A guerra como nutriente existencial
Criado para garantir o direito dos judeus a uma existência digna, o Estado de Israel tem vindo crescentemente a demonstrar ao mundo que se alimenta de guerra e, principalmente, das guerras que provoca e que diz serem necessárias para a sua sobrevivência. Esta atitude, associada a uma vitimização desrespeitadora do passado de sofrimento de milhões de judeus, tem servido de justificação dos crimes mais hediondos contra os palestinianos: a deslocação forçada das suas casas e terras, a colonização, o apartheid, os massacres, actualmente diários, as prisões arbitrárias, a tortura de presos, a destruição de casas, o uso de ajuda humanitária como instrumento de morte, o assassinato de famintos enquanto aguardam comida, o extermínio…
Percebe-se de forma cada vez mais clara que Israel não quer a paz, nem nunca a quis. A paz limitaria os seus desígnios territoriais. Para conseguir alcançá-los, precisa de guerra, dela se alimenta e com ela se expande. A paz intermitente constitui um mero intervalo de preparação para a guerra. Acabar com o Hamas e com o que este representa? Israel sabe que não é possível, nem lhe interessa; interessa-lhe, sim, garantir o estado de guerra.
Haverá saída para esta situação? Sim, cumprindo-se as decisões da ONU. Mas quem as fará cumprir? A ONU? Como, se é, como se vê, uma inexistência? Os EUA? Como, se são eles os principais promotores da desordem internacional? A UE? Balbuciando que “Israel tem direito à sua defesa”?… E, assim, Israel vai tendo o caminho livre para a conquista e ocupação do “seu” “espaço vital”: Gaza, Cisjordânia, Líbano, Síria… e o que mais se verá.
Luís Pardal, Lisboa
RTP – o serviço necessário
A RTP, se é paga com dinheiro público, deve prestar serviço público, independentemente dos shares apresentados. Estes até podem ser baixos para a estação pública, mas também é preciso analisar a qualidade das escolhas dos telespectadores dos canais concorrentes. Tem-se constatado que aqueles preferem o sensacionalismo, a mediatização novelística (com algum sangue, de preferência), os shows fúteis, os ecrãs atulhados de comentadores dos ziguezagues da bola. Ora, não é este o alinhamento que se pretende formativo e esclarecedor. Será esta a alternativa para ganhar audiências? Poderá resultar para uns, mas fracassar para muitos mais, com a agravante de termos já disso noutros serviços. Ou seja, as alternativas para os telespectadores reduzir-se-iam, deparando-se estes com mais do mesmo em todos os tubes. Certamente, há profissionais que sabem como harmonizar a informação isenta e o entretenimento apelativo, formativo, cultural, entusiasmante, mas sóbrio. Mas têm de agir com independência.
José M. Carvalho, Chaves
Futebol de luto
Certamente que sou mais um dos milhares de adeptos de futebol que lamentam a morte prematura do internacional português Diogo Jota e do irmão André Silva, que perderam a vida num brutal acidente de viação em Zamora, Espanha. (…) Acima de serem figuras públicas, ligadas ao mundo do desporto-rei, são também filhos, pais e amigos que nos deixam e que choramos, não olhando a cores futebolísticas, nem à sua proveniência. O futebol português está de luto e as palavras são poucas. Paz às suas almas.
Mário da Silva Jesus, Odivelas
Desarr‘anjos’
Aqui vão dois ângulos que me parecem até agora não terem sido explorados ou, quiçá, abordados ao de leve acerca da querela judicial entre os cantores e a humorista. Primeiro, a ação movida pelos cantores é deveras legítima, pois a tutela dos direitos fundamentais das pessoas encontra na sala de audiências um palco solene e de excelência pelo rigor e regras antecipadamente conhecidas pelas partes, que podem debater assim em pé de igualdade. Outra questão é a qualidade dos operadores judiciários, que tem vindo a decair, e diante da pretensão dos Anjos apenas declaro de modo abstrato que não tenho dúvidas de que a liberdade de humor tem de fulminar a pimbalhada musical. Se esta não tivesse tanto palco mediático em Portugal, que deveria ser ocupado desde os Raveis e Saties até aos Coldplays e Sobrais desta vida, não se estava a discutir banalidades (este é o segundo ângulo).
Emanuel Carvalho, Lisboa
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