel. A última iteração do modelo de genocídio envolve uma fundação criada para distribuir ajuda humanitária em Gaza. O método consiste em atrair a população faminta até um local de distribuição de alimentos e depois disparar sobre homens, mulheres e crianças. O exército israelita já matou mais de 400 palestinianos desta forma.
Previamente, vimos como os palestinianos de Gaza eram concentrados em campos de refugiados. Os bombardeamentos israelitas depois incineravam aquelas tendas prenhas de gente. Também não nos esqueçamos do “Where’s Daddy”, uma quimera macabra, parte inteligência artificial, parte vigilância electrónica, que permite localizar os “terroristas” em casa e bombardear famílias inteiras. Outra vez o extermínio tecnologicamente exemplar de homens, mulheres e crianças.
O capitalismo tecnológico — que Israel tão bem encarna — ao serviço do colonialismo — que Israel tão bem encarna — produz perfeições logísticas monstruosas. Outros holocaustos foram também logisticamente exemplares.
João Bettencourt, Estocolmo
Qual é a potência nuclear mais perigosa do Médio Oriente?
O Irão “não pode” desenvolver o seu programa nuclear, regularmente inspeccionado pela Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). Israel, que tem um programa nuclear secreto que obviamente a AIEA não supervisiona, pode! As chamadas “democracias do Ocidente”, incluindo as da União Europeia, fecham os olhos e ajoelham-se perante Netanyahu, que, pelos vistos, faz o que quer e ainda leva aplausos. Todas elas condenam o regime iraniano, uma ditadura baseada na religião islâmica, mas da ditadura israelita baseada na superioridade rácica dos judeus sobre os povos árabes — um regime de apartheid definido como tal por diversas organizações, entre elas a Amnistia Internacional — nem uma palavra de condenação ou crítica!
O regime genocida e opressor de Israel é entronizado como a “democracia” por excelência do Médio Oriente. No entanto, este é o único país da região que, em segredo e fugindo a qualquer escrutínio internacional, continua a desenvolver um arsenal nuclear! Segundo notícia da Newsportu de 13 de Março de 2024, “especialistas suspeitam de que Israel tenha cerca de 90 armas nucleares”. Armas e não equipamentos de energia nuclear para fins civis! Se, um dia, Israel lançar uma bomba atómica sobre algum dos países que considera como “inimigos” (Líbano, Síria, Irão, etc.), as democracias do Ocidente continuarão a aplaudir?
Ana Paula Amaral, Barreiro
O rebanho
Com aquele rigor na apresentação de soluções para salvar a América, que quer ser grande outra vez, Trump reclama há muito que se importe menos, seja azeite ou carros, e se venda mais, nomeadamente armas. Como aderir ao negócio da morte não é muito popular, é preciso um marketing agressivo que fomente nova clientela. Nada melhor para isso do que usar a NATO e o seu fã Mark Rutte como ponta de lança para expandir o negócio.
E, assim, a UE, que reconhece ser necessário tornar-se autónoma em relação aos EUA definindo a sua própria estratégia de Defesa, acaba por criar um pacote Rearm Europe de créditos de 800 mil milhões, sem que antes se trace uma cadeia de comando europeia, sem que se identifiquem as necessidades que dependerão dos países que aderirem, etc. O que interessa, como bem resumiu Trump, é que se gaste em “GRANDE”, muito dinheiro em armas.
Fala-se em 5%, que para Portugal seriam “só” 14 mil milhões de euros, por ano! É uma oportunidade de lançar uma indústria de defesa, diz Montenegro, entusiasmado; e até nem será declarado nas contas a apresentar a Bruxelas, podendo ser dívidas “invisíveis” na contabilidade, mas que alguém vai pagar. Imaginem quem.
E, assim, os dirigentes europeus, com a honrosa excepção de Espanha, mais se assemelham a um rebanho de ovelhas dirigido por um pastor bêbado, que resignadamente se submetem à sua sorte; e quando são tratadas como irrelevantes nos negócios internacionais é que as ovelhas, num derradeiro assomo de dignidade, se dizem ofendidas.
José Cavalheiro, Matosinhos
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